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terça-feira, 12 de maio de 2009

HISTÓRIA DE LISBOA

Lisboa é uma das mais antigas cidades da Europa, tendo sido fundada há mais de três milénios। É juntamente com Setúbal, Alcácer do Sal e algumas cidades do Algarve a mais antiga de Portugal e também a segunda mais velha capital da União Europeia, após Atenas, mais antiga por quatro séculos que Roma. A sua história circula à volta da sua posição estratégica na foz do maior rio da Península Ibérica, o Tejo; do seu porto natural ser o melhor para o reabastecimento dos barcos que fazem o comércio entre o Mar do Norte e o Mediterrâneo; além da sua proximidade no extremo Sul e Ocidente da Europa, com os novos continentes da África Subsahariana e da América. Índice [esconder] 1 Pré-história 2 Alis Ubbo: A fundação fenícia 3 Olissipo: Lisboa romana 4 As Invasões e os Germanos 5 Al-Ushbuna: Lisboa muçulmana 6 Cruzadas: Portugal conquista Lisboa 7 Revolução 8 Lisboa, a Senhora dos Mares 9 Domínio Filipino 10 O Ouro do Brasil 11 Século das Luzes 12 Guerra Civil: Liberais e Conservadores 13 Lisboa entre a Europa e a África 14 A Revolução de 1910 15 República 16 Lisboa após o 25 de Abril de 1974 17 Referências 18 Ver também [editar] Pré-história Existem vestígios de ocupação humana na área que hoje é Lisboa de há muitos milhares de anos, atraídos pela proximidade do rio Tejo. Os primeiros habitantes humanos da região teriam sido os Neandertais, extintos há cerca de 30.000 anos pela chegada à Península do Homem moderno. Durante o período Neolítico, os povos Iberos da região construiram os megalitos de função religiosa, tal como os restantes povos da Europa Atlântica: dólmenes, menires e cromeleques terão sido comuns, e alguns ainda sobrevivem hoje na zona. [editar] Alis Ubbo: A fundação fenícia Situação de Lisboa na margem norte do Mar da Palha, à direita. O Atlântico fica para a esquerdaDiz a lenda popular e romântica que a cidade de Lisboa foi fundada pelo herói mítico Ulisses. Recentemente foram feitas descobertas arqueológicas perto do Castelo de São Jorge e da Sé de Lisboa que comprovam que a cidade terá sido fundada pelos Fenícios cerca de 1200 a.C.. Nessa época os fenícios viajavam até às Ilhas Scilly e à Cornualha, na Grã-Bretanha, para comprar estanho aos nativos. O Mar da Palha ou estuário do Tejo é o melhor porto natural do percurso e o rio uma importante via para as trocas de alimentos e metais com as tribos do interior, tendo sido, talvez precisamente por isso, fundada a colónia chamada Alis Ubbo, que na língua fenícia significa "porto seguro" ou "enseada amena" (sendo provavelmente afilhada da grande cidade de Tiro, actualmente no Líbano). A colónia estendia-se desde a colina onde hoje se situam o Castelo e a Sé, até ao rio, que chamavam Daghi ou Taghi (que significa "boa pescaria" em fenício).[carece de fontes?] Com o desenvolvimento de Cartago, também ela uma colónia fenícia, o controlo de Alis Ubbo passou para essa cidade. Durante séculos, fenícios e cartagineses terão desenvolvido a cidade a partir do que foi um simples entreposto comercial para o comércio nos mares do Norte, para um importante mercado onde eram trocados os seus produtos manufacturados pelos metais, peixe salgado e sal da região e das tribos contactadas pela via fluvial do Tejo. Os cavalos, antepassados dos actuais cavalos lusitanos, já eram então famosos no Mediterrâneo pela sua velocidade, tendo Plínio afirmado que as éguas do Tejo deveriam ser fecundadas pelo vento. Os primeiros judeus chegaram sem dúvida com os Fenícios, seus vizinhos. O Hebreu é praticamente idêntico ao Fenício e era raro o barco fenício que não levava mercadores ou sócios da Judeia.[carece de fontes?] Com a chegada dos Celtas, estes misturaram-se com os Iberos locais, dando origem às tribos de língua Celta da região, os Conni e os Cempsi.[carece de fontes?] Os antigos Gregos tiveram provavelmente na foz do Tejo um posto de comércio durante algum tempo, mas os seus conflitos com os Cartagineses por todo o Mediterrâneo levaram sem dúvida ao seu abandono devido ao maior poderio de Cartago na região nessa época. Por outro lado, o sufixo "ippo" (ipo) é caracteristico de áreas de influência tartéssica ou turdetana.[1] [2] Os deuses Aracus, Carneus, Bandiarbariaicus e Coniumbricenses eram venerados em "Lisboa" na época pré-romana, pelos Túrdulos da região.[3] [4] [editar] Olissipo: Lisboa romana Ver artigo principal: Olissipo Olissipo situava-se na província romana da Lusitânia.Olissipo aliou-se aos Romanos quando estes, liderados por Decimus Junius Brutus, procuraram conquistar os Lusitanos e outros povos do Noroeste Peninsular. Os habitantes da cidade lutaram ao lado das Legiões contra estas tribos célticas. Em troca foi-lhes reconhecido o título de cidadãos romanos e à cidade ampla autonomia como Município Romano. Foi incluida na província da Lusitânia, encabeçada por Emerita Augusta. A cidade situava-se entre a colina do Castelo e a Baixa, mas as zonas mais ribeirinhas estavam nesse tempo ainda submersas pelo Tejo. Olissipo no tempo romano foi uma importante praça comercial, estabelecendo a ligação entre as províncias do Norte e o Mediterrâneo. Os seus principais produtos eram o garum, um molho de peixe de luxo; o sal e os famosos cavalos lusitanos. A cidade foi um dos principais centros da introdução e desenvolvimento do Cristianismo na Peninsula Ibérica. O primeiro Bispo foi São Gens de Lisboa. [editar] As Invasões e os Germanos Reino dos Visigodos antes da Conquista do Reino dos SuevosA degeneração do Império, e a feudalização da sociedade romana levaram às primeiras invasões dos povos Germanos, Hunos e outros. Inicialmente aceites como colonos nas terras desertificadas pelas epidemias terriveis que mataram grande parte da população da época (provavelmente de Sarampo e Varíola), transformaram-se depressa em expedições militares com objectivos de saque e conquista. No início do século V os Vândalos (que depois se retiram para o Norte de África) tomam Olissipo, seguidos dos Alanos. Em 419 Olissipo foi saqueada e queimada pelos Godos do Rei tribal Walia, Remismundo conquistou Lisboa em 468 com a ajuda de um hispano-romano de Lisboa chamado Lusidius, e finalmente em 469 é integrada no Reino Suevo cuja capital era Braga. Após a invasão dos Visigodos, estes estabelecem-se em Toledo e após várias guerras durante o século VI, conquistam os Suevos, unificando a Peninsula Ibérica, incluindo a cidade que chamavam Ulishbona. Durante esta época conturbada, Lisboa perde as ligações políticas com Constantinopla, mas não as comerciais. Mercadores Gregos, Sírios, Judeus e outros, vindos do Oriente, formam comunidades que trocam os produtos locais com os do Império Bizantino, Ásia e Índia. [editar] Al-Ushbuna: Lisboa muçulmana Após três séculos de saques, pilhagens e perda de dinâmica comercial, Ulishbuna seria pouco mais que uma vila no início do século VII. É nesta altura que, aproveitando uma guerra civil do Reino Hispânico Visigótico, que os árabes liderados por Tariq invadem a Peninsula Ibérica com as suas tropas mouriscas, em 711. Olishbuna foi conquistada pelas tropas de Abdelaziz ibn Musa, um dos filhos de Tariq, assim como o resto do Ocidente. Mais uma vez Lisboa, conhecida pelos árabes como al-Ushbuna, torna-se um grande centro administrativo e comercial para as terras junto ao Tejo, recolhendo os seus produtos e trocando-os por produtos do Mediterrâneo Árabe, particularmente Marrocos, Tunísia, Egipto, Síria e Iraque. Segundo as estimativas actuais a cidade teria no seu apogeu, no século X, mais de 100.000 habitantes, e com Constantinopla, Salónica, Córdova e Sevilha, seria uma das maiores cidades da Europa, muitas vezes maior que Paris e Londres, que em plena Idade Média teriam apenas 5-10.000 habitantes. A maioria dos habitantes converte-se à língua árabe e religião muçulmana da minoria invasora que se instala como elite. A população cristã , Moçárabe, com o seu próprio Bispo segue o rito moçárabe de tradições visigoticas, falantes do árabe ou de uma variedade de Latim vulgar,o moçárabe, romance semelhante ao falado na Galiza e províncias do Norte, é tolerada na qualidade de de dhimmi em troca de imposto, o jizyah. Esta comunidade moçárabe que seguia ritos e costumes cristãos visigoticos é muitas vezes rejeitada quando entra em contacto com os católicos. Foram os moçárabes que levaram para Lisboa os restos de São Vicente, que se tornaria o padroeiro da cidade. A comunidade Judaica, já existente desde a fundação da cidade pelos Fenícios, é grandemente reforçada pelos Judeus que aí se estabelecem como mercadores e financeiros, aproveitando a elevação da cidade a núcleo comercial proeminente. Além do sal, peixe e cavalos, negociavam-se as especiarias vindas do Levante, as plantas medicinais, os frutos secos, mel e peles. Os Saqaliba passam a integrar a população e a ter uma posição de destaque. O eslavo Sabur al-Saqlabi torna-se, durante o que foi conhecido por regulo eslavo, governante da taifa de Badajoz, e os seus filhos Abd al-Aziz ibn Sabur e Abd al-Malik ibn Sabur governantes da taifa de Lisboa. Al-Ushbuna é renovada e reconstruída de acordo com os padrões do Médio Oriente: uma grande mesquita, um castelo no topo do monte (que de forma modificada se transformou no Castelo de São Jorge), um palácio para o Governador ou (alcáçova), uma almedina ou centro urbano e um alcácer. O bairro de Alfama cresce ao lado do núcleo urbano original. A cidadela de al-Madan, a actual Almada é fundada na margem Sul do rio para proteger a cidade. Os Árabes e Berberes introduzem nos arredores da cidade a sua agricultura irrigada, que é muito mais produtiva que os métodos de sequeiro anteriores. As águas do Tejo e seus afluentes são usadas para irrigar a terra no Verão, produzindo várias colheitas por ano e vegetais como alfaces e frutos como as laranjas. Politicamente, de início, a cidade faz parte do Califado Omíada de Damasco, Síria. Consta das crónicas uma grande rebelião dos Berberes ou "Mouros" frente à elite dos Árabes da Arábia em 740, que precisou de reforços do Califado para ser suprimida. A cidade está depois sujeita ao Califado de Córdova, no qual os sobreviventes Omíadas ganham a independência do novo Califado Egípcio dos Abássidas. Com o início da Reconquista, a opulenta al-Ushbuna é um alvo dos raides cristãos, que saqueiam a cidade primeiramente em 796 e por outras ocasiões nos anos seguintes, liderados pelo Rei Afonso II das Astúrias, mas a fronteira permanece a norte do Douro. Em 844 várias dezenas de barcos dos Vikings surgem no Mar da Palha, e os Escandinavos estabelecem o cerco, conquistam a cidade e os campos à volta,onde ficam durante 13 dias [5] . Mas os Vikings acabariam por partir face à resistência continuada dos habitantes da cidade liderados por Alah ibn Hazme. No início do Século X surgem em al-Ushbuna várias seitas islmâmicas de conversos da população hispânica. Estas seitas são formas de organização política com que os autoctónes se revoltam contra os obstáculos postos na sua ascensão social por um sistema hierárquico em que primeiro vinha a pequena elite de descendentes do profeta Maomé, depois os Árabes de sangue puro, a seguir Berberes ou Mouros e só depois os Latinos arabizados e muçulmanos. Vários líderes Latinos surgem, como Ali ibn Ashra e outros, que se declaram Profetas ou descendentes de Ali (xiitas) que com aliados em outras cidades iniciam guerras civis com as tropas árabes sunitas. Os moçárabes eram tratados ainda de forma pior, assim como os Judeus, sofrendo por vezes perseguições que, apesar de lamentáveis aos olhos modernos, eram uma pálida imagem do que fariam os católicos contra não só muçulmanos e judeus, mas mesmo contra os próprios cristãos não católicos das terras reconquistadas. Novo ataque Viking seguir-se-ia sem sucesso em 966. O Rei Ordonho I das Astúrias pilharia a cidade novamente em meados do século IX, assim como Afonso VI de Leão em 1093, que a reteve no seu Reino de Leão por dois anos, após conquistar a cidade de al-Santaryn ou Santarém. Com a fragmentação do Califado de Córdova por volta do ano 1000 com as lutas intestinas, os notáveis de al-Ushbuna oscilam entre a obediência à Taifa de Badajoz ou à de Sevilha, conseguindo manobrar de forma a obter uma autonomia considerável. No entanto em 1111 um novo Califado pan-hispânico é estabelecido pela invasão a partir dos desertos de Marrocos dos Almorávidas liderados por Ali ibn Yusuf, cujas tropas são travadas apenas na região de Tomar por Gualdim Pais. Este dura pouco tempo até que regressam os tempos da divisão das Taifas e da autonomia e prosperidade de al-Ushbuna. [editar] Cruzadas: Portugal conquista Lisboa Ver artigo principal: Cerco de Lisboa (1147) Enquanto se fragmentavam as Taifas islâmicas do Sul, no Norte secedia o Condado Portucalense do Reino de Leão, já em plena Reconquista da Península Ibérica. Apesar de baseado em Guimarães, a força económica que permitia a autonomia do Condado Portucalense estava na cidade do Porto (Portucale ou porto da cidade de Cale, a actual Gaia). É interessante pensar como foi o novo Reino, centrado no dinamismo comercial da jovem cidade de mercadores do Porto, que usufruía de uma posição e importância semelhantes na foz do segundo maior rio da Península Ibérica, o rio Douro, como Lisboa no rio Tejo, que acabaria por conquistar essa venerável cidade. Afonso HenriquesFamosa e opulenta, a cidade daria reino bastante prestígio. A primeira tentativa de Afonso de conquistar al-Ushbuna deu-se em 1137 e fracassou frente às muralhas da cidade. Em 1140 aproveita os cruzados que passavam por Portugal para novo ataque que novamente falha. Só em Junho e Julho de 1147, com a ajuda de uma força mais numerosa de cruzados, cerca de 164 barcos cheios de homens, consegue ser bem sucedido. Enquanto as suas forças portuguesas atacavam pela terra, os cruzados na sua maioria ingleses e normandos, aliciados pelas promessas de pilhagem livre, montaram as suas máquinas de cerco, como catapultas e torres, e atacavam simultaneamente pelo mar e impediam a chegada de reforços vindos do sul. No primeiros encontros os muçulmanos vencem os cristãos matando muitos, e a moral dos cruzados fica afectada, ocorrendo vários conflitos sangrentos entre os vários grupos de cristãos. Cruzados com Máquinas de GuerraConta a lenda que, após muitas tentativas, uma das portas é arrombada e o português Martim Moniz consegue mantê-la aberta com o próprio corpo permitindo que os seus companheiros entrassem, ainda que morrendo esmagado por ela. Mais provavelmente com a ajuda das máquinas de sítio, as muralhas são ultrapassadas, em 23 de Outubro de 1147. Segundo Osbernus[6], depois de entrarem na cidade, os colonienses e os flamengos não respeitam o juramento nem palavra dada ao rei de Portugal e saqueiam a cidade, actuam sem respeito contra as donzelas e cortam o pescoço ao bispo da cidade. Depois da conquista da cidade, uma epidemia de peste dizima milhares de vidas entre os moçarabes e muçulmanos [7]. Dom Afonso Henriques toma posse oficialmente da cidade no dia 1 de Novembro, quando numa cerimónia religiosa, manda transformar a grande mesquita de sete cúpulas, a Aljama, em Sé Catedral. O Bispo é Gilbert de Hastings, um cruzado inglês, e a muitos dos cruzados mais proeminentes são doadas terras da região e títulos. Santo António nasce em 1195 na cidade com o nome de Fernando de Bulhões. A Sé Românica de LisboaO Rei daria o Foral em 1179, e tentaria recuperar as ligações comerciais da cidade inaugurando uma grande nova feira ou mercado. O resultado destes esforços é que os mercadores Portugueses Cristãos ou Judeus não só retomam algumas ligações comerciais da antiga al-Ushbuna, como na Andaluzia (Sevilha e Cádiz), e no Mediterrâneo, até Constantinopla, como abrem-se novas vias para os portos da Europa do Norte, que os muçulmanos raramente visitavam devido às diferenças ideológicas. De facto a primeira vocação da Lisboa Medieval Cristã é a mais uma vez a mediação do comércio entre o Mar do Norte e o Mediterrâneo, mas graças aos avanços na navegação oceânica os volumes são cada vez maiores. Casas de mercadores Portugueses abrem em Sevilha, Southampton, Bruges e nas cidades da Hansa, e os Judeus Portugueses continuam a comerciar com os seus primos no Norte de África. Trocam-se as especiarias, sedas e mezinhas mediterrâneas; ouro, marfim, arroz, alúmen, amêndoas e açúcar comprados aos Árabes e Mouros; juntamente com o azeite, sal, vinho, cortiça, mel e cera Portuguesas com os texteis de lã ou linho finos, estanho, ferro, corantes, âmbar, armas, peles e produtos artesanais do Norte. São fundados estaleiros para a construção de mais barcos comerciais e militares, cuja Armada é essencial na protecção do comércio contra os piratas sarracenos. Para responder à crescente demanda pelas populações cada vez maiores da Europa no Século XII e Século XIII, são estimuladas as inovações na construção dos barcos, que da barca forte mas tosca passam, numa síntese de saber cristão, viking e árabe, para a caravela (primeira referência em 1226), o primeiro verdadeiro navio atlântico. Às profissões ligadas à navegação, como carpinteiros e marinheiros, são dados privilégios e protecção, incluindo a criação em Lisboa de um Juiz próprio, o Alcaide do Mar (1242). Um efeito indirecto de todo este dinamismo de Lisboa é a ruína dos comerciantes germânicos, que faziam o mesmo comércio por ter (uma rota mais dispendiosa mas a única possível quando os navios muçulmanos e os seus piratas controlavam o sul de Espanha e o estreito de Gibraltar) entre os Países Baixos e a Hansa e a Itália e os seus portos. O Sacro Império Romano-Germânico perde influência sobre os seus reinos, ducados e cidades-estado constituintes, e os mercadores alemães, até aí senhores do comércio Europeu, são forçados a procurar novos mercados a oriente. No seguimento desta prosperidade, e com o aumento de segurança em Lisboa com a conquista definitiva dos Algarves no século XIII, em 1256 Afonso III de Portugal constata o óbvio e escolhe a maior e mais vigorosa cidade do seu Reino para Capital, movendo para aí a Corte, os Arquivos e a Tesouraria (que estavam em Coimbra). Dom Dinis, o primeiro Rei a presidir todo o seu reinado em Lisboa, cria aí a Universidade em 1290, que transfere para Coimbra em 1308 apenas devido aos conflitos crescentes dos estudantes com os lisboetas. É nesta altura que a zona onde hoje está o Terreiro do Paço é reclamada ao mar, através de drenagens do terreno já lamacento (era rio livre até ao tempo da conquista, mas sedimentou devido aos depósitos do rio). Novas ruas são desenhadas, como a Rua Nova, e o Rossio torna-se pela primeira vez centro da cidade, roubando essa distinção à colina do Castelo. Outras construções de Dom Dinis foram uma muralha frente novo Cais da Ribeira contra os piratas, e renovações do Palácio Árabe (a Alcáçova, destruída no Terramoto de 1755) e da Sé. Além das colónias de Portugueses nas cidades do Norte da Europa, colónias de mercadores do resto da Europa estabelecem-se em Lisboa, uma das mais importantes cidades do comércio internacional. Sem contar com os Judeus (que já existiam como Portugueses), os Genoveses são os mais numerosos, acompanhados de Venezianos e outros Italianos, além de Holandeses e Ingleses. Estes mercadores trazem para Portugal novas técnicas cartográficas e de navegação, além de técnicas bancárias, financeiras e outras conhecidas como o sistema do Mercantilismo, além de conhecimentos das origens Asiáticas dos produtos de luxo como as sedas e especiarias, que trazem do Oriente Bizantino e Islâmico. Politicamente as tensões com Castela são contrabalançadas com uma Aliança assinada em 1308, que perdurou ininterruptamente até hoje, com o principal parceiro comercial de Lisboa (e também do Porto), a Inglaterra. A aliança forma um dos dois lados da Guerra dos cem anos, no outro lado estão além de Castela a França. No tempo de Fernando de Portugal inicia-se uma guerra com Castela, e os barcos lisboetas com canhões são recrutados assim como os Genoveses num ataque mal-sucedido a Sevilha. Em resposta os castelhanos põem cerco a Lisboa, tomando-a em 1373, mas são pagos para se retirarem. É no seguimento deste desastre que são construídas as Grandes Muralhas Fernandinas de Lisboa. Socialmente em baixo viviam todo o tipo de jornaleiros e mercadores de rua, além dos pescadores e dos agricultores das hortas de vegetais. São desta época as várias Ruas dos ofícios, nas quais se organizavam as corporações dos mesteriais, dirigidos pelos Mestres: Rua do Ouro (ourives); Rua da Prata (joalheiros de pratas); Rua dos Fanqueiros; Rua dos Sapateiros; Rua dos Retroseiros e Rua dos Correeiros. Estas corporações educavam os aprendizes e tinham sistemas de protecção social e controlo dos preços que beneficiavam os seus membros. A aristocracia, atraída pela corte, estabelecia-se construindo grandes palácios, e desempenhava funções burocráticas. Mas a mais importante classe social de Lisboa, mesmo após o ganho de funções políticas enquanto capital, era a dos mercadores, a burguesia que era a força deste núcleo comercial que era dos mais importantes da Europa. São os magnatas do comércio que controlam a cidade e o seu Concelho oligárquico. É devido às necessidades destes que se organizam na cidade os profissionais: banqueiros para coordenar os riscos; homens das Leis para proteger e manipular os seus direitos legais; especialistas e cientistas para construir os seus barcos e instrumentos de navegação. Com a sua influência, conseguem extrair da Monarquia medidas mercantilistas que os favorecem, e são o grande impulso à exploração de novos mercados. A Companhia das Naus é fundada, uma verdadeira companhia de seguros, que exige pagamento de cotas obrigatórias de todos os armadores em troca da partilha de perdas após naufrágios, organizando os mais de quinhentos grandes navios dos magnatas da cidade. Com os crescentes lucros, os mercadores mais ricos adquirem títulos de nobreza, enquanto os fidalgos mais pobres se dedicam ao comércio. Entre as minorias, contavam-se as dos Judeus e dos Muçulmanos (não só mouros mas também árabes e latinos islâmizados de língua árabe). Havia uma grande Judiaria que ocupava as freguesias de Santa Maria Madalena, São Julião e São Nicolau, na Rua Nova e dos Mercadores (onde ficava a Grande Sinagoga). Os Judeus (talvez 10% da população, ou mesmo mais) são grandes comerciantes, com ligações aos seus correligionários por toda a Europa, Norte de África e Médio Oriente, e os que não praticam o comércio constituem grande parte dos letrados, como médicos, advogados, cartógrafos e especialistas nas ciências ou artes. A sua actividade é fundamental para a vitalidade da economia da cidade. Entres Judeus Sefarditas de Lisboa contam-se grandes nomes como os Abravanel. No entanto são forçados a viver separadamente, proibidos de sair à noite, obrigados a usar distintivos nas vestes e pagam impostos extra, além de serem sempre as primeiras vítimas em situações de revolta popular. A Mouraria era o gueto correspondente para os muçulmanos, contendo a Grande Mesquita, situada na Rua do Capelão. Contudo não eram prósperos e educados como os Judeus, já que as elites muçulmanas tinham fugido para o Norte de África, enquanto os Judeus letrados falantes de Português não tinham outra Pátria. A maioria eram trabalhadores de baixo nível de qualificações com salários baixos, e muitos eram escravos de cristãos. Também eles tinham de usar símbolos nas vestes e pagar impostos extra, e sofriam as violências das multidões. O termo saloio provém do imposto especial que pagavam os muçulmanos que cultivavam as hortas nos limites da cidade, o salaio; assim como o termo alfacinha vem do cultivo desses vegetais pelos árabes, então pouco consumidos no Norte. No entanto a prosperidade da cidade viria a ser interrompida. Em 1290 ocorre o primeiro grande terramoto histórico, morrendo milhares de pessoas e desmoronando-se muitos edifícios. Novos terramotos registam-se em 1318, 1321, 1334, 1337 e um grande em 1344 que destrói parte da Sé e da Alcáçova, em 1346, 1356 (destrói outra porção da Sé), 1366, 1395 e 1404 possivelmente todos resultantes de reajustamentos na mesma falha. A fome surge em 1333 e em 1348 surge pela primeira vez a Peste Negra, que terá morto metade da população, com novos surtos de menor mortandade em cada década, à medida que nasciam mais pessoas susceptíveis. Estas catástrofes destruíram em Lisboa como na restante Europa a Civilização vibrante da Baixa Idade Média, com as suas catedrais e o seu espírito de Cristandade universal, mas prepararam o caminho para o surgimento da nova Civilização dos Descobrimentos e do novo espírito científico. [editar] Revolução Ver artigo principal: Cerco de Lisboa (1384) Na Batalha de Aljubarrota a nova elite burguesa de Lisboa derrotou a velha aristocracia feudal de Portucale e o seu aliado, Castela.O novo capítulo da história de Lisboa nasce com a grande revolução da Crise de 1383-85. Após a morte de Fernando de Portugal, o Reino passaria para o Rei de Castela, João I de Castela. Os grandes aristocratas e clérigos do Norte, possuidores de grandes propriedades no Sul que adquiriram após a Reconquista, tinham interesses e cultura semelhantes às dos Castelhanos com enfâse nas distinções sociais baseadas na possessão da terra, no espírito de cruzada contra os Mouros no Norte de África, e nos benefícios da união de toda a Hispânia. Contudo não são esses os interesses dos mercadores de Lisboa (muitos dos quais pequenos fidalgos). Para Lisboa, a união com Castela significaria uma diluição das ligações comerciais com a Inglaterra e o Norte, e também com o Médio Oriente; além de um desvio de atenções dos privilégios aos mercadores e da contrução de barcos comerciais e de guerra, para os exércitos terrestres e os privilégios aos Nobres. É por isso que os mercadores e pequenos fidalgos mercantes apoiavam inicialmente o Mestre de Avis, D. João. A guerra de 1383 é no fundo uma guerra entre a Aristocracia conservadora católica e medieval, muito semelhante e ligada às suas congéneres Galega e Castelhana, do antigo Condado Portucalense centrado no Minho, e os mercadores ricos e pluralistas de Lisboa. Os nobres do Norte tinham fundado e conquistado o país e para eles o domínio crescente de Lisboa ameaçava a sua supremacia enquanto a aliança com os nobres Castelhanos a restabelecia. Para Lisboa, uma cidade do comércio, as práticas feudais e as guerras terrestres dos Castelhanos eram um risco para os seus negócios. São os burgueses que ganham a luta, com as suas ligações inglesas e capitais avultados: o Mestre de Avis é aclamado João I de Portugal, vencendo o cerco de Lisboa de 1384, e a Batalha de Aljubarrota sob liderança de Nun'Álvares Pereira em 1385 contra as forças de Castela e dos fidalgos do Norte. A nova aristocracia portuguesa é formada a partir dos mercadores Lisboetas, e é só a partir desta data que o centro de Portugal passa realmente do Norte para Lisboa, tornando Portugal numa espécie de cidade-estado, em que quase apenas os seus interesses determinam o rumo e a independência do país. Os novos nobres burgueses constroem os seus palácios ou paços no bairro de Santos; outros edifícios são os da Universidade em Alfama, que regressa a Lisboa; a Igreja do Carmo; a Alfândega; e alguns dos primeiros edifícios de habitação em toda a Europa com vários andares, até cinco. A cidade é composta de ruas estreitas e tortuosas, a maioria de terra batida, em que as casas alternam com as hortas e os pomares. A cidade continua a crescer, e o largo abandono das técnicas de regadio muito produtivas dos muçulmanos significam que é necessário importar trigo de Castela, França, terras do rio Reno e até de Marrocos. Lisboa é uma cidade que cresce demasiado para o país, e este torna-se num território circundante semelhante aos de outras cidades comerciais. Lisboa, juntamente com Antuérpia no Atlântico servem a mesma função de organização do comércio que Veneza, Génova, Barcelona ou Ragusa no Mediterrâneo; ou Hamburgo, Lubeck e outras no Báltico. Em 1417 proíbe-se que se deite lixo perto do Mosteiro do Carmo e de outras áreas de Lisboa. Em 1426 outra lei proíbe lançar lixo e deixar galinhas soltas nas ruas de Lisboa sob pena de pagar multa. A política externa segue os interesses de Lisboa: são assinados acordos comerciais e de cooperação com as cidades-estado comerciais de Veneza (acordo de 1392), Génova (1398), Pisa e Florença, cujos mercadores já habitavam na cidade, e muitos dos quais são naturalizados e se tornam nobres Portugueses. Ceuta é conquistada em 1415 para permitir aos mercadores Lisboetas um melhor controlo local (e luta contra os piratas sarracenos) do comércio Mediterrânico que passava para o Norte através das Colunas de Hércules assim como a exportação do trigo marroquino a melhores preços. Além disso, nesse tempo Ceuta recebia as caravanas do ouro e do marfim, comércio que os Lisboetas queriam dominar, e temia-se a tomada da cidade pelos Castelhanos da rival Sevilha ou dos Aragoneses de Barcelona. A Aliança com a Inglaterra, um dos seus maiores clientes, é prosseguida.. [editar] Lisboa, a Senhora dos Mares A colaboração estreita com os Italianos, que dominavam a navegação no Mediterrâneo desde o tempo do Império Romano, trouxe frutos à cidade de Lisboa. Várias expedições se empreenderam com tripulações italianas e portuguesas, nas quais foram descobertos os arquipélagos dos Açores, Madeira e Canárias. Alguns afirmam que terão mesmo chegado ao Brasil. Estas ilhas permitem o estabelecimento de novas cidades-portos, úteis para a exploração de novos mercados. A prosperidade de Lisboa fica ameaçada quando o Império Otomano invade e conquista os territórios Árabes do Norte de África, Egipto e Médio Oriente no século XV. Os Turcos são inicialmente hostis aos interesses de Lisboa e das suas aliadas Veneza e Génova, e o comércio das especiarias, ouro, marfim e outros bens sofre fortemente. Os mercadores de Lisboa, muitos descendentes de Muçulmanos ou Judeus com ligações ao Norte de África, reagem procurando negociar directamente com as fontes dessas mercadorias, sem usar os mediadores Muçulmanos. As ligações dos judeus portugueses aos judeus magrebinos, e a conquista de Ceuta, permitem aos mercadores de Lisboa espiar os mercadores árabes, descobrindo que o ouro, os escravos e o marfim vêm para Marrocos em caravanas pelo deserto do Saara, a partir das terras do Sudão (que nesse tempo incluía todas as pradarias a sul do Deserto, o actual Sahel); e que as especiarias como a pimenta são levadas para os portos do Mar Vermelho no Egipto a partir da Índia. A nova estratégia dos mercadores Portugueses, Cristãos e Judeus, e Luso-Italianos é navegar directamente à fonte dos materiais. O Infante Dom HenriqueO grande impulsionador deste objectivo é o Infante D. Henrique, que se baseia na cidade de Tomar. Sede da Ordem de Cristo (antigos Templários), e de uma grande comunidade de mercadores Judeus, a cidade está também muito ligada a Lisboa pelo comércio dos cereais e frutos secos (uma das principais exportações de Lisboa). Os capitais e conhecimentos do Oriente por parte dos Templários e Judeus foram sem dúvida fundamentais para se conseguirem os propósitos dos mercadores Lisboetas. O Infante Dom Henrique é o impulsionador de um projecto que não foi ele que imaginou, mas sim os mercadores de Lisboa. Estes que sustentavam através dos impostos e taxas alfandegárias a monarquia, tornando-a praticamente independente dos recursos dos nobres territoriais, convertem-na aos seus propósitos mercantilistas. O Infante D. Henrique é o organizador de um certo dirigismo de Estado: os grandes riscos e capitais necessários à abertura das novas rotas precisam da cooperação de todos os mercadores através do Estado (como hoje muitos projectos de grande capital são empreendidos internacionalmente). O Infante Dom Henrique organiza e dirige os esforços dos navios portugueses de atingir as fontes do ouro, marfim e escravos, que estes por si mesmos já empreendiam de forma ineficiente. Com os capitais da Ordem de Cristo, são fundadas escolas de marinheiros e concentrados recursos e conhecimentos, dos mercadores Lisboetas Judeus, Luso-Genoveses ou Luso-Venezianos, para atingir o objectivo. Várias expedições são lançadas sob a forma de contratos com alguns dos mais influentes burgueses de Lisboa, até que o Golfo da Guiné é finalmente atingido por volta de 1460. Nesta época há nova tentativa dos nobres feudais nortenhos que permaneceram, de retomar o controlo do Reino, assustados com a crescente prosperidade dos mercadores lisboetas contra as suas perdas de rendimento. O propósito é a facilidade da conquista de Ceuta, que abre perspectivas de mais conquistas relativamente fáceis no Norte de África. Esta empresa seria favorável aos nobres, que ganhariam saque e mais terras e arrendatários em Marrocos, mas é contrária aos interesses dos mercadores-fidalgos e judeus de Lisboa, que seriam os pagadores dos impostos extra necessários às expedições e que procuram antes investir as forças e recursos do Reino na descoberta dos novos mercados africanos e asiáticos e não em aumentar ainda mais o poder da hostil e pró-castelhana nobreza Portucalense. Todas as lutas que D. João II manteve contra esses nobres, com a ajuda dos mercadores Lisboetas, exprimem esta realidade subjacente de luta entre Lisboa e o Norte, o antigo Portucale, berço da nação, pela definição do rumo do país. Após várias conspirações e incidentes, nas quais mais uma vez os nobres nortenhos pedem auxílio aos seus congéneres Castelhanos, vence mais uma vez Lisboa e os seus mercadores, e os cabecilhas são executados, entre os quais os Duques de Bragança e Viseu, mortos em 1483 e 1484. Todos os projectos de expansão terrestre em África são abandonados em troca do comércio nas novas terras descobertas mais a sul. Depois da morte do Infante D. Henrique, quando o caminho já estava aberto, inicia-se a iniciativa privada. O mercador lisboeta Fernão Gomes é o primeiro, sendo-lhe reconhecido monopólio sobre o comércio africano em 1469, em troca de descoberta de 500 quilómetros de costa para Sul a cada ano e 200.000 reais. As ilhas da Madeira e dos Açores são populadas, e programas de cultivo de produtos comerciais para Lisboa são implantados prioritariamente: a cana-de-açúcar e o vinho. Na recém-descoberta Guiné, produtos baratos como potes de metal e tecidos são trocados por ouro, marfim e escravos a partir de feitorias controladas pelos lisboetas: os nativos deslocam a sua actividade económica para trocar com os Europeus, mas não são conquistados, já que seria dispendioso. Fazem-se casamentos dos habitantes das feitorias com as filhas dos chefes locais, facilitando as trocas: o objectivo é o lucro e não a colonização. O resultado é um novo impulso para o comércio de Lisboa. Na capital aparecem o açúcar de cana e o vinho da Madeira, o trigo de Ceuta, o almíscar, o indigo e outros corantes de roupa, algodão do Norte de África e significativas quantidades do ouro da Guiné e da Costa do Ouro, em grande falta na Europa no fim do século XV. Além disso são traficados de forma brutal escravos Berberes das Canárias e depois Africanos. Os primeiros escravos são distribuídos pelo território Português, e aparecem os primeiros Africanos de pele escura mesmo nas terras do interior, comprados pelos senhores das propriedades. Um produto inovador foram as malaguetas. Estes frutos picantes seriam cultivados na Índia (para onde foram levadas pelos mercadores Lisboetas) mas são originárias da Guiné. Rapidamente este bem de monopólio lisboeta ganhou favor na culinária mediterrânica. Contudo os melhores mercados e produtos viriam de outra descoberta, a Índia e o Oriente. A guerra entre o Império Otomano e Veneza aumenta muito os preços da pimenta e outras especiarias e da seda trazidas pelos venezianos para a Itália, para Lisboa e daí para o resto da Europa a partir do Egipto (que recebia barcos árabes vindos da Índia no Mar Vermelho. Para contornar o "problema turco" é organizada a viagem de Vasco da Gama, mais uma vez por iniciativa dos mercadores Lisboetas mas com capital régio, que chega à Índia em 1498. Daí os mercadores atingem a China onde fundam a colónia comercial de Macau, as ilhas da actual Indonésia, e o Japão antes do fim do século XVI. No caminho estabelecem contractos comerciais e portos de escala com os chefes e Reis em Angola e Moçambique. Um grande Império colonial é consolidado por Afonso de Albuquerque, cuja armada segura o Oceano Índico e portos em localizações convenientes, para os mercadores vindos de Lisboa contra a competição dos turcos e árabes. Não são tomados territórios mas apenas portos e fortes de trocas com os nativos. Do outro lado do mundo, Pedro Álvares Cabral chega ao Brasil em 1500. O resultado para Lisboa são os novos produtos que trafica com a restante Europa em regime exclusivo durante muitos anos: além dos produtos africanos chega a pimenta, canela, gengibre, noz moscada, plantas medicinais, tecidos de algodão e os diamantes pela Carreira das Naus da Índia; as especiarias da Molucas, as porcelanas Ming e a seda da China, os escravos de Moçambique, o pau-brasil e o açúcar brasileiros. Além disso continua o comércio do peixe (bacalhau salgado pescado na Terra Nova), os frutos secos e o vinho. As outras cidades portuguesas, como o Porto e Lagos, contribuem para o comércio externo apenas de forma marginal, praticamente limitando-se a exportar e importar de Lisboa. Os Lisboetas controlam ainda muito do comércio de Antuérpia, da qual importam tecidos finos para o resto da Europa. Os mercadores alemães e italianos, vendo as suas rotas, terrestres no caso dos primeiros, Mediterrâneas para os segundos, largamente abandonadas, fundam grandes casas comerciais em Lisboa reexportando os produtos de todo o mundo para o Leste da Europa e para o Médio Oriente. Lisboa é o mercado para os gostos de luxo das elites de toda a Europa: Veneza e Génova arruinam-se e a Inglaterra e Holanda vêem-se obrigadas a imitar os Portugueses para travar as perdas de divisas. Os Lisboetas controlam durante várias décadas todo o comércio desde o Japão até Ceuta. A cidade ganha fama que chega a mito, e no século XVI é sem dúvida a mais rica cidade de todo o Mundo. Para ela migram comerciantes de toda a Europa, que se misturam com as já substanciais minorias Judaicas e Muçulmanas, além dos grandes números escravos Africanos (seriam entre um décimo e um quinto da população) e até alguns Indianos, Chineses e mesmo Japoneses e Índios Brasileiros. No tempo do Rei D. Manuel I, nas ruas de Lisboa as festas são feitas com desfiles de leões, elefantes, rinocerontes, camelos e outros animais não vistos na Europa desde o tempo do Circo Romano. Um rinoceronte e um elefante chegam inclusivamente a ser oferecidos ao Papa Leão X (ver Castelo de If). Na Europa o mito de Lisboa e das suas descobertas é tão grande que quando Thomas More inventa a sua ilha da Utopia, tenta dar-lhe credibilidade dizendo que foram os Portugueses a descobri-la. Junto à Torre de Belém ancoravam as naus que partiam para o movimento de expansão ultramarina.Para organizar todo o comércio privado e recolher os impostos, são criadas na capital do século XVI as grandes Casas Portuguesas de comércio: a Casa da Mina, a Casa de Arguim, a Casa dos Escravos, a Casa da Flandres (Países Baixos) e a célebre Casa da Índia. Os grandes lucros são usados na construção de outros edifícios: são deste século o Mosteiro dos Jerónimos e a Torre de Belém no novo estilo Manuelino (que evoca o comércio de além-mar), o Forte de São Julião da Barra numa ilha do Tejo, o Terreiro do Paço, o novo e imponente Palácio Real (destruído em 1755) e o Arsenal militar todos construídos junto ao Mar (da Palha); e ainda o Hospital Real de Todos-os-Santos, e inúmeros palácios e solares privados. O impulso à pavimentação das ruas com formas geométricas e desenhos formados por cubos de calcário branco e basalto preto (a calçada portuguesa) foi um luxo iniciado na época, que outras cidades da Europa não podiam pagar. A cidade expandia-se atingindo quase 200.000 habitantes, sendo construído o Bairro Alto, inicialmente conhecido por Vila Nova dos Andrades em honra dos ricos burgueses galegos que aí se estabeleceram, e que rapidamente se torna o bairro mais rico da cidade. É inaugurada em 1552 a Feira da Ladra, que ainda funciona hoje no mesmo local. Aspecto do Bairro Alto, com um Palácio ao fundo.Culturalmente vive no século XVI em Lisboa a geração de ouro das Ciências e Letras portuguesas: entre os cientistas o humanista Damião de Góis (amigo de Erasmo e Lutero), o matemático Pedro Nunes, o médico e botânico Garcia da Orta e Duarte Pacheco Pereira; entre os escritores Luís de Camões, Bernardim Ribeiro, Gil Vicente e outros. Isaac Abravanel, um dos maiores filósofos hebreus, é nomeado Tesoureiro do Rei. Socialmente todas as classes beneficiam. Os fidalgos urbanos da administração Real e os burgueses são os mais beneficiados, mas mesmo o povo vive com luxos inatingíveis para os ingleses, franceses ou alemães seus contemporâneos. Os trabalhos pesados necessários são feitos pelos escravos africanos e pelos galegos. Os primeiros são vendidos na Praça do Pelourinho, sendo separadas as famílias, e trabalham todo o dia sem salário, alguns sujeitos a tratamento brutal. Aos segundos certamente compensava a viagem face às condições miseráveis da Espanha rural, e a língua praticamente idêntica facilitava a integração. O Mosteiro dos Jerónimos, terminado em 1572.Os Judeus incluem como sempre alguns pobres e outros que se contam entre os mais educados e ricos comerciantes, financeiros e letrados da cidade. O primeiro livro impresso em Lisboa foi o Comentários sobre o Pentateuco de Moisés ben Nahman, um livro em hebraico, publicado por Eliezer Toledano em 1489. Em 1496 os espanhóis expulsam os Judeus do seu território, animados pelo espírito fundamentalista de uma Monarquia exclusivamente cristã. Muitos vêm para Lisboa, tendo provavelmente a sua população duplicado (seriam depois da expulsão um quinto dos Lisboetas, ou mesmo mais). Em troca de um casamento real, os Reis Católicos de Castela e Aragão pedem a Manuel I de Portugal que faça o mesmo. Reconhecendo a importância central dos Judeus na prosperidade da cidade, Dom Manuel decreta antes que todos os Judeus são Cristãos e não os deixa sair do País. Durante muitos anos estes cristãos-novos praticam o Judaísmo em segredo ou abertamente e apesar de motins e violências contra eles (como muitas crianças que são arrancadas dos pais e dadas a famílias cristãs que as tratam como escravos) são tolerados até à implantação da Inquisição em Portugal, muitos anos depois. O resultado é a ascensão social dos cristãos-novos. Temporariamente sem as limitações dos Judeus, progridem até aos mais elevados cargos da corte. Novamente são as antigas elites descendentes da antiga aristocracia das Astúrias e da Galiza (os nobres de Portucale) que criam problemas à ascensão social dos Judeus, frequentemente melhor educados e mais hábeis que eles. O mal-dizer dos Cristãos-Velhos culmina em massacres dos Cristãos-Novos em 1506 incitados pelos Priores menores das Igrejas. Vários milhares terão sido assassinados antes de serem impedidos pelas tropas do Rei. Como resultado dos conflitos, o Rei é persuadido pelos nobres territoriais a introduzir a Inquisição (em 1531) e as limitações legais a todos os descendentes de cristãos-novos (semelhantes às antigas contra os Judeus), que os impedem de ameaçar os cargos superiores do Estado à Aristocracia dos cristãos-velhos. O primeiro auto-de-fé (morte de heréticos na fogueira) é realizado no Terreiro do Paço em 1540. Além da Inquisição surgem outros problemas. Em 1569 há a grande Peste de Lisboa, em que terá morrido um terço da população. A inquisição mata na fogueira muitos Cristãos-novos, mas expropria a propriedade e as riquezas de muitos outros. Muitos mercadores cristão-velhos são expropriados também após uma denúncia anónima falsa, que os inquisidores aceitam como válida já que as riquezas dos condenados para eles revertem. Por outro lado poucos mercadores não teriam ascendência cristã-nova, devido aos casamentos comuns entre filhos de burgueses que eram sócios em empresas importantes. A Inquisição torna-se assim um instrumento de controlo social na posse dos antigos cristãos-velhos contra quase todos os mercadores Lisboetas, restituindo-lhes finalmente a supremacia há muito perdida. Auto-de-fé, Quadro de Pedro BerrugueteÉ neste clima de intolerância e perseguição, em que os lucros obtidos pelos riscos e o génio dos mercadores bem sucedidos é desfeito pela inveja dos grandes proprietários de terras (que rendem muito menos), que a prosperidade de Lisboa é destruída. O antigo clima liberal propício ao comércio desaparece e é substituído por um fanatismo católico e conservadorismo absolutos. Às elites do país exige-se o sangue puro antigo e cristão-velho, ou seja, do Norte. Muitos dos mercadores fogem para a Inglaterra ou Países Baixos onde se estabelecem difundindo os conhecimentos navais e cartográficos dos Portugueses. Lisboa é tomada pelas mentalidades feudais dos grandes nobres, e os mercadores Portugueses, sem condições de estabilidade, segurança, apoio e crédito devido às perseguições da Inquisição, são incapazes de competir com os mercadores Ingleses e Holandeses (muitos deles de origem Portuguesa) que lhes roubam os mercados da Índia, Índias Orientais e China. Em sua substituição as elites de Portucale convencem o débil Rei, D. Sebastião a virar-se para a conquista de um Império territorial, com mais terras e rendimentos para os Nobres, no Norte de África, que lhes permitiria manter a supremacia económica frente aos mercadores. Após o desastre militar de Alcácer-Quibir em 1578, os Aristocratas recolhem-se mais uma vez aos braços dos seus congéneres Castelhanos de mentalidade semelhante. Desta vez bem sucedidos, em 1580 o Castelhano Filipe II de Espanha é declarado Rei Dom Filipe I de Portugal, depois de derrotar o candidato dos enfraquecidos mercadores, o Prior do Crato, Dom António (o qual era cristão novo e mais liberal, filho de mãe Judia). Filipe I completa assim a ambição do seu pai o Habsburgo Rei Carlos I de Espanha também Imperador Carlos V do Sacro Império Romano-Germânico (Alemanha), e Senhor da maior parte da Itália e Holanda que afirmara famosamente Se fosse Rei de Lisboa, seria em breve Rei do Mundo. O Rei Habsburgo Filipe I de Portugal, II de Espanha. [editar] Domínio Filipino Filipe I de Portugal, o primeiro dos Habsburgos portugueses, é assim o primeiro rei da Hispânia. Apesar de desde 1492 os Reis Católicos Isabel I de Castela e Fernando II de Aragão terem dominado o que hoje é a Espanha, o título de Rei das Espanhas foi inicialmente usado para Filipe II quando conquistou Portugal e portanto, de facto, todas as Espanhas. Filipe I tenta inicialmente conciliar os interesses da nobreza na aquisição de mais territórios na Europa, do Clero em derrotar os Protestantes e da burguesia em eliminar a concorrência e pirataria dos Ingleses e Holandeses. Todos os barcos capazes de acção militar de Lisboa, Sevilha e Barcelona são reunidos numa Invencível Armada que é enviada contra a Inglaterra. Devido a uma grande tempestade e à perícia dos Almirantes Ingleses, a armada é destruída. Esta derrota converte finalmente o Rei aos interesses da Nobreza territorial. Grandes exércitos (os Terços) de mercenários, pagos pelos mercadores e comandados pelos grandes Aristocratas de sangre puro Cristão-Velho, como o Duque de Alba,são formados e atravessam a Europa para tomar as cidades e terrenos férteis dos Países Baixos Calvinistas para o benefício dessa mesma Nobreza. Enquanto isso os holandeses e ingleses dominam os mares, e incapazes de conquistar os impérios territoriais espanhóis do México e Peru, concentram-se em tomar as feitorias, portos e colónias costeiras dos portugueses, que traficam com Lisboa. São tomados os portos nordestinos do Brasil, Luanda em Angola, portos da África Oriental, o Cabo da Boa Esperança, Ceilão, Malaca e as Ilhas Molucas, a ilha de Formosa, a licença de comércio no Japão e outros portos. A Armada Invencível, Quadro de Philippe-Jacques de Loutherbourg, 1796Lisboa, com os seus mercadores já sob perseguição da Inquisição (que expropriava os cripto-judeus e mesmo os cristãos genuínos), perdera grande parte da sua frota no desastre da Invencível Armada e que pagava impostos altíssimos para sustentar os exércitos dos nobres espanhóis na Europa, perde agora a maioria dos seus portos e produtos e é finalmente e irreversivelmente arruinada, rapidamente perdendo importância. Em 1598 a catástrofe é aprofundada por um terramoto e pela peste. Finalmente Filipe II de Portugal torna-se exclusivamente Filipe III de Espanha e depois o seu filho apenas Filipe IV de Espanha quando, sob conselho da Nobreza Castelhana e com a aquisciência dos Nobres territoriais Portugueses, absorve o Reino de Portugal no Reino de Espanha. Lisboa, a grande cidade cosmopolita é agora uma cidade de província sem qualquer influência junto dos grandes espanhóis de sangue puro, que governam da então conservadora e fundamentalista católica Madrid. Nesta época a cidade perde actividade económica e habitantes, diminuindo a população até menos de 150.000. As construções deste período cabem em duas categorias: as defesas contra os piratas do norte, e os edifícios religiosos que apelam para a lealdade à monarquia universal católica pretendida pelo Rei. Foram construídos o Torreão um maciço edifício junto ao Terreiro do Paço, que não sobreviveu ao terramoto de 1755; o Convento de São Vicente de Fora; novas muralhas com novas disposições de acordo com a engenharia militar da época, como a Torre do Bugio numa ilha no meio do Mar da Prata; e fortificações em Cascais, Setúbal e na margem Sul. Os piratas ingleses e holandeses, como Francis Drake, fazem diversos ataques a algumas praças Portuguesas, mas não se atrevem a atacar Lisboa. Com o declínio económico e o desemprego, aumenta muito a miséria e a criminalidade. As autoridades Espanholas são obrigadas a introduzir uma espécie de corpo policial, os quadrilheiros que patrulham as ruas da cidade e controlam o crime de rua, as lutas, a bruxaria e o jogo. Segundo algumas crónicas do tempo, a taxa de assassinatos no início do século XVII seria mesmo superior, numa cidade de 150.000 pessoas, à de hoje em Lisboa com 2.500.000. Os problemas para o comércio na cidade aumentam quando os Catalães, um povo mercador como o de Lisboa, também oprimidos pelas taxas castelhanas, se revoltam em 1636. É a Portugal que Madrid vem exigir os homens e os fundos para derrotar os catalães, numa tentativa de usar os de Portugal contra os da Catalunha. É então que os mercadores da cidade se aliam à pequena e média nobreza. Tentam convencer o Duque de Bragança, Dom João, a aceitar o trono, mas este, como o resto alta Nobreza, é beneficiado por Madrid e só o prospecto de se tornar Rei o convence finalmente. Os conspiradores assaltam o Palácio do Governador, aclamando o novo Rei D. João IV, com o apoio inicialmente do Cardeal Richelieu de França, e depois a velha aliança retomada com a Inglaterra. [editar] O Ouro do Brasil A Lisboa pós-Restauração é uma cidade cada vez mais dominada pelas ordens religiosas Católicas. Mais de 40 conventos são fundados na cidade em adição aos 30 já existentes, e os religiosos ociosos cuja sustentação é assegurada pelas esmolas e expropriações contam-se aos muitos milhares, constituindo mais de 5% da população da cidade. O clima político é cada vez mais conservador e autoritário e a Inquisição, depois de destruída a classe mercadora, concentra-se no controlo das mentalidades, vigiando as ideias e a creatividade, que suprime em nome da pureza da Religião. Os segundos e terceiros filhos, que não recebem a herança do pai, e que antes se dedicavam ao comércio e às empresas além-mar, agora simplesmente se refugiam nas ordens religiosas e vivem à conta de outrem, a maioria das vezes de forma apenas superficialmente religiosa. A situação de ruína económica é finalmente resolvida não pelos projectos bem sucedidos dos mais capazes empreendedores, mas pela exploração colonial pura e pelos subsídios do Estado: é descoberto Ouro no Brasil, no actual Estado de Minas Gerais. O Estado Português cobra como imposto um quinto do ouro extraído, que começa a chegar a Lisboa em 1699 e cujas receitas Reais rapidamente chegam às várias toneladas anuais (mais de 15 toneladas após 1730) representando quase todo o orçamento do Estado. A desligação do empreendimento económico e da riqueza, devido ao ouro que é extraido por uma fracção do custo, permite a manutenção do novo clima conservador autoritário na Capital. Em Portugal o Poder é de quem tem o Ouro, que não deseja reformas e pretende manter o Antigo Regime. O Palácio de Mafra: um edifício construído com o Ouro do Brasil, nunca teve qualquer utilidade excepto proclamar o Poder da Igreja em PortugalCom o ouro, obras simbólicas da finalmente atingida supremacia absoluta das forças socias conservadoras Portuguesas, o Clero Católico e a Aristocracia Territorial, são construídas no novo estilo da Contra-Reforma, o Barroco. O mais significativo é o Convento de Mafra (acabado em 1730 por mais de 50.000 trabalhadores, mas nunca usado), nos arredores da cidade; o Panteão Nacional (ou Igreja de Santa Engrácia) em Lisboa; grandiosas modificações do Palácio Real; juntamente com inúmeros Palácios Aristocráticos e algumas obras úteis mas construídas com desperdício, como o Aqueduto das Águas Livres (1720). Contrastando com a enorme riqueza corrupta das altas elites, o povo vive na miséria. A cidade cresce com a necessidade de mão-de-obra para as contruções faraónicas, para 185.000, mas após as obras não há emprego. São deste período as primeiras descrições de Lisboa como uma cidade suja, degradada e não europeia: apenas dois séculos depois de sob governo dos mercadores liberais, ter sido conhecida como a mais prospera e cosmopolita da Europa. terramoto de 1755Termina este período em 1 de Novembro 1755, dia de Todos os Santos, em que ocorre o grande terramoto de Lisboa. Às nove horas e quarenta minutos a terra começa a tremer com uma intensidade que provavelmente não foi ultrapassada até hoje em todo o Mundo. Após cerca de um minuto, regressa a calma, seguida de novo tremor. A população acorre às praças com espaço junto ao rio Tejo, para morrerem afogadas pelo enorme Tsunami que vem do Atlântico. Depois do sismo, Lisboa está em ruínas. O grande Torreão Real, a Casa das Índias, o Convento do Carmo, o Tribunal da Inquisição, o Hospital de Todos-os-Santos são destruídos. Das 20.000 casas das classes mais baixas, de construção menos sólida, 17.000 são destruídas. Sobrevive o rico Bairro Alto, alguns edifícios de pedra sólida e poucas outras áreas. Seguem-se as pilhagens e os grandes incêndios. No fim, dos 180.000 habitantes, mais de 10.000 terão morrido e muitos outros perderam toda a sua propriedade. É esta catástrofe que abala a confiança do Antigo Regime, e dá espaço ao Ministro, o Marquês de Pombal, de tentar por finalmente em prática em Portugal as reformas cientificas e liberais já usadas com sucesso no Norte, da novas teorias políticas e económicas do Iluminismo. O Marquês de Pombal [editar] Século das Luzes O Marquês de Pombal Sebastião José de Carvalho e Melo, Ministro da Guerra e Negócios Estrangeiros e oriundo da Baixa Nobreza, reagindo celebremente às ruínas do terramoto, terá dito que era necessário enterrar os mortos, cuidar dos vivos e construir a cidade. Uma ideia que vai desenvolver de seguida a nível da economia e sociedade. O poder da Igreja é limitado e a sua falange, os Jesuítas, é expulsa do país. O poder da aristocracia territorial conservadora é brutalmente suprimido, numa série de conspirações e contra-conspirações, que acabam com a cruel execução da família que lidera a reacção, os Távora. Estes teriam sido responsáveis por um atentado ao Rei José I de Portugal numa tentativa de proclamar o conservador Duque de Aveiro Rei, e demitir Pombal, embora haja historiadores que defendam que esta acusação não terá passado de uma farsa manipulada pelo próprio Marquês por motivos pessoais. A Inquisição é extinta e os cristãos-novos, ainda então constituindo a maior parte das classes médias educadas e liberais da cidade e do país, são libertados das suas limitações legais e é-lhes finalmente permitido o acesso aos altos cargos governamentais, anteriormente monopólio legal da aristocracia de "sangue-puro". A indústria é apoiada de forma algo dirigista mas vigorosa, sendo estabelecidas várias fábricas reais em Lisboa e noutras cidades, que prosperam. Após o período Pombalino há 20 novas fábricas para cada uma que existia anteriormente. Finalmente os vários impostos e direitos alfandegários dentro de Portugal, prejudiciais ao comércio, são abolidos. Em todoss estes propósitos, Pombal apoia-se nas doações e empréstimos dos mercadores e industriais Lisboetas. Estátua a D. José no Terreiro do Paço.Em Lisboa, o Marquês, recusando os conselhos de alguns que pretendem mover a capital para outra cidade, ordena a reconstrução de acordo com as novas teorias de organização urbana, após ordenar uma avaliação da situação real através de um inédito inquérito à população. É ainda o Brasil colônia que paga quase toda a reconstrução, com mais de 20 milhões de cruzados. A cidade recebe ainda ajudas de países como a Inglaterra, a Espanha e a Hansa alemã, enchendo-se de estaleiros de construção. A maior parte da nobreza e aristocracia portuguesa refugia-se nas suas quintas nos arredores de Lisboa. O Rei instala-se num palácio improvisado de madeira ,a Tenda Real, enquanto o novo em pedra começava a ser erigido em Belém então ainda uma região fora da cidade de Lisboa. O grande volume de obras acontece, no entanto, no centro da antiga cidade, com o desenho de um novo projecto para a Baixa, o bairro mais atingido pelo terramoto. Este é projectado por Eugénio dos Santos e Carlos Mardel e aprovado pelo Marquês, enquadrando-se no espírito iluminista e pragmático da época: as ruas estreitas são substituídas por largas ruas rectilíneas dispostas ortogonalmente. Estas permitiriam não só a devida iluminação e ventilação das ruas (arejamento), como aufeririam mais segurança (patrulhamento, acesso aos edifícios em caso de incêncio e evitar a propagação de incêndios transversalmente à rua, etc.). Os edifícios a construir também foram alvo de uma política consistente, tendo a equipa projectista definido o desenho das fachadas, as regras de construção da estrutura dos edifícios e elaborado um conjunto de outra regulamentação com vista à produção de um conjunto habitacional capaz de enfrentar melhor um eventual terramoto, assim como redesenhar a estrutura social da cidade de Lisboa, atribuindo-lhe um novo pendor comercial à cidade. A estrutura inovadora escolhida consistia num esqueleto de madeira (a gaiola pombalina), uma malha rectangular com travamentos das suas diagonais (em cruz de Sto. André) onde se procurava que a flexibilidade da madeira se adaptasse à sobrecarga provocado pelo terramoto sem que a estrutura quebrasse. Esta estrutura em madeira assentaria num embasamento em alvenaria (que corresponderia ao primeiro piso das habitações, destinado a lojas, oficinas e armazéns) com arcos em abóbada de berço, que conferiria peso ao conjunto. Todos os edifícios da zona da Baixa assentariam numa estacaria em pinho que permitiria dar mais resistência ao solo arenoso da Baixa e garantir a transferência eficaz do peso dos edifícios para o solo sem que este cedesse. Os novos edifícios eram de arrendamento horizontal, estando hierarquizados em importância e qualidade pela sua proximidade à rua (geralmente o último piso possui pé direito mais baixo, varandas comuns, janelas mais pequenas, divisões menores, etc. e seria destinado à famílias com menos posses). Todos os edifícios teriam paredes corta-fogos de alvenaria a separá-los uns dos outros. A estandartização das fachadas, das janelas, das portas, dos azulejos de padrões geométricos simples no hall, etc. permitiria a aceleração do processo de construção através da produção em série destes elementos fora do local da obra. Todo o conjunto possui proporções e regras de composição clássicas, com recurso à proporção áurea. O centro estruturante da nova cidade seria a Rua Augusta que ligaria o limite Norte da cidade, o Rossio, e o limite Sul, o Terreiro do Paço, onde uma disposição monumental dos edifícios, o arco da Rua Augusta, um monumento ao rei e o Tejo a fechar a praça, contribuiriam para o desenho daquilo que se pretendia que fosse o novo coração da actividade comercial da reconstruída cidade de Lisboa. Os edifícios do Terreiro do Paço estariam destinados à instalação dos armazéns e grandes casas comerciais que se esperaria que voltassem a surgir e a animar a praça, mas após vários anos de abandono acabaram por ser ocupados por ministérios, tribunais, o Arsenal, a Alfândega e a Bolsa, já no reinado de D. Maria I. Rua Augusta: as novas ruas mais largas e rectilíneas, com prédios de contrução em gaiola resistentes aos terramotos.Na extremidade Norte, paralela ao Rossio, estaria projectado um novo mercado, que acaba por nunca ser construído, tendo ficado a praça, inicialmente conhecida por Praça Nova ou das Ervas, hoje denominada Praça da Figueira. A nova Praça da Figueira foi construída como novo mercado no período Pombalino.Ao contrário dos desejos e esperanças do Marquês de Pombal e da sua equipa, a reconstrução da cidade demora muito mais tempo do que esperado, tendo apenas terminado a sua reconstrução em 1806. A isto, deve-se em grande parte a pouca capacidade financeira da burguesia de uma cidade em crise. Apesar de tudo, e dentro da política de renovação da economia portuguesa, começam a surgir lentamente indícios de desenvolvimento. Moderadamente a cidade cresce até aos 250.000 habitantes em todas as direcções geográficas, ocupando os novos bairros da Estrela, Rato, então o novo centro industrial da cidade polarizado em torno da recente fonte de abastecimento da água trazida pelo aqueduto (novas fábricas de cerâmica), Alcântara, Ajuda, Sapadores, e as Amoreiras (onde estavam as novas fábricas da Seda, cujos vermes são alimentados das folhas dessa árvore). O Primeiro-Ministro tenta de todo o modo estimular as classes médias, que via como essenciais ao desenvolvimento do país e ao progresso. São formados os primeiros cafés propriedade de Luso-Italianos: alguns sobrevivem hoje desse tempo, como o Martinho da Arcada no Terreiro do Paço; o Nicola no Rossio, cujo dono Liberal iluminava a fachada após cada vitória política progressista; entre outros. Surge o hábito das soirées sociais entre os burgueses mais ricos, com a participação inédita de mulheres, em que a Nobreza conservadora não participa. É deste modo que surge novamente em Lisboa a classe média burguesa autoconsciente, composta de cristãos-novos e cristãos-velhos provenientes do Povo, a origem dos movimentos políticos pelo Liberalismo e pela República, que se manifestam nos novos Jornais da capital. Pombal viria a ser demitido após a morte de Dom José, e a ascensão ao trono da muito religiosa Dona Maria I de Portugal, cuja grande contribuição foi a Basílica da Estrela. Aconselhada pelo Clero e pelos Nobres conservadores, além de demitir o primeiro-ministro procurou limitar e até reverter algumas das suas reformas progressistas, num movimento denominado a Viradeira. Segue-se a deterioração das condições económicas que muito tinham melhorado no tempo Pombalino, e os problemas orçamentais. Para lidar com a miséria e criminalidade novamente crescentes, é criada a Polícia sob liderança de Diogo Pina Manique em 1780. Renova-se a perseguição política desta vez sob forma secular: a Polícia persegue, prende, tortura e expulsa todos os progressistas: maçons, jacobinos e liberais; os jornais são submetidos à censura; muitas obras de filósofos liberais ou Protestantes proibidas e os cafés vigiados por polícias à paisana. A cultura é controlada e todas as manifestações menos Católicas são ilegalizadas, incluindo o antiquíssimo Carnaval. Só o Teatro é estimulado, com a construção em 1793 do Teatro de São Carlos no Chiado, que vem substituir a Ópera destruída durante o terramoto. É, no entanto, financiado pela iniciativa privada. [editar] Guerra Civil: Liberais e Conservadores No fim do Século XVIII, com a Revolução Americana de 1776, ganham peso as ideias liberais por toda a Europa. Na França estala a Revolução em 1789. Em Lisboa os liberais jubilam com a derrota da Aristocracia Francesa. Rapidamente se radicaliza a Revolução em Paris, caíndo nas mãos da extrema-esquerda, e o centrista Napoleão Bonaparte é chamado ao Poder pela Burguesia assustada, acabando por autonomear-se Imperador. A sua política na Europa é o Bloqueio continental, ou seja a proibição do comércio com a Inglaterra. Aliado deste país, Portugal recusa e Napoleão envia Junot à frente de um grande exército para conquistar o país. Napoleão BonaparteJunot entra em Lisboa no dia 30 de Novembro de 1807. A Família Real portuguesa, alta Aristocracia e Clero haviam fugido no dia anterior. Junot é a princípio bem recebido pelos lisboetas e estabelece-se no Palácio de Queluz. As novas ideias liberais são discutidas pela burguesia Lisboeta com os oficiais franceses nos cafés da cidade, em especial no Nicola do Rossio, onde se estabelece o Quartel General Francês. Todos esperam a continuação das reformas do Marquês de Pombal, mas Junot não quer estimular ideias radicais e nada faz. Portugal é antes considerado um país a dividir: Lisboa seria directamente incorporada no Império Francês, enquanto o antigo Portucale seria ressuscitado no Reino da Lusitânia Setentrional. A falta de reformas e o comportamento violento dos soldados franceses leva finalmente à Junta do Supremo Governo a pedir o auxílio da Inglaterra. É enviado um corpo expedicionário liderado por Wellesley e Beresford, e os franceses em menor número, são obrigados a retirar-se em finais de 1808 entrando simultaneamente, seguindo um acordo de retirada, os Ingleses na cidade onde se estabelecem em Arroios. Lisboa sofre economicamente com a abertura dos portos do Brasil à Inglaterra. Os Ingleses recebem de D. João VI, residente no Rio de Janeiro, o controlo do governo da cidade e país, que administram como uma colónia. Os burgueses partidários da França são executados. São então construídas defesas nos acessos à capital em Torres Vedras, onde desde o tempo dos Romanos acabava o território de Lisboa. Aí é vencida e forçada a retirar a nova força de invasão francesa liderada por André Masséna, em 1811. Daí partiriam os ingleses e alguns portugueses sob o General Wellington para libertar a Espanha. Napoleão será finalmente derrotado em 1815. Com os burgueses de Lisboa sob opressão dos ingleses, são os burgueses do Porto que tomam controlo da cidade e se rebelam contra o colonialismo inglês e pelo Liberalismo em 1820, seguidos pelos de Lisboa a que se juntam expulsando os governadores ingleses num Golpe de Estado. As Cortes são convocadas pelos Liberais e é promulgada uma Constituição de 1822, uma Carta dos Direitos do Homem, e o fim dos privilégios do Clero e da Nobreza. O filho do rei, D. Miguel de Portugal encabeça os Reaccionários Conservadores Absolutistas, e inicia a Guerra Civil, contra as forças Revolucionárias Constitucionalistas Liberais do seu irmão o Imperador Pedro I do Brasil, depois Pedro IV de Portugal. É Dom Pedro que vence a guerra em 1834, mas a Constituição promulgada é mais conservadora que o esperado. No entanto são feitas algumas (poucas) reformas liberais, como a extinção das Ordens Religiosas, e a expropriação de muitos bens da Igreja Católica, que havia apoiado os Miguelistas. Desiludidos com Dom Pedro, há nova conspiração em Lisboa no ano de 1836, dos Setembristas (pequenos burgueses e letrados) que exigem a Constituição de 1822; e depois do sentido contrário, dois golpes de Estado dos Absolutistas, em 1836 e 1837. O País divide-se em dois grupos radicais que recusam dialogar um com o outro. Neste ambiente de caos, as grandes potências do norte planeiam a divisão das colónias e províncias do país. No período de Governo Liberal (1820-1842) é marcado pelas guerras e guerrilhas mas ainda assim são introduzidas diversas reformas e empreendimentos. É finalmente implantado o velho projecto da iluminação pública da cidade, já existente em muitas propriedades privadas da burguesia, entre os anos de 1823 e de 1837. Inicialmente com lamparinas de azeite, mas mais tarde com óleo de peixe, serão substituídos pelas lâmpadas de gás em 1848. Além disso é contruida uma nova rede de estradas; e são introduzidos os barcos a vapor ligando Lisboa ao Porto pelo mar. São feitos planos para lançar os caminhos de ferro, mas a guerra com os Conservadores não o permite, e o primeiro troço, entre Lisboa e o Carregado só será inaugurado em 1856. Este período é marcado pela perda de alguma viabilidade económica da cidade de Lisboa. O Brasil torna-se independente e os seus produtos e ouro já não escoam para a Capital. No período do Cabralismo são atribuídos títulos nobiliárquicos a muitos grandes burgueses, para os compremeter, com algum sucesso, com o partido conservador. Após a sua perda de rendimentos do Brasil a dependência do Estado torna-se atractiva e a classe ociosa teme a competição e apoia as divisões sociais artificiais e rígidas. É nesta época que se multiplicam os Barões e Viscondes desligados de propriedades territoriais, muitos hereditários mas muitos outros limitados à vida do beneficiário, que recebem rendas do Estado ou se dedicam à política corrupta do tempo. A grande aristocracia territorial ganha o hábito de passar o Inverno em Lisboa, seguindo para os seus solares apenas no Verão. No entanto é o povo que mais sofre com as guerras e a perda do Brasil: a cidade estagna e perde importância e de quinta mais populosa da Europa passa para décima e continua a descer. Os empregos tornam-se mais precários e a miséria aumenta novamente. [editar] Lisboa entre a Europa e a África A Estação do Rossio. O Elevador de Santa Justa, de 1902 Um americano eléctrico moderno Mapa da cidade em 1885.Após terminarem as guerras e conflitos entre os conservadores e liberais, Lisboa, tendo perdido o ouro e monopólio dos produtos do Brasil, a fonte de toda a sua riqueza desde o fim do século XVI encontrava-se numa situação económica desesperada. No Norte da Europa, as nações iniciavam a industrialização, e enriqueciam com o comércio das Américas (a Inglaterra viria a dominar o comércio brasileiro) e da Ásia. O atraso de Portugal parecia irreversível. Sem conseguir derrotar definitivamente os Liberais, e assustadas com o desastre económico a que as políticas conservadoras tinham conduzido Portugal desde o século XVI, em contraste com o sucesso liberal da Inglaterra, França e Países Baixos, os Conservadores que dominavam o País e a capital cederam parcialmente. Reformas limitadas seriam permitidas em troca de manter o espírito Católico, rural e conservador e do poder político ser mantido nas mãos dos grandes proprietários. Seriam realizadas eleições mas apenas por aqueles qualificados pela propriedade avultada. A patronagem do Estado seria partilhada com a nova classe e foram concedidos títulos aos grandes burgueses e capitalistas. No entanto mantiveram-se os privilégios e subsídios do Estado às classes dirigentes, e a industrialização seria limitada aos interesses destas. Neste período Lisboa é uma cidade pobre e suja quando comparada às cidades do Norte da Europa. Quase toda a sua importância comercial se resume ao monopólio que mantém sobre os produtos das colónias portuguesas, especialmente Angola e Moçambique. O próprio país é descrito em Londres, Paris e Berlim como uma extensão do Norte de África, ou seja, um território incapaz de se governar a si mesmo. Iniciam-se as primeiras emigrações já não para governar e dirigir outras terras, mas antes para trabalhar a partir da mais baixa escala social: partem para o Brasil muitos milhares de pobres lisboetas. Face à miséria e atraso de quase todo o país surge em Lisboa uma classe alta muito rica que, como se cega, gasta e comporta-se como se pertencesse às elites do Norte da Europa, enquanto governa um país rural e atrasado, vergado pelo proteccionismo económico, falta de educação e cuidados de Saúde providos pelo Estado. Com a diminuição de importância da terra como factor de riqueza, nobreza territorial e alta burguesia orbitam a Corte Real, vivendo luxuosamente dos subsídios e salários distribuídos por esta com os impostos recolhidos aos pobres. Estabelece-se um regime "de brandos costumes", onde cessam as perseguições, mas também as reformas, e a corrupção é rotina e quase sempre impune. Entre os governantes inertes e corruptos, existem alguns que melhor compreendem a necessidade de mudanças. Fontes Pereira de Melo é o ministro que mais luta pela liberalização da economia e a industrialização. Vários empreendimentos económicos e industriais são estimulados. É contruída uma rede de caminhos de ferro ligando Lisboa ao Porto e cidades intervenientes, a partir de duas novas estações de comboios, a Estação de Santa Apolónia e a Estação do Rossio. A luz eléctrica é implantada em 1878, substituindo a iluminação a gás. Em termos urbanísticos, são criados os primeiros planos directores. É necessário mudar a imagem da suja capital que choca os visitantes da Europa do Norte. Os habitantes são então estimulados a usar azulejos ou pintar as fachadas de cor-de-rosa, segundo as directrizes municipais (ainda hoje dominam o centro da cidade os inúmeros prédios rosas com azulejos deste período). Além disso são criados os primeiros sistemas de canalizações, esgotos e tratamento de água, respondendo aos ataques de cólera que matam milhares. Utilizando o novo proletariado miserável, é possível agora recalcetar as novas e velhas vias (incluindo o Rossio) tal como havia sido feito em menor escala no século XVI, com a velha técnica da calçada portuguesa. Outras inovações importantes são os americanos ou carruagens transportadas em carris por cavalos, introduzidos em 1873 (seriam substituídos em 1901 pelos americanos eléctricos, que ainda hoje existem); os elevadores eléctricos que são instalados em muitas das colinas depois de 1880. O centro cultural e comercial da cidade passa então para o Chiado. Com as velhas ruas da Baixa já ocupadas, os donos de novas lojas e clubes estabelecem-se na colina anexa, que rapidamente se transforma. Aqui são fundados os Clubes, como o Grémio Literário famoso das histórias de Eça de Queiróz, e frequentado por Almeida Garrett, Ramalho Ortigão, Guerra Junqueiro, Oliveira Martins e Alexandre Herculano. Estabelecem-se ainda lojas de roupas das modas de Paris e outros produtos de luxo, grandes armazéns no estilo do Harrods de Londres ou das Galerias Lafayette de Paris e novos cafés de Luso-Italianos, como O Tavares e o Café do Chiado. Novas construções e vias abrem os novos bairros do norte de Lisboa, estimulados pela Câmara Municipal apoiada pelos burgueses. Em 1878 o Passeio Público é demolido e substituído em 1886 pela nova Avenida da Liberdade, desenhada por Ressano Garcia. A Avenida tem mais de um quilómetro e estende-se pelas terras agrícolas, antecipando a expansão urbana. É criado a partir dela todo o eixo urbano central da cidade (hoje em 2005 novamente em expansão). No cimo da avenida é construída a Praça do Marquês de Pombal, da qual partem as novas vias da Nova Lisboa. Nestas Avenidas Novas constroem palacetes as elites de Lisboa, junto a novos edifícios públicos como o Liceu Camões (1907) e a Maternidade Alfredo da Costa (1909). A mais importante destas é a Avenida Fontes Pereira de Melo, para nordeste, que termina na nova Praça Duque de Saldanha. Daí parte a outra grande Avenida, hoje da República mas inicialmente de Ressano Garcia. Nas imediações deste existe o Campo Grande (então um descampado e não um Jardim) e a nova praça de touros do Campo Pequeno, acabada em 1892 num estilo neomourisco. Novos bairros são construídos nas imediações segundo planos semelhantes aos da Baixa Pombalina: o bairro de Campo de Ourique para oeste, e o da Estefânia para leste. Junto ao bairro da Estefânia é contruída nova grande Avenida Dona Amélia (hoje Avenida Almirante Reis), ligando-a ao Martim Moniz. Todas estas novas construções tranformam a cidade. O novo centro geográfico de Lisboa é o Marquês e a Baixa é apenas a localização das grandes lojas. Para leste estabelecem-se as pequenas classes médias e o povo, enquanto para oeste as altas classes médias e os ricos burgueses. Culturalmente este é o período em que as touradas e fado se tranformam em verdadeiros entretenimentos populares regulares. A eles se junta o teatro popular ou teatro de revista (inventado em Paris) que, com as velhas e eruditas comédias e dramas, disputa os novos teatros da capital. Um entretenimento típicamente português deste tempo é a Oratória, em que actores corrompem a velha arte do Padre António Vieira em argumentos cantados, floridos e quase sempre superficiais com que disputam prémios. Surgem ainda os primeiros grandes jardins públicos, imitando o Hyde Park de Londres e os jardins das cidades alemãs: o primeiro é o Jardim da Estrela, onde passeiam os burgueses aos fins-de-semana. Socialmente as classes altas são agora uma mistura de nobres conservadores que são obrigados com relutância a aceitar algumas ideias liberais e burgueses titulados que aderem a muitas ideias conservadoras. A eles juntam-se os brasileiros, os emigrantes pobres e pouco educados que haviam enriquecido no Brasil e voltado para a cidade na ânsia de aceitação nos altos círculos sociais. Lisboa é o centro industrial do país (apesar de a sua industrialização ser mínima comparada à da Inglaterra ou Alemanha). As classes pobres de Lisboa crescem exponencialmente, com a chegada dos primeiros proletários que trabalham nas novas fábricas. Estes vivem muitas vezes em bairros miseráveis e degradados, onde grassa a cólera e outras doenças, trabalhando todo o dia para apenas ter suficiente que comer. Os liberais das classes médias traídas, cujos impostos pagam os luxos das classes altas sem nada receber em troca, renovam-se num novo movimento liberal mais radical, que ameaça não só os antigos proprietários de terras mas também os novos barões e viscondes capitalistas dependentes do Estado. Da aliança entre os proletários mais educados e as classes médias nasce o novo Liberalismo Radical, melhor conhecido como Republicanismo devido à sua oposição à aliança de antigos liberais agora dependentes do Estado Monárquico (os burgueses titulados) e Conservadores (velha aristocracia) Monárquicos: os grandes capitalistas, proprietários de terras e dependentes da Corte. [editar] A Revolução de 1910 A Bandeira do Partido Republicano é hoje a Bandeira de PortugalCom o surgimento do compromisso entre os Liberais mais à direita e os conservadores mais moderados, que se manifestou na Monarquia Constitucional, a falta de desenvolvimento e de reformas ainda notável do País levou a ala mais esquerdista, ou radical dos Liberais,contituida principalmente pelas classes médias, a reformular os seus objectivos políticos. Nasceu assim o Partido Republicano que defendia reformas liberais radicais como o sufrágio universal, o fim dos privilégios à Igreja Católica e das rendas aos nobres, e acima de tudo o derrube de uma elite política cada vez mais desacreditada pela corrupção e incompetência. O País endivida-se e está cada vez mais dependente dos Países do Norte. Um episódio catárquico foi sem dúvida a humilhação frente ao Ultimato Inglês, por uma nação aliada. As condições que possibilitaram a subida ao poder dos Republicanos foram acima de tudo económicas. No fim do século XIX, houve uma lenta e pouco vigorosa industrialização em Portugal, mas ela concentrou-se bastante na cidade de Lisboa. Apesar de o povo do país continuar rural e católico na sua maioria, e apoiar o Rei e a Igreja, nasce então uma nova classe popular em Lisboa (e em menor grau no Porto e na Beira) que partilha ideias mais progressistas: o proletariado. A grande indústria de Lisboa é então o fabrico de derivados do tabaco, mas também existem fábricas de texteis, vidros, conservas e borracha, entre várias outras. No total, no fim do século XIX haveria muitas dezenas de milhares de trabalhadores nas indústrias numa população total de mais de 300.000 pessoas. As primeiras "zonas industriais" de Lisboa são os bairros de Alcântara, Bom Sucesso e Santo Amaro. As condições em que vive a nova classe popular de Lisboa são miseráveis. Vindos em grandes números do meio rural sem nada, instalam-se em bairros de lata extensos, nos arredores da cidade, e é frequente as crianças trabalharem longas horas nas fábricas. Outros vêm em grupos grandes da mesma aldeia, e instalam-se em terrenos abandonados, em núcleos fechados no interior da cidade, conhecidos por pátios ou quintais (muito comuns na Graça). Surgem os primeiros bairros operários, cujas habitações são contruidas a custo mínimo por empresários para atrair força laboral. Surgem então os primeiros sindicatos, muitos dos quais se afiliam com os anarquistas. Em vez de se juntarem aos novos partidos Marxistas como noutros países da Europa, outros proletários reúnem-se à volta das classes médias e profissionais (médicos e advogados) do Partido Republicano. Como resultado, o Partido, muito débil no norte do País (com a excepção do Porto), ganha cada vez mais influência na capital. Apesar de defenderem a propriedade e o mercado livre, os republicanos prometem melhoria das condições laborais e medidas sociais. Contudo as classes altas vivem ainda numa sociedade à parte, e não são capazes de reagir às novas exigências excepto com a repressão. O resultado são as acções cada vez mais violentas. Alarmadas as elites impõem a ditadura em 1907 com João Franco, mas é tarde de mais. Em 1908 a família real sofre um atentato em que morrem o Rei Dom Carlos de Portugal e o Príncipe herdeiro, numa acção provavelmente executada pelos anarquistas (que neste período atacam figuras públicas em toda a Europa). Em 1909 os operários de Lisboa organizam extensas greves. Em 1910 Lisboa revolta-se finalmente. A população da cidade forma barricadas nas ruas e são distribuidas armas. Os exércitos ordenados a reprimir a revolução são desmembrados pelas deserções. O resto do país é obrigado a seguir a capital, apesar de continuar profundamente rural, católico e conservador. É proclamada a Primeira República. São promulgadas medidas liberais: apoio social aos trabalhadores, com criação do Estado Previdência, direito à greve, fim dos privilégios da Igreja e nobreza, direito ao divórcio. Os impostos são modificados, de um modelo que se baseava nas contribuições dos trabalhadores e classes médias, para outro que tributava mais os mais ricos. [editar] República O período da República é marcado pelas disputas e violências políticas. Apesar de a situação ser tensa neste período por toda a Europa, com vários ataques terroristas e tumultos mesmo nos países mais desenvolvidos, em Portugal a situação terá sido mais crítica. Entalado entre as elites monárquicas hostis e os movimentos laborais cada vez mais extremistas, animados pelas novas teorias do anarquismo e marxismo, que apelam à luta nas ruas contra os "regimes burgueses", e herdando uma dívida pública recorde dos últimos anos da Monarquia, a República é um período de convulsões: sucedem-se as greves gerais (agora legais), as manifestações e mesmo os atentados à bomba e bala nas ruas de Lisboa, e a classe política Republicana divide-se sobre o modo de lidar com a situação. Em 1912 os monárquicos aproveitam o descontentamento com as leis liberais dos republicanos no norte do país, e aí tentam o golpe de estado, que falha. Em 1916 Portugal entra do lado aliado na Primeira Guerra Mundial, enviando homens e recursos muito consideráveis num período de crise, e a situação económica e política fica cada vez mais tensa, havendo mesmo episódios de fome. O resultado são mais golpes de Estado contra a república democrática pelos conservadores e pró-católicos, muitas vezes com o apoio dos líderes dos sindicatos e movimentos de trabalhadores que pretendem criam distúrbios que lhes permitam mais ganhos revolucionários: em 1915, toma pela força o poder o general Joaquim Pimenta de Castro, e em 1917 Sidónio Pais assume o Poder de forma autoritária e inconstitucional. Ambos dissolvem o Parlamento e governam de forma ditatorial. Em 1918 cai sobre a cidade a gripe espanhola, que mata muitos milhares e piora a situação dos operários, que de seguida se revoltam várias vezes, e Sidónio Pais é assassinado. Neste período é construída grande parte dos edifícios de habitação ao longo do norte da cidade aberto pelas Avenidas Novas. Pintados com as cores tradicionais da cidade, amarelo, cor-de-rosa e azul claro, com fachadas de vários andares encabeçadas por mansardas, formam ainda hoje a mais visível face da cidade. Quase todos são erguidos por pequenos empresários, na sua maioria oriundos da cidade de Tomar, e por isso conhecidos como patos bravos. Alguns dos novos edifícios são construídos à pressa e com poucas preocupações de segurança, que dariam origem a vários acidentes com desmoronamentos e vítimas mortais nos anos seguintes. O fim da I República ocorre em 1926, quando a direita conservadora antidemocrática (ainda em pleno século XX largamente liderada pelos descendentes da antiga Nobreza do norte de Portugal e pela Igreja Católica) toma finalmente o poder após mais duas tentativas em 1925, alegadamente de forma a por fim à anarquia que ela própria tinha largamente criado. Inicialmente militar, liderado pelo General Gomes da Costa, o novo governo rapidamente adopta uma ideologia semi-fascista sob a liderança de Salazar. O regime de Salazar e Marcello Caetano seria derrubado pela revolução dos cravos num golpe de estado realizado em Lisboa a 25 de Abril de 1974. [editar] Lisboa após o 25 de Abril de 1974 O Wikimedia Commons possui multimédia sobre: História de Lisboa. Referências ↑ [1] ↑ [2] ↑ McKenna, Stephen. Paganism and Pagan Survivals in Spain up to the Fall of the Visigothic Kingdom ↑ Povos pré-romanos da península Ibérica (circa 200 BC) ↑ Scheen, Rolf. Viking raids on the spanish peninsula ↑ (em inglês)Osbernus, De expugnatione Lyxbonensi ↑ Da Carta Do Crusado Sobre a Conquista De Lisboa. O Portal da História [editar] Ver também

quarta-feira, 6 de maio de 2009

MUDANÇAS NA LINGUA PORTUGUESA



Sumário
3 Apresentação
4 Linha do tempo das mudanças ortográficas
da língua portuguesa
8 Objetivos do Acordo Ortográfico
9 Principais mudanças do Acordo
14 Texto oficial
35 Escreva certo pelo Acordo
54 Bibliografia
Apresentação
E ste guia foi feito para auxiliar você, professor, a entender
melhor as mudanças que irão ocorrer na escrita da língua
com a aprovação do novo Acordo Ortográfico.
Ele apresenta uma linha do tempo que mostra como a questão
da unificação da escrita do português surge no século XIX e continua
até os dias atuais, sempre com muita polêmica e discussão.
Em seguida, um quadro sintetiza de modo prático as principais
mudanças na ortografia. O texto oficial do acordo vem
logo após.
No final, apresentamos listas de exemplos, que servirão de
consulta rápida para as dúvidas que surgirão.
É importante ressaltar, porém, que este guia não substitui o
Vocabulário ortográfico da língua portuguesa (Volp), que deverá
ser lançado pela Academia Brasileira de Letras de acordo com
as novas regras e irá oficializar a grafia padrão para as palavras
em língua portuguesa.
Duas capas de Os lusíadas, uma de 1572 e outra de 1584, mostram o nome
do poeta grafado de maneiras diferentes: Luis de Camoes e Lvis de Camões.
Séculos XII a XV
Surgem os primeiros documentos escritos em português. A ortografia portuguesa
tenta reproduzir os sons da fala para facilitar a leitura:
• a duplicação das vogais indica sílaba tônica: ceeo = céu, dooe = dói;
• a nasalização das vogais é representada pelo til (manhãas = manhãs), por dois
acentos (mááos = mãos) e por m e n (omde = onde; senpre = sempre).
• o i pode ser substituído por y ou j (ay = ai; mjnas = minhas).
Mas não há uma padronização e uma mesma palavra aparece grafada de modos
diferentes: ygreja, eygreya, eygleyga, eigreia, eygreia (= igreja); home, homee, ome,
omee (= homem).
reprodução
reprodução
˜
4
Linha do tempo das
mudanças ortográficas
da língua portuguesa
Cartão-postal de 1903, em que
aparecem palavras com as
consoantes dobradas cc e nn.
Em 1881, foi publicada a 1a edição em livro de
Memorias posthumas de Braz Cubas,
de Machado de Assis.
reprodução
reprodução
1904
Séculos XVI a XX
A partir da segunda metade do século XVI, a língua portuguesa
sofre influência do latim e da cultura grega, graças ao
Renascimento e à necessidade de valorização do idioma.
O critério passa ser o de respeitar as letras originárias das
palavras, isto é, sua origem etimológica. Empregam-se:
• ph, th, ch, rh e y, que representavam fonemas gregos:
philosophia, theatro, chimica (química), rheumatismo,
martyr, sepulchro, thesouro, lyrio;
• consoantes mudas: septembro, enxucto, maligno;
• consoantes duplas: approximar, immundos.
No início do século XIX, o escritor Almeida Garrett defende
a simplificação da escrita e critica a ausência de normas
que regularizem a ortografia.
No final do século XIX, cada um escreve da maneira que
acha mais adequada.
1904 Ortografia nacional, do filólogo
Gonçalves Viana (1840-1914), é publicada
em Portugal. Nela, o estudioso apresenta
proposta de simplificar a ortografia:
• eliminação dos fonemas gregos th (theatro),
ph (philosofia), ch (com som de k,
como em chimica), rh (rheumatismo) e y
(lyrio);
• eliminação das consoantes dobradas, com
exceção de rr e ss: cabello (= cabelo);
communicar (= comunicar); ecclesiastico
(= ecle-
siástico); sâbbado (= sábado).
• eliminação das consoantes nulas, quando
não influenciam na pronúncia da vogal
que as precede: licção (= lição); dacta
(= data); posthumo (= póstumo); innundar
(= inundar); chrystal (= cristal);
• regularização da acentuação gráfica.
5
1971 1945 1943 1934 1933 1931 1919 1915 1911 1907
Cartão-postal de 1908, em que se vê a palavra
telephone, grafada com ph, e escriptorio,
com p mudo.
Capa de partitura do samba Pelo telephone,
sucesso do carnaval de 1917. Além
do uso do ph, chama a atenção a
grafia da palavra successo.
1907 A partir de uma proposta do jornalista, professor,
político e escritor Medeiros e Albuquerque, a
Academia Brasileira de Letras (ABL) elabora projeto de
reformulação ortográfica com base nas propostas de
Gonçalves Viana.
1911 Portugal oficializa, com pequenas modificações,
o sistema de Gonçalves Viana.
1915 A ABL aprova a proposta do professor, filólogo
e poeta Silva Ramos que ajusta a reforma ortográfica
brasileira aos padrões da reforma portuguesa de 1911.
1919 A ABL volta atrás e revoga o projeto de 1907,
ou seja, não há mais reforma.
1931 A Academia das Ciências de Lisboa e a Academia
Brasileira de Letras assinam acordo para unir
as ortografias dos dois países.
1933 O governo brasileiro oficializa o acordo
de
1931.
1934 A Constituição Brasileira revoga o acordo de
1931 e estabelece a volta das regras ortográficas de
1891, ou seja, ortografia voltaria a ser grafada orthographia.
Protestos generalizados, porém, fazem com
que essa ortografia seja considerada optativa.
1943 Convenção Luso-Brasileira retoma, com pequenas
modificações, o acordo de 1931.
1945 Divergências na interpretação de regras resultam
no Acordo Ortográfico Luso-Brasileiro. Em
Portugal, as normas vigoram, mas o Brasil mantém
a ortografia de 1943.
1971 Decreto do governo altera algumas regras da
ortografia de 1943:
• abolição do trema nos hiatos átonos: saüdade (=
saudade), vaïdade (= vaidade);
• supressão do acento circunflexo diferencial nas letras
e e o da sílaba tônica das palavras homógrafas,
com exceção de pôde em oposição a pode: almôço
(= almoço), êle (= ele), enderêço (= endereço),
gôsto (= gosto);
• eliminação dos acentos circunflexos e graves que
marcavam a sílaba subtônica nos vocábulos derivados
com o sufixo -mente ou iniciados por -z- : bebêzinho
(= bebezinho), vovôzinho (= vovozinho),
sòmente (= somente), sòzinho (= sozinho), ùltimamente
(= ultimamente).
reprodução reprodução
6
Anúncio de 1932 do sabonete das "estrêlas".
1975 1986 1990 1995 1998 2002 2004 2006 2008
1975 As colônias portuguesas na África (São
Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Cabo Verde, Angola
e Moçambique) tornam-se independentes.
1986 Reunião de representantes dos sete países
de língua portuguesa no Rio de Janeiro resulta
nas Bases Analíticas da Ortografia Simplificada
da Língua Portuguesa de 1945, mas que nunca
foram implementadas.
1990 Surge o Acordo de Ortografia Simplificada
entre Brasil e Portugal para a Lusofonia, nova
versão do documento de 1986.
1995 Brasil e Portugal aprovam oficialmente o
documento de 1990, que passa a ser reconhecido
como Acordo Ortográfico de 1995.
1998 No Primeiro Protocolo Modificativo
ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa
fica estabelecido que todos os membros da
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
(CPLP) devem ratificar as normas propostas no
Acordo Ortográfico de 1995 para que este seja
implantado.
2002 O Timor Leste torna-se independente e
passa a fazer parte da CPLP.
2004 Com a aprovação do Segundo Protocolo
Modificativo ao Acordo Ortográfico da Língua
Portuguesa, fica determinado que basta a ratificação
de três membros para o acordo entrar em
vigor. No mesmo ano, o Brasil ratifica o acordo.
2006 Cabo Verde e São Tomé e Príncipe ratificam
o documento, possibilitando a vigoração
do acordo.
2008 Portugal aprova o Acordo Ortográfico.
reprodução reprodução Em 1960, as palavras "
côr" e
"
côres" eram grafadas
com acento circunflexo.
7
ATLÂNTICO
OCEANO
OCEANO
BRASIL
191,3 milhões
PORTUGAL
10,6 milhões
SÃO TOMÉ E
PRÍNCIPE
157 mil
TIMOR LESTE
1,1 milhão
MOÇAMBIQUE
20,5 milhões
ANGOLA
16,9 milhões
CABO VERDE
530 mil
GUINÉ-BISSAU
1,7 milhão
ÍNDICO
"Unificar a ortografia da língua portuguesa
que, atualmente, é o único idioma
do ocidente que tem duas grafias
oficiais — a do Brasil e a de Portugal", esse
é, segundo o MEC, o principal objetivo do
acordo ortográfico elaborado em 1990 e ratificado
pelo Brasil em 2004.
Ainda segundo o MEC, "com o acordo,
as diferenças ortográficas existentes entre o
português do Brasil e o de Portugal serão resolvidas
em 98%. A unificação da ortografia
acarretará alterações na forma de escrita em
1,6% do vocabulário usado em Portugal e de
0,5%, no Brasil".
Oito países (Angola, Brasil, Cabo Verde,
Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São
Tomé e Príncipe e Timor Leste) têm o português
como língua oficial. Juntos, totalizam
uma população de cerca de 230 milhões de
falantes.
A unificação facilitará a circulação de
materiais, como documentos oficiais e livros,
entre esses países, sem que seja necessário fazer
uma "tradução" do material.
Além disso, o fato de haver duas grafias
oficiais dificulta o estabelecimento do português
como um dos idiomas oficiais da Organização
das Nações Unidas (ONU).
Como diz o texto oficial do acordo, ele
"constitui um passo importante para a defesa
da unidade essencial da língua portuguesa e
para o seu prestígio internacional".
Objetivos do
Acordo Ortográfico
Fonte: Almanaque Abril 2008. São Paulo: Abril, 2008.
ALeSSANdro pASSoS dA CoSTA
8
Principais mudanças do Acordo
O que mudou Observações
Alfabeto (Base I)
As letras k, w e y foram incorporadas ao alfabeto.
O alfabeto passa a ter 26 letras: a, b, c, d, e, f, g, h, i, j,
k, l, m, n, o, p, q, r, s, t, u, v, w, x, y, z.
As letras k, w e y são usadas em casos especiais:
em nomes • de pessoas de origem estrangeira
e seus derivados: Kant, kantismo; Darwin,
darwinismo; Byron, byroniano.
• em nomes geográficos próprios de origem
estrangeira e seus derivados: Kuwait, kuwaitiano;
Malawi, malawiano; Okinawa, okinawano;
Seychelles, seychellense.
• em siglas, símbolos e palavras adotadas como
unidades de medida: www (World Wide Web);
K (símbolo químico de potássio); W (de west,
oeste); kg (quilograma); km (quilômetro); kW
(kilowatt), yd (de yard, jarda).
Vogais átonas (Base V)
Os adjetivos e os substantivos derivados com terminação
-iano e -iense são escritos com i, e não com e,
antes da sílaba tônica.
Exemplos: acriano (de Acre), açoriano, camiliano,
camoniano, ciceroniano, eciano, freudiano, goisiano
(relativo a Damião de Góis), sofocliano, torriano (de
Torres), zwingliano (Ulrich Zwingli), etc.
Acentuação gráfica
das palavras paroxítonas (Base IX)
• Os ditongos abertos tônicos éi e ói não são mais
acentuados graficamente.
Exemplos: assembleia, ideia, heroico, jiboia, etc.
(Ver mais exemplos na pág. 35)
• As formas verbais que contêm eem não são mais
assinaladas com acento circunflexo.
Exemplos: creem, deem, descreem, desdeem, leem,
preveem, redeem, releem, reveem, tresleem, veem,
etc.
• O penúltimo o do hiato oo(s) perde o acento circunflexo.
Exemplos: enjoo (substantivo e flexão do verbo enjoar),
povoo (flexão do verbo povoar), voos (substantivo
e flexão do verbo voar). (Ver mais exemplos
na pág. 36)
9
O que mudou Observações
Acentuação gráfica das palavras paroxítonas (Base IX)
Deixam de ser acentuadas • as seguintes palavras homógrafas:

para (flexão do verbo parar), homógrafa de para
(preposição);
– pela(s) (substantivo e flexão do verbo pelar), homógrafa
de pela(s) (combinação de per e la(s));

pelo (flexão do verbo pelar), homógrafa de pelo(s)
(substantivo ou combinação de per e lo(s));
– polo(s) (substantivo), homógrafa de polo(s), combinação
de por e lo(s));

pera (substantivo), homógrafa de pera (preposição).
• O verbo pôr continua acentuado.
• Continua a ser acentuada a forma pôde (terceira
pessoa do pretérito perfeito do indicativo
do verbo poder).
• É facultativo o uso do acento circunflexo
em:
– dêmos (primeira pessoa do plural do presente
do subjuntivo do verbo dar), homógrafa
de demos (primeira pessoa do plural
do presente do indicativo do verbo dar);
– fôrma (substantivo), homógrafa de forma
(substantivo/verbo).
Acentuação gráfica das palavras
oxítonas e paroxítonas (Base X)
• Deixam de ser acentuadas as vogais tônicas i e u das
palavras paroxítonas precedidas de ditongo.
Exemplo: baiuca. (Ver mais exemplos na pág. 36)
Permanecem acentuadas as vogais tônicas i e u
precedidas de ditongo de palavras oxítonas.
Exemplos: Piauí, teiú, teiús, tuiuiú, tuiuiús.
• O u tônico dos verbos arguir e redarguir não é
mais assinalado com acento agudo nas formas rizotônicas
(quando o acento agudo cai em sílaba do
radical) antes de e ou i.
Exemplos: arguis (segunda pessoa do singular do
presente do indicativo), argui (terceira pessoa do
singular do presente do indicativo e segunda pessoa
do singular do imperativo), arguem (terceira
pessoa do plural do presente do indicativo).
• As formas verbais do tipo de aguar, apaniguar, apaziguar,
apropinquar, averiguar, desaguar, enxaguar,
obliquar, delinquir e afins admitem duas pronúncias
diferentes, portanto duas grafias distintas:
a) Se o u dessas formas verbais for tônico, ele deixa
de ser acentuado graficamente.
Exemplo: averiguo.
b) Porém, se o a e o i passarem a tônicos, eles devem
ser acentuados graficamente.
Exemplo: averíguo.
a) (Ver as conjugações nas págs. 37 e 38)
10
O que mudou Observações
Trema (Base XIV)
O trema foi suprimido, exceto nas palavras derivadas
de nomes próprios estrangeiros.
Exemplos: hübneriano (de Hübner), mülleriano (de
Müller), etc.
(Ver exemplos de palavras que perderam o trema nas
págs. 38 e 39.)
Hífen (Base XV)
Palavras compostas • que perderam, em certa medida,
a noção de composição são grafadas aglutinadamente.
Exemplos: girassol, madressilva, mandachuva, paraquedas,
paraquedista, pontapé, etc.
• Usa-se o hífen em topônimos compostos iniciados
pelos adjetivos grã, grão ou por forma verbal ou
cujos elementos estejam ligados por artigos.
Exemplos: Grã-Bretanha, Grão-Pará, Passa-
-Quatro, Trás-os-Montes, etc.
• Usa-se o hífen em palavras compostas que designam
espécies botânicas e zoológicas, estejam ou não
ligadas por preposição ou qualquer outro elemento.
Exemplos: abóbora-menina, couve-flor, erva-doce,
feijão-verde; bênção-de-deus, erva-do-chá, ervilha-
-de-cheiro, fava-de-santo-inácio; bem-me-quer (tam-bém
conhecida como margarida ou malmequer);
andorinha-grande, cobra-capelo, formiga-branca;
andorinha-do-mar, cobra-d´água, lesma-de-conchinha;
bem-te-vi (pássaro).
• O advérbio bem, em muitos compostos, aparece
aglutinado com o segundo elemento, quer este tenha
ou não vida à parte.
Exemplos: benfazejo, benfeito, benfeitor, benquerença,
etc.
• Usa-se o hífen para ligar duas ou mais palavras que
ocasionalmente se combinam, formando encadeamentos
vocabulares.
Exemplos: a divisa Liberdade-Igualdade-Fraternidade,
a ponte Rio-Niterói, o percurso Lisboa-Coimbra-
Porto, a ligação Angola-Moçambique.
O hífen continua a ser empregado nas palavras
compostas por justaposição que não contêm
formas de ligação e cujos elementos constituem
uma unidade sintagmática e semântica.
Exemplos: arco-íris, decreto-lei, médico-cirurgião,
tenente-coronel, tio-avô, guarda-noturno,
mato-grossense, norte-americano, afro-asiático,
afro-luso-brasileiro, azul-escuro, primeiro-ministro,
conta-gotas, guarda-chuva, etc.
Os demais topônimos compostos são escritos
com os elementos separados, sem hífen.
Exemplos: América do Sul, Belo Horizonte,
Cabo Verde, etc.
Exceção: Guiné-Bissau, consagrada pelo uso.
Bem-vindo continua com hífen.
11
O que mudou Observações
Hífen (Base XVI)
• Usa-se o hífen nas formações com aero-, agro-,
ante-, anti-, arqui-, auto-, bio-, circum-, co-, contra-,
eletro-, entre-, extra-, geo-, hidro-, hiper-,
infra-, inter-, intra-, macro-, maxi-, micro-, mini,
multi-, neo-, pan-, pluri-, pós-, pré-, pró-, proto-,
pseudo-, retro-, semi-, sobre-, sub-, super-, supra-,
tele-, ultra-, etc.
a) se o segundo elemento começa por h.
Exemplos: anti-higiênico, co-herdeiro, extra-humano,
pré-história, etc.
b) se o primeiro elemento termina na mesma vogal
com que se inicia o segundo elemento.
Exemplos: anti-ibérico, contra-almirante, auto-
-observação, eletro-ótica, micro-onda, semi-
-interno, etc.
c) nas formações com os prefixos circum- e pan-,
quando o segundo elemento começa por vogal,
m ou n (além de h, como já visto).
Exemplos: circum-escolar, circum-murado,
circum-navegação; pan-africano, pan-mágico,
pan-negritude.
d) nas formações com os prefixos hiper-, intere
super-, quando o segundo elemento começa
por r.
Exemplos: hiper-requintado, inter-resistente,
super-revista.
e) depois dos prefixos ex- (com o sentido de estado
anterior ou cessamento), sota-, soto-, vice- e
vizo-.
Exemplos: ex-almirante, sota-piloto, soto-mestre,
vice-presidente, vizo-rei.
f) nas formações com os prefixos pós-, pré- e pró-,
sempre tônicos e acentuados, quando o segundo
elemento tem vida própria.
Exemplos: pós-graduação, pré-escolar, pró-africano.
Não se usa o hífen em formações que contêm
em geral os prefixos des- e in- e nas quais o segundo
elemento perdeu o h inicial.
Exemplos: desumano, desumidificar, inábil, inumano,
etc.
Exceção: Nas formações com o prefixo co-, este
aglutina-se em geral com o segundo elemento
mesmo quando iniciado por o.
Exemplos: cooperar, coobrigação, coocupante,
cooperação, coordenar, etc.
Não se usa hífen nas formas átonas (pos-, pre- e
pro-).
Exemplos: pospor, prever, promover.
12
O que mudou Observações
Hífen (Base XVI)
• Não se usa hífen nas formações em que o primeiro
elemento termina em vogal e o segundo elemento
começa por r ou s, sendo que essas consoantes são
duplicadas.
Exemplos: antirreligioso, contrarregra, cosseno, extrarregular,
infrassom, etc.
• Não se usa hífen nas formações em que o primeiro
elemento termina em vogal, se o segundo elemento
começa por vogal diferente.
Exemplos: antiaéreo, coeducação, coedição, coautoria,
extraescolar, aeroespacial, autoestrada, autoaprendizagem,
agroindustrial, hidroelétrico, plurianual,
etc.
(Ver mais exemplos nas págs. 40 a 53)
Divisão silábica (Base XX)
Se a palavra for composta ou for uma forma verbal
seguida de pronome átono e se a partição no final da
linha coincidir com o final de um dos elementos ou
membros, deve-se, por clareza gráfica, repetir o hífen
no início da linha imediata.
Exemplos: ex-
-presidente
vende-
-se
13
Considerando que o projecto de texto de ortografia unificada de língua
portuguesa aprovado em Lisboa, em 12 de outubro de 1990, pela Academia
das Ciências de Lisboa, Academia Brasileira de Letras e delegações de Angola,
Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe, com a
adesão da delegação de observadores da Galiza, constitui um passo importante
para a defesa da unidade
essencial da língua portuguesa e para o seu
prestígio internacional;
Considerando que o texto do acordo que ora se aprova resulta de um aprofundado
debate nos Países signatários,
a República Popular de Angola,
a República Federativa do Brasil,
a República de Cabo Verde,
a República da Guiné-Bissau,
a República de Moçambique,
a República Portuguesa,
e a República Democrática de São Tomé e Príncipe, acordam no seguinte:
Artigo 1o - É aprovado o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, que consta
como anexo I ao presente instrumento de aprovação, sob a designação de
Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990) e vai acompanhado da respectiva
nota explicativa, que consta como anexo II ao mesmo instrumento de
aprovação, sob a designação de Nota Explicativa do Acordo Ortográfico da
Língua Portuguesa (1990).
Artigo 2o - Os Estados signatários tomarão, através das instituições e órgãos
competentes, as providências necessárias com vista à elaboração, até 1 de janeiro
de 1993, de um vocabulário ortográfico comum da língua portuguesa, tão completo
quanto desejável e tão normalizador quanto possível, no que se refere às
terminologias científicas e técnicas.
texto oficial
14
Texto oficial
Acordo Ortográfico
da Língua Portuguesa
Artigo 3o - O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa entrará em vigor em
1 de janeiro de 1994, após depositados os instrumentos de ratificação de todos
os Estados junto do Governo da República Portuguesa.
Artigo 4o - Os Estados signatários adoptarão as medidas que entenderem
adequadas ao efectivo respeito da data da entrada em vigor estabelecida no
artigo 3o.
Em fé do que, os abaixo assinados, devidamente credenciados para o efeito,
aprovam o presente acordo, redigido em língua portuguesa, em sete exemplares,
todos
igualmente autênticos.
Assinado em Lisboa, em 16 de dezembro de 1990.
PELA REPÚBLICA POPULAR DE ANGOLA,
José Mateus de Adelino Peixoto, Secretário de Estado da Cultura
PELA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL,
Carlos Alberto Gomes Chiarelli, Ministro da Educação
PELA REPÚBLICA DE CABO VERDE,
David Hopffer Almada, Ministro da Informação, Cultura e Desportos
PELA REPÚBLICA DA GUINÉ-BISSAU,
Alexandre Brito Ribeiro Furtado, Secretário de Estado da Cultura
PELA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE,
Luis Bernardo Honwana, Ministro da Cultura
PELA REPÚBLICA PORTUGUESA,
Pedro Miguel de Santana Lopes, Secretário de Estado da Cultura
PELA REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE,
Lígia Silva Graça do Espírito Santo Costa, Ministra da Educação e Cultura
Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa
15
texto oficial
16
Acordo Ortográfico
da Língua Portuguesa (1990)
Base I
Do alfabeto e dos nomes próprios estrangeiros e seus derivados
1o) O alfabeto da língua portuguesa é formado por vinte e seis letras, cada uma delas com uma forma
minúscula e outra maiúscula:
a A (á)
b B (bê)
c C (cê)
d D (dê)
e E (é)
f F (efe)
g G (gê ou guê)
h H (agá)
i I (í)
j J (jota)
k K (capa ou cá)
l L (ele)
m M (eme)
n N (ene)
o O (ó)
p P (pê)
q Q (quê)
r R (erre)
s S (esse)
t T (tê)
u U (u)
v V (vê)
w W (dáblio)
x X (xis)
y Y (ípsilon)
z Z (zê)
Obs.: 1. Além destas letras, usam-se o ç (cê cedilhado) e os seguintes dígrafos:
rr (erre duplo), ss (esse duplo), ch (cê-agá), lh (ele-agá), nh (ene-agá), gu (guê-u) e qu
(quê-u).
2. Os nomes das letras acima sugeridos não excluem outras formas de as designar.
2o) As letras k, w e y usam-se nos seguintes casos especiais:
a) Em antropónimos/antropônimos originários de outras línguas e seus derivados:
Franklin,
frankliniano; Kant, kantismo; Darwin, darwinismo; Wagner, wagneriano; Byron, byroniano;
Taylor, taylorista;
b) Em topónimos/topônimos originários de outras línguas e seus derivados: Kwanza; Kuwait,
kuwaitiano; Malawi, malawiano;
c) Em siglas, símbolos e mesmo em palavras adotadas como unidades de medida de curso
internacional: TWA, KLM; K – potássio (de kalium), W – oeste (West); kg – quilograma,
km – quilómetro/quilômetro, kW – kilowatt, yd – jarda (yard); Watt.
3o) Em congruência com o número anterior, mantêm-se nos vocábulos derivados eruditamente de nomes
próprios estrangeiros quaisquer combinações gráficas ou sinais diacríticos não peculiares à nossa
escrita que figurem nesses nomes: comtista, de Comte; garrettiano, de Garrett; jeffersónia/ jeffersônia,
de Jefferson; mülleriano, de Müller; shakespeariano, de Shakespeare.
Os vocábulos autorizados registrarão grafias alternativas admissíveis, em casos de divulgação
de certas palavras de tal tipo de origem (a exemplo de fúcsia/ fúchsia e derivados, buganvília/
buganvílea/ bougainvíllea).
4o) Os dígrafos finais de origem hebraica ch, ph e th podem conservar-se em formas onomásticas da
tradição bíblica, como Baruch, Loth, Moloch, Ziph, ou então simplificar-se: Baruc, Lot, Moloc, Zif. Se
qualquer um destes dígrafos, em formas do mesmo tipo, é invariavelmente mudo, elimina-se: José,
Nazaré, em vez de Joseph, Nazareth; e se algum deles, por força do uso, permite adaptação, substitui-
-se, recebendo uma adição vocálica: Judite, em vez de Judith.
5o) As consoantes finais grafadas b, c, d, g e t mantêm-se, quer sejam mudas, quer proferidas, nas
formas onomásticas em que o uso as consagrou, nomeadamente
antropónimos/antropônimos
e topónimos/topônimos da tradição bíblica: Jacob, Job, Moab, Isaac; David, Gad; Gog, Magog;
Bensabat, Josafat.
Integram-se também nesta forma: Cid, em que o d é sempre pronunciado; Madrid e Valhadolid,
em que o d ora é pronunciado, ora não; e Calecut ou Calicut, em que o t se encontra nas mesmas
condições.
Nada impede, entretanto, que dos antropónimos/antropônimos em apreço sejam usados sem a
consoante final Jó, Davi e Jacó.
6o) Recomenda-se que os topónimos/topônimos de línguas estrangeiras se substituam, tanto quanto
possível, por formas vernáculas, quando estas sejam antigas e ainda vivas em português ou quando
entrem, ou possam entrar, no uso corrente. Exemplo: Anvers, substituído por Antuérpia; Cherbourg,
por Cherburgo; Garonne, por Garona; Genève, por Genebra; Jutland, por Jutlândia; Milano,
por Milão; München, por Munique; Torino, por Turim; Zürich, por Zurique, etc.
Base II
Do h inicial e final
1o) O h inicial emprega-se:
a) Por força da etimologia: haver, hélice, hera, hoje, hora, homem, humor.
b) Em virtude da adoção convencional: hã?, hem?, hum!.
2o) O h inicial suprime-se:
a) Quando, apesar da etimologia, a sua supressão está inteiramente consagrada pelo uso: erva,
em vez de herva; e, portanto, ervaçal, ervanário, ervoso (em contraste com herbáceo, herbanário,
herboso, formas de origem erudita);
b) Quando, por via de composição, passa a interior e o elemento em que figura se aglutina ao
precedente: biebdomadário, desarmonia, desumano, exaurir, inábil, lobisomem, reabilitar,
reaver.
3o) O h inicial mantém-se, no entanto, quando, numa palavra composta, pertence a um elemento
que está ligado ao anterior por meio de hífen: anti-higiénico/ anti-higiênico, contra-haste, pré-
-história, sobre-humano.
4o) O h final emprega-se em interjeições: ah! oh!.
Base III
Da homofonia de certos grafemas consonânticos
Dada a homofonia existente entre certos grafemas consonânticos, torna-se necessário diferençar
os seus empregos, que fundamentalmente se regulam pela história das palavras. É certo que a variedade
das condições em que se fixam na escrita os grafemas consonânticos homófonos nem sempre
permite fácil diferenciação dos casos em que se deve empregar uma letra e daqueles em que, diversamente,
se deve empregar outra, ou outras, a representar o mesmo som.
Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa
17
Nesta conformidade, importa notar, principalmente, os seguintes casos:
1o) Distinção gráfica entre ch e x: achar, archote, bucha, capacho, capucho, chamar, chave, Chico,
chiste, chorar, colchão, colchete, endecha, estrebucha, facho, ficha, flecha, frincha, gancho,
inchar, macho, mancha, murchar, nicho, pachorra, pecha, pechincha, penacho, rachar, sachar,
tacho; ameixa, anexim, baixei, baixo, bexiga, bruxa, coaxar, coxia, debuxo, deixar, eixo, elixir,
enxofre, faixa, feixe, madeixa, mexer, oxalá, praxe, puxar, rouxinol, vexar, xadrez, xarope, xenofobia,
xerife, xícara.
2o) Distinção gráfica entre g, com valor de fricativa palatal, e j: adágio, alfageme, Álgebra, algema,
algeroz, Algés, algibebe, algibeira, álgido, almargem, Alvorge, Argel, estrangeiro, falange, ferrugem,
frigir, gelosia, gengiva, gergelim, geringonça, Gibraltar, ginete, ginja, girafa, gíria, herege, relógio,
sege, Tânger, virgem; adjetivo, ajeitar, ajeru (nome de planta indiana e de uma espécie de papagaio),
canjerê, canjica, enjeitar, granjear, hoje, intrujice, jecoral, jejum, jeira, jeito, Jeová, jenipapo,
jequiri, jequitibá, Jeremias, Jericó, jerimum, Jerónimo, Jesus, jiboia, jiquipanga, jiquiró, jiquitaia,
jirau, jiriti, jitirana, laranjeira, lojista, majestade, majestoso, manjerico, manjerona, mucujê, pajé,
pegajento, rejeitar, sujeito, trejeito.
3o) Distinção gráfica entre as letras s, ss, c, ç e x, que representam sibilantes surdas: ânsia, ascensão,
aspersão, cansar, conversão, esconso, farsa, ganso, imenso,
mansão, mansarda, manso, pretensão,
remanso, seara, seda, Seia, Sertã, Sernancelhe, serralheiro, Singapura, Sintra, sisa, tarso, terso,
valsa; abadessa, acossar, amassar, arremessar, Asseiceira, asseio, atravessar, benesse, Cassilda, codesso
(identicamente Codessal ou Codassal, Codesseda, Codessoso, etc.), crasso,
devassar, dossel,
egresso, endossar, escasso, fosso, gesso, molosso, mossa, obsessão, pêssego, possesso, remessa, sossegar;
acém, acervo, alicerce, cebola, cereal, Cernache, cetim, Cinfães, Escócia, Macedo, obcecar,
percevejo; açafate, açorda, açúcar, almaço, atenção, berço, Buçaco, caçanje, caçula, caraça, dançar,
Eça, enguiço, Gonçalves, inserção, linguiça, maçada, Mação, maçar, Moçambique, Monção,
muçulmano, murça, negaça, pança, peça, quiçaba, quiçaça, quiçama, quiçamba, Seiça (grafia
que pretere as erróneas/errôneas Ceiça e Ceissa), Seiçal, Suíça, terço; auxílio, Maximiliano, Maximino,
máximo, próximo, sintaxe.
4o) Distinção gráfica entre s de fim de sílaba (inicial ou interior) e x e z com idêntico valor fónico/
fônico: adestrar, Calisto, escusar, esdrúxulo, esgotar, esplanada, esplêndido, espontâneo, espremer,
esquisito, estender, Estremadura, Estremoz, inesgotável; extensão, explicar, extraordinário, inextricável,
inexperto, sextante, têxtil; capazmente, infelizmente, velozmente. De acordo com esta
distinção convém notar dois casos:
a) Em final de sílaba que não seja final de palavra, o x = s muda para s sempre que está precedido
de i ou u: justapor, justalinear, misto, sistino (cf. Capela Sistina), Sisto, em vez de juxtapor,
juxtalinear, mixto, sixtina, Sixto.
b) Só nos advérbios em -mente se admite z, com valor idêntico ao de s, em final de sílaba seguida
de outra consoante (cf. capazmente, etc.); de contrário, o s toma sempre o lugar do z: Biscaia,
e não Bizcaia.
5o) Distinção gráfica entre s final de palavra e x e z com idêntico valor fónico/ fônico: aguarrás, aliás,
anis, após, atrás, através, Avis, Brás, Dinis, Garcês, gás, Gerês, Inês, íris, Jesus, jus, lápis, Luís, país,
português, Queirós, quis, retrós, revés, Tomás, Valdês; cálix, Félix, Fénix, flux; assaz, arroz, avestruz,
dez, diz, fez (substantivo e forma do verbo fazer), fiz, Forjaz, Galaaz, giz, jaez, matiz, petiz, Queluz,
Romariz, [Arcos de] Valdevez, Vaz. A propósito, deve observar-se que é inadmissível z final equivalente
a s em palavra não oxítona: Cádis, e não Cádiz.
6o) Distinção gráfica entre as letras interiores s, x e z, que representam sibilantes sonoras: aceso, analisar,
anestesia, artesão, asa, asilo, Baltasar, besouro, besuntar,
blusa, brasa, brasão, Brasil, brisa, [Martexto
oficial
18
co de] Canaveses, coliseu, defesa, duquesa, Elisa, empresa, Ermesinde, Esposende, frenesi ou frenesim,
frisar, guisa, improviso, jusante, liso, lousa, Lousã, Luso (nome de lugar, homónimo/homônimo
de
Luso, nome mitológico), Matosinhos, Meneses, narciso, Nisa, obséquio, ousar, pesquisa, portuguesa,
presa, raso, represa, Resende, sacerdotisa, Sesimbra, Sousa, surpresa, tisana, transe, trânsito, vaso;
exalar, exemplo, exibir, exorbitar, exuberante, inexato, inexorável; abalizado, alfazema, Arcozelo, autorizar,
azar, azedo, azo, azorrague, baliza, bazar, beleza, buzina, búzio, comezinho, deslizar, deslize,
Ezequiel, fuzileiro, Galiza, guizo, helenizar, lambuzar, lezíria, Mouzinho, proeza, sazão, urze, vazar,
Veneza, Vizela, Vouzela.
Base IV
Das sequências consonânticas
1o) O c, com valor de oclusiva velar, das sequências interiores cc (segundo c com valor de sibilante),
cç e ct, e o p das sequências interiores pc (c com valor de sibilante), pç e pt, ora se conservam, ora
se eliminam.
Assim:
a) Conservam-se nos casos em que são invariavelmente proferidos nas pronúncias cultas da
língua: compacto, convicção, convicto, ficção, friccionar, pacto, pictural; adepto, apto, díptico,
erupção, eucalipto, inepto, núpcias, rapto.
b) Eliminam-se nos casos em que são invariavelmente mudos nas pronúncias cultas da língua:
ação, acionar, afetivo, aflição, aflito, ato, coleção, coletivo, direção, diretor, exato, objeção; adoção,
adotar, batizar, Egito, ótimo.
c) Conservam-se ou eliminam-se, facultativamente, quando se proferem numa pronúncia culta,
quer geral, quer restritamente, ou então quando oscilam entre a prolação e o emudecimento: aspecto
e aspeto, cacto e cato, caracteres e carateres,
dicção e dição; facto e fato, sector e setor, ceptro
e cetro, concepção e conceção, corrupto e corruto, recepção e receção.
d) Quando, nas sequências interiores mpc, mpç e mpt se eliminar o p de acordo com o determinado
nos parágrafos precedentes, o m passa a n, escrevendo-se, respetivamente, nc, nç e nt:
assumpcionista e assuncionista; assumpção e assunção; assumptível e assuntível; peremptório e
perentório, sumptuoso e suntuoso, sumptuosidade e suntuosidade.
2o) Conservam-se ou eliminam-se, facultativamente, quando se proferem numa pronúncia culta,
quer geral, quer restritamente, ou então quando oscilam entre a prolação e o emudecimento: o
b da sequência bd, em súbdito; o b da sequência bt, em subtil e seus derivados; o g da sequência
gd, em amígdala, amigdalácea, amigdalar, amigdalato, amigdalite, amigdaloide, amigdalopatia,
amigdalotomia; o m da sequência mn, em amnistia, amnistiar, indemne, indemnidade, indemnizar,
omnímodo, omnipotente, omnisciente, etc.; o t da sequência tm, em aritmética e aritmético.
Base V
Das vogais átonas
1o) O emprego do e e do i, assim como o do o e do u em sílaba átona, regula-se fundamentalmente
pela etimologia e por particularidades da história das palavras. Assim, se estabelecem variadíssimas
grafias:
a) Com e e i: ameaça, amealhar, antecipar, arrepiar, balnear, boreal, campeão, cardeal (prelado,
ave, planta; diferente de cardial = "relativo à cárdia"), Ceará, côdea, enseada, enteado, Floreal,
janeanes, lêndea, Leonardo, Leonel, Leonor, Leopoldo, Leote, linear, meão, melhor, nomear,
Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa
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peanha, quase (em vez de quási), real, semear, semelhante, várzea; ameixial, Ameixieira, amial,
amieiro, arrieiro, artilharia, capitânia, cordial (adjetivo e substantivo), corriola, crânio, criar,
diante, diminuir, Dinis, ferregial, Filinto, Filipe (e identicamente Filipa, Filipinas, etc.), freixial,
giesta, Idanha, igual, imiscuir-se, inigualável, lampião, limiar, Lumiar, lumieiro, pátio, pior, tigela,
tijolo, Vimieiro, Vimioso.
b) Com o e u: abolir, Alpendorada, assolar, borboleta, cobiça, consoada, consoar, costume, díscolo,
êmbolo, engolir, epístola, esbaforir-se, esboroar, farândola, femoral, Freixoeira, girândola, goela,
jocoso, mágoa, névoa, nódoa, óbolo, Páscoa, Pascoal, Pascoela, polir, Rodolfo, távoa, tavoada,
távola, tômbola, veio (substantivo e forma do verbo vir); açular, água, aluvião, arcuense, assumir,
bulir, camândulas, curtir, curtume, embutir, entupir, fémur/fêmur, fístula, glândula, ínsua,
jucundo, légua, Luanda, lucubração, lugar, mangual, Manuel, míngua, Nicarágua, pontual, régua,
tábua, tabuada, tabuleta, trégua, vitualha.
2o) Sendo muito variadas as condições etimológicas e histórico-fonéticas em que se fixam graficamente e
e i ou o e u em sílaba átona, é evidente que só a consulta dos vocabulários ou dicionários pode indicar,
muitas vezes, se deve empregar-se e ou i, se o ou u. Há, todavia, alguns casos em que o uso dessas
vogais pode ser facilmente sistematizado. Convém fixar os seguintes:
a) Escrevem-se com e, e não com i, antes da sílaba tónica/tônica, os substantivos e adjetivos que
procedem de substantivos terminados em -eio e -eia, ou com eles estão em relação direta.
Assim se regulam: aldeão, aldeola, aldeota por aldeia; areal, areeiro, areento, Areosa por areia;
aveal por aveia; baleal por baleia; cadeado por cadeia; candeeiro por candeia; centeeira e centeeiro
por centeio; colmeal e colmeeiro por colmeia; correada e correame por correia.
b) Escrevem-se igualmente com e, antes de vogal ou ditongo da sílaba tónica/ tônica, os derivados
de palavras que terminam em e acentuado (o qual pode representar um antigo hiato: ea, ee):
galeão, galeota, galeote, de galé; coreano, de Coreia; daomeano, de Daomé; guineense, de Guiné;
poleame e poleeiro, de polé.
c) Escrevem-se com i, e não com e, antes da sílaba tónica/tônica, os adjetivos e substantivos
derivados em que entram os sufixos mistos de formação vernácula -iano
e -iense, os quais são o resultado da combinação dos sufixos -ano e -ense com um i de origem
analógica (baseado em palavras onde -ano e -ense estão precedidos de i pertencente ao tema:
horaciano, italiano, duniense, flaviense, etc.): açoriano, acriano (de Acre), camoniano, goisiano
(relativo a Damião de Góis), siniense (de Sines), sofocliano, torriano, torriense (de Torre(s)).
d) Uniformizam-se com as terminações -io e -ia (átonas), em vez de -eo e -ea, os substantivos que
constituem variações, obtidas por ampliação, de outros substantivos terminados em vogal: cúmio
(popular), de cume; hástia, de haste; réstia, do antigo reste; véstia, de veste.
e) Os verbos em -ear podem distinguir-se praticamente, grande número de vezes, dos verbos
em -iar, quer pela formação, quer pela conjugação e formação ao mesmo tempo. Estão no
primeiro caso todos os verbos que se prendem a substantivos em -eio ou -eia (sejam formados
em português ou venham já do latim); assim se regulam: aldear, por aldeia; alhear, por alheio;
cear por ceia; encadear por cadeia; pear, por peia; etc. Estão no segundo caso todos os verbos
que têm normalmente flexões rizotónicas/rizotônicas em -eio, -eias, etc.: clarear, delinear,
devanear, falsear, granjear, guerrear, hastear, nomear, semear, etc. Existem, no entanto, verbos
em -iar, ligados a substantivos com as terminações átonas -ia ou -io, que admitem variantes
na conjugação: negoceio ou negocio (cf. negócio); premeio ou premio (cf. prémio/prêmio); etc.
f) Não é lícito o emprego do u final átono em palavras de origem latina. Escreve-se, por isso:
moto, em vez de mótu (por exemplo, na expressão de moto próprio); tribo, em vez de tríbu.
g) Os verbos em -oar distinguem-se praticamente dos verbos em -uar pela sua conjugação nas
formas rizotónicas/rizotônicas, que têm sempre o na sílaba acentuada: abençoar com o, como
texto oficial
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abençoo, abençoas, etc.; destoar, com o, como destoo, destoas, etc.; mas acentuar, com u, como
acentuo, acentuas, etc.
Base VI
Das vogais nasais
Na representação das vogais nasais devem observar-se os seguintes preceitos:
1o) Quando uma vogal nasal ocorre em fim de palavra, ou em fim de elemento seguido de hífen,
representa-se a nasalidade pelo til, se essa vogal é de timbre a; por m, se possui qualquer outro
timbre e termina a palavra; e por n, se é de timbre diverso de a e está seguida de s: afã, grã, Grã-
-Bretanha, lã, órfã, sã-braseiro (forma dialetal; o mesmo que são-brasense = de S. Brás de Alportel);
clarim, tom, vacum; flautins, semitons, zunzuns.
2o) Os vocábulos terminados em -ã transmitem esta representação do a nasal aos advérbios em
-mente que deles se formem, assim como a derivados em que entrem sufixos iniciados por z:
cristãmente, irmãmente, sãmente; lãzudo, maçãzita, manhãzinha, romãzeira.
Base VII
Dos ditongos
1o) Os ditongos orais, que tanto podem ser tónicos/tônicos como átonos, distribuem-se por dois
grupos gráficos principais, conforme o segundo elemento do ditongo é representado por i ou
u: ai, ei, éi, ui; au, eu, éu, iu, ou: braçais, caixote, deveis, eirado, farnéis (mas farneizinhos), goivo,
goivar, lençóis (mas lençoizinhos), tafuis, uivar; cacau, cacaueiro, deu, endeusar, ilhéu (mas ilheuzito),
mediu, passou, regougar.
Obs.: Admitem-se, todavia, excecionalmente, à parte destes dois grupos, os ditongos grafados ae
(= âi ou ai) e ao (âu ou au): o primeiro, representado nos antropónimos/antropônimos Caetano
e Caetana, assim como nos respetivos derivados e compostos (caetaninha, são-caetano, etc.); o
segundo, representado nas combinações da preposição a com as formas masculinas do artigo ou
pronome demonstrativo o, ou seja, ao e aos.
2o) Cumpre fixar, a propósito dos ditongos orais, os seguintes preceitos particulares:
a) É o ditongo grafado ui, e não a sequência vocálica grafada ue, que se emprega nas formas de
2a e 3a pessoas do singular do presente do indicativo e igualmente na da 2a pessoa do singular
do imperativo dos verbos em -uir: constituis, influi, retribui. Harmonizam-se, portanto, essas
formas com todos os casos de ditongo grafado ui de sílaba final ou fim de palavra (azuis, fui,
Guardafui, Rui, etc.); e ficam assim em paralelo gráfico-fonético com as formas de 2a e 3a pessoas
do singular do presente do indicativo e de 2a pessoa do singular do imperativo dos verbos
em -air e em -oer: atrais, cai, sai; móis, remói, sói.
b) É o ditongo grafado ui que representa sempre, em palavras de origem latina, a união de um u
a um i átono seguinte. Não divergem, portanto, formas como fluido de formas como gratuito.
E isso não impede que nos derivados de formas daquele tipo as vogais grafadas u e i se separem:
fluídico, fluidez (u-í).
c) Além dos ditongos orais propriamente ditos, os quais são todos decrescentes, admite-se,
como é sabido, a existência de ditongos crescentes. Podem considerar-se no número deles
as sequências vocálicas pós-tónicas/pós-tônicas, tais as que se representam graficamente
Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa
21
por ea, eo, ia, ie, io, oa, ua, ue, uo: áurea, áureo, calúnia, espécie, exímio, mágoa, míngua,
ténue/tênue, tríduo.
3o) Os ditongos nasais, que na sua maioria tanto podem ser tónicos/tônicos como átonos, pertencem
graficamente a dois tipos fundamentais: ditongos representados
por vogal com til e semivogal;
ditongos representados por uma vogal seguida da consoante nasal m. Eis a indicação de uns e outros:
a) Os ditongos representados por vogal com til e semivogal são quatro, considerando-se apenas
a língua padrão contemporânea: ãe (usado em vocábulos oxítonos e derivados), ãi (usado em
vocábulos anoxítonos e derivados), ão e õe. Exemplos: cães, Guimarães, mãe, mãezinha; cãibas,
cãibeiro, cãibra, zãibo; mão, mãozinha, não, quão, sótão, sotãozinho, tão; Camões, orações,
oraçõezinhas, põe, repões.
Ao lado de tais ditongos pode, por exemplo, colocar-se o ditongo ũi;
mas este, embora se exemplifique numa forma popular como rũi = ruim, representa-se sem o
til nas formas muito e mui, por obediência à tradição.
b) Os ditongos representados por uma vogal seguida da consoante nasal m são dois: am e em.
Divergem, porém, nos seus empregos:
i) am (sempre átono) só se emprega em flexões verbais: amam, deviam, escreveram,
puseram;
ii) em (tónico/tônico ou átono) emprega-se em palavras de categorias morfológicas diversas,
incluindo flexões verbais, e pode apresentar variantes gráficas determinadas pela
posição, pela acentuação ou, simultaneamente, pela posição e pela acentuação: bem,
Bembom, Bemposta, cem, devem, nem, quem, sem, tem, virgem; Bencanta, Benfeito, Benfica,
benquisto, bens, enfim, enquanto, homenzarrão, homenzinho, nuvenzinha, tens,
virgens, amém (variação do ámen), armazém, convém, mantém, ninguém, porém, Santarém,
também; convêm, mantêm, têm (3as pessoas do plural); armazéns, desdéns, convéns,
reténs; Belenzada, vintenzinho.
Base VIII
Da acentuação gráfica das palavras oxítonas
1o) Acentuam-se com acento agudo:
a) As palavras oxítonas terminadas nas vogais tónicas/tônicas abertas grafadas -a, -e ou
-o, seguidas ou não de -s: está, estás, já, olá; até, é, és, olé, pontapé(s); avó(s), dominó(s),
paletó(s), só(s).
Obs.: Em algumas (poucas) palavras oxítonas terminadas em -e tónico/tônico, geralmente
provenientes do francês, esta vogal, por ser articulada nas pronúncias cultas ora como aberta
ora como fechada, admite tanto o acento agudo como o acento circunflexo: bebé ou bebê,
bidé ou bidê, canapé ou canapê, caraté ou caratê, croché ou crochê, guiché ou guichê, matiné
ou matinê, nené ou nenê, ponjé ou ponjê, puré ou purê, rapé ou rapê.
O mesmo se verifica com formas como cocó e cocô, ró (letra do alfabeto grego) e rô. São igualmente
admitidas formas como judô, a par de judo, e metrô, a par de metro.
b) As formas verbais oxítonas, quando, conjugadas com os pronomes clíticos -lo(s) ou -la(s),
ficam a terminar na vogal tónica/tônica aberta grafada -a, após a assimilação e perda das
consoantes finais grafadas -r, -s ou -z: adorá-lo(s) (de adorar-lo(s)), dá-la(s) (de dar-la(s) ou
dá(s)-la(s)), fá-lo(s) (de faz-lo(s)), fá-lo(s)-às (de far-lo(s)-ás), habitá-la(s)-iam (de habitar-
-la(s)-iam), trá-la(s)-á (de trar-la(s)-á).
texto oficial
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c) As palavras oxítonas com mais de uma sílaba terminadas no ditongo nasal grafado
-em (exceto as formas da 3a pessoa do plural do presente do indicativo dos compostos de ter
e vir: retêm, sustêm; advêm, provêm; etc.) ou -ens: acém, detém, deténs, entretém, entreténs,
harém, haréns, porém, provém, provéns, também.
d) As palavras oxítonas com os ditongos abertos grafados -éi, -éu ou -ói, podendo estes dois
últimos ser seguidos ou não de -s: anéis, batéis, fiéis, papéis; céu(s), chapéu(s), ilhéu(s), véu(s);
corrói (de corroer), herói(s), remói (de remoer), sóis.
2o) Acentuam-se com acento circunflexo:
a) As palavras oxítonas terminadas nas vogais tónicas/tônicas fechadas que se grafam -e ou -
o,
seguidas ou não de -s: cortês, dê, dês (de dar), lê, lês (de ler), português, você(s); avô(s), pôs (de
pôr), robô(s).
b) As formas verbais oxítonas, quando, conjugadas com os pronomes clíticos -lo(s) ou -la(s),
ficam a terminar nas vogais tónicas/tônicas fechadas que se grafam -e ou -o, após a assimilação
e perda das consoantes finais grafadas -r, -s ou -z: detê-lo(s) (de deter-lo(s)), fazê-la(s) (de
fazer-la(s)), fê-lo(s) (de fez-lo(s)), vê-la(s) (de ver-la(s)), compô-la(s) (de compor-la(s)), repô-
-la(s) (de repor-la(s)), pô-la(s) (de pôr-la(s) ou pôs-la(s)).
3o) Prescinde-se de acento gráfico para distinguir palavras oxítonas homógrafas, mas heterofónicas/
heterofônicas, do tipo de cor (ô), substantivo, e cor (ó), elemento da locução de cor; colher (ê), verbo,
e colher (é), substantivo. Excetua-se a forma verbal pôr, para a distinguir da preposição por.
Base IX
Da acentuação gráfica das palavras paroxítonas
1o) As palavras paroxítonas não são em geral acentuadas graficamente: enjoo, grave, homem, mesa,
Tejo, vejo, velho, voo; avanço, floresta; abençoo, angolano, brasileiro; descobrimento, graficamente,
moçambicano.
2o) Recebem, no entanto, acento agudo:
a) As palavras paroxítonas que apresentam, na sílaba tónica/tônica, as vogais abertas grafadas a, e, o
e ainda i ou u e que terminam em -l, -n, -r, -x e -ps, assim como, salvo raras exceções, as respectivas
formas do plural, algumas das quais passam a proparoxítonas: amável (pl. amáveis), Aníbal,
dócil (pl. dóceis), dúctil (pl. dúcteis), fóssil (pl. fósseis), réptil (pl. répteis; var. reptil, pl. reptis); cármen
(pl. cármenes ou carmens; var. carme, pl. carmes); dólmen (pl. dólmenes ou dolmens), éden
(pl. édenes ou edens), líquen (pl. líquenes), lúmen (pl. lúmenes ou lumens); açúcar (pl. açúcares),
almíscar (pl. almíscares), cadáver (pl. cadáveres), caráter ou carácter (mas pl. carateres ou caracteres),
ímpar (pl. ímpares); Ájax, córtex (pl. córtex; var. córtice, pl. córtices), índex (pl. index; var.
índice, pl. índices), tórax (pl. tórax ou tóraxes; var. torace, pl. toraces); bíceps (pl. bíceps; var. bicípite,
pl. bicípites), fórceps (pl. fórceps; var. fórcipe, pl. fórcipes).
Obs.: Muito poucas palavras deste tipo, com as vogais tónicas/tônicas grafadas e e o em fim
de sílaba, seguidas das consoantes nasais grafadas m e n, apresentam oscilação de timbre
nas pronúncias cultas da língua e, por conseguinte, também de acento gráfico (agudo ou
circunflexo): sémen e sêmen, xénon e xênon; fémur e fêmur, vómer e vômer; Fénix e Fênix,
ónix e ônix.
b) As palavras paroxítonas que apresentam, na sílaba tónica/tônica, as vogais abertas grafadas
a, e, o e ainda i ou u e que terminam em -ã(s), -ão(s), -ei(s), -i(s), -um, -uns ou -us: órfã (pl.
órfãs), acórdão (pl. acórdãos), órfão (pl. órfãos), órgão (pl. órgãos), sótão (pl. sótãos); hóquei,
Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa
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jóquei (pl. jóqueis), amáveis (pl. de amável), fáceis (pl. de fácil), fósseis (pl. de fóssil), amáreis
(de amar), amáveis (id.), cantaríeis (de cantar), fizéreis (de fazer), fizésseis (id.); beribéri (pl.
beribéris), bílis (sg. e pl.), íris (sg. e pl.), júri (pl. júris), oásis (sg. e pl.); álbum (pl. álbuns), fórum
(pl. fóruns); húmus (sg. e pl.), vírus (sg. e pl.).
Obs.: Muito poucas paroxítonas deste tipo, com as vogais tónicas/tônicas grafadas e e o em
fim de sílaba, seguidas das consoantes nasais grafadas m e n, apresentam oscilação de timbre
nas pronúncias cultas da língua, o qual é assinalado com acento agudo, se aberto, ou circunflexo,
se fechado: pónei e pônei; gónis e gônis, pénis e pênis, ténis e tênis; bónus e bônus, ónus e
ônus, tónus e tônus, Vénus e Vênus.
3o) Não se acentuam graficamente os ditongos representados por ei e oi da sílaba tónica/tônica das
palavras paroxítonas, dado que existe oscilação em muitos casos entre o fechamento e a abertura
na sua articulação: assembleia, boleia, ideia, tal como aldeia, baleia, cadeia, cheia, meia; coreico,
epopeico, onomatopeico, proteico; alcaloide, apoio (do verbo apoiar), tal como apoio (subst.), Azoia,
boia, boina, comboio (subst.), tal como comboio, comboias, etc. (do verbo comboiar), dezoito, estroina,
heroico, introito, jiboia, moina, paranoico, zoina.
4o) É facultativo assinalar com acento agudo as formas verbais de pretérito perfeito
do indicativo, do
tipo amámos, louvámos, para as distinguir das correspondentes formas do presente do indicativo
(amamos, louvamos), já que o timbre da vogal tónica/tônica é aberto naquele caso em certas
variantes do português.
5o) Recebem acento circunflexo:
a) As palavras paroxítonas que contêm, na sílaba tónica/tônica, as vogais fechadas
com a grafia
a, e, o e que terminam em -l, -n, -r, ou -x, assim como as respetivas formas do plural, algumas
das quais se tornam proparoxítonas: cônsul (pl. cônsules), pênsil (pl. pênseis), têxtil (pl. têxteis);
cânon, var. cânone (pl. cânones), plâncton (pl. plânctons); Almodôvar, aljôfar (pl. aljôfares),
âmbar (pl. âmbares), Câncer, Tânger; bômbax (sg. e pl.), bômbix, var. bômbice (pl. bômbices).
b) As palavras paroxítonas que contêm, na sílaba tónica/tônica, as vogais fechadas
com a grafia
a, e, o e que terminam em -ão(s), -eis, -i(s) ou -us: bênção(s), côvão(s), Estêvão, zângão(s);
devêreis (de dever), escrevêsseis (de escrever), fôreis (de ser e ir), fôsseis (id.), pênseis (pl. de
pênsil), têxteis (pl. de têxtil); dândi(s), Mênfis; ânus.
c) As formas verbais têm e vêm, 3as pessoas do plural do presente do indicativo de ter e vir, que
são foneticamente paroxítonas (respetivamente /tãjãj/, /vãjãj/ ou /tẽẽj/, /vẽẽj/ ou ainda /tẽjẽj/,
/vẽjẽj/; cf. as antigas grafias preteridas, tẽem, vẽem), a fim de se distinguirem de tem e vem,
3as pessoas do singular do presente do indicativo ou 2as pessoas do singular do imperativo; e
também as correspondentes formas compostas, tais como: abstêm (cf. abstém), advêm (cf. advém),
contêm (cf. contém), convêm (cf. convém), desconvêm (cf. desconvém), detêm (cf. detém),
entretêm (cf. entretém), intervêm (cf. intervém), mantêm (cf. mantém), obtêm (cf. obtém), provêm
(cf. provém), sobrevêm (cf. sobrevém).
Obs.: Também neste caso são preteridas as antigas grafias detẽem, intervẽem, mantẽem,
provẽem, etc.
6o) Assinalam-se com acento circunflexo:
a) Obrigatoriamente, pôde (3a pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo), que se
distingue da correspondente forma do presente do indicativo (pode).
b) Facultativamente, dêmos (1a pessoa do plural do presente do conjuntivo), para se distinguir
da correspondente forma do pretérito perfeito do indicativo (demos);
fôrma (substantivo),
distinta de forma (substantivo; 3a pessoa do singular do presente do indicativo ou 2a pessoa
do singular do imperativo do verbo formar).
texto oficial
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7o) Prescinde-se de acento circunflexo nas formas verbais paroxítonas que contêm um e tónico/
tônico oral fechado em hiato com a terminação -em da 3a pessoa do plural do presente do indicativo
ou do conjuntivo, conforme os casos: creem, deem (conj.), descreem, desdeem (conj.), leem,
preveem, redeem (conj.), releem, reveem, tresleem, veem.
8o) Prescinde-se igualmente do acento circunflexo para assinalar a vogal tónica/tônica fechada com
a grafia o em palavras paroxítonas como enjoo, substantivo e flexão de enjoar, povoo, flexão de
povoar, voo, substantivo e flexão de voar, etc.
9o) Prescinde-se, quer do acento agudo, quer do circunflexo, para distinguir palavras paroxítonas
que, tendo respectivamente vogal tónica/tônica aberta ou fechada,
são homógrafas de palavras
proclíticas. Assim, deixam de se distinguir pelo acento gráfico: para(á), flexão de parar, e para,
preposição; pela(s) (é), substantivo e flexão de pelar, e pela(s), combinação de per e la(s); pelo(é),
flexão de pelar, pelo(s) (ê), substantivo ou combinação de per e lo(s); polo(s) (ó), substantivo, e
polo(s), combinação antiga e popular de por e lo(s); etc.
10o) Prescinde-se igualmente de acento gráfico para distinguir paroxítonas homógrafas heterofónicas/
heterofônicas do tipo de acerto (ê), substantivo, e acerto (é), flexão de acertar; acordo (ô), substantivo,
e acordo (ó), flexão de acordar; cerca (ê), substantivo, advérbio e elemento da locução prepositiva cerca
de, e cerca (é), flexão de cercar; coro (ô), substantivo, e coro (ó), flexão de corar; deste (ê), contracção
da preposição de com o demonstrativo este, e deste (é), flexão de dar; fora (ô), flexão de ser e ir, e fora
(ó), advérbio, interjeição e substantivo; piloto (ô), substantivo, e piloto (ó), flexão de pilotar; etc.
Base X
Da acentuação das vogais tónicas/tônicas grafadas i e u
das palavras oxítonas e paroxítonas
1o) As vogais tónicas/tônicas grafadas i e u das palavras oxítonas e paroxítonas levam acento agudo
quando antecedidas de uma vogal com que não formam ditongo e desde que não constituam
sílaba com a eventual consoante seguinte, excetuando o caso de s: adaís (pl. de adail), aí, atraí
(de atrair), baú, caís (de cair), Esaú, jacuí, Luís, país, etc.; alaúde, amiúde, Araújo, Ataíde, atraíam
(de atrair), atraísse (id.), baía, balaústre, cafeína, ciúme, egoísmo, faísca, faúlha, graúdo, influíste
(de influir), juízes, Luísa, miúdo, paraíso, raízes, recaída, ruína, saída, sanduíche, etc.
2o) As vogais tónicas/tônicas grafadas i e u das palavras oxítonas e paroxítonas não levam acento agudo
quando, antecedidas de vogal com que não formam ditongo, constituem sílaba com a consoante seguinte,
como é o caso de nh, l, m, n, r e z: bainha, moinho, rainha; adail, paul, Raul; Aboim, Coimbra,
ruim; ainda, constituinte, oriundo, ruins, triunfo; atrair, demiurgo, influir, influirmos; juiz, raiz; etc.
3o) Em conformidade com as regras anteriores leva acento agudo a vogal tónica/tônica grafada i das
formas oxítonas terminadas em r dos verbos em -air e -uir, quando estas se combinam com as
formas pronominais clíticas -lo(s), -la(s), que levam à assimilação e perda daquele -r: atraí-lo(s)
(de atrair-lo(s)); atraí-lo(s)-ia (de atrair-lo(s)-ia); possuí-la(s) (de possuir-la(s)); possuí-la(s)-ia
(de possuir-la(s)-ia).
4o) Prescinde-se do acento agudo nas vogais tónicas/tônicas grafadas i e u das palavras paroxítonas,
quando elas estão precedidas de ditongo: baiuca, boiuno, cauila (var. cauira), cheiinho (de cheio),
saiinha (de saia).
5o) Levam, porém, acento agudo as vogais tónicas/tônicas grafadas i e u quando, precedidas de ditongo,
pertencem a palavras oxítonas e estão em posição final ou seguidas de s: Piauí, teiú, teiús,
tuiuiú, tuiuiús.
Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa
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Obs.: Se, neste caso, a consoante final for diferente de s, tais vogais dispensam o acento agudo:
cauim.
6o) Prescinde-se do acento agudo nos ditongos tónicos/tônicos grafados iu e ui, quando precedidos
de vogal: distraiu, instruiu, pauis (pl. de paul).
7o) Os verbos arguir e redarguir prescindem do acento agudo na vogal tónica/tônica grafada u nas formas
rizotónicas/rizotônicas: arguo, arguis, argui, arguem; argua, arguas, argua, arguam. Os verbos
do tipo de aguar, apaniguar, apaziguar, apropinquar, averiguar, desaguar, enxaguar, obliquar, delinquir
e afins, por oferecerem dois paradigmas, ou têm as formas rizotónicas/rizotônicas igualmente
acentuadas no u mas sem marca gráfica (a exemplo de averiguo, averiguas, averigua, averiguam;
averigue, averigues, averigue, averiguem; enxaguo, enxaguas, enxagua, enxaguam; enxague, enxagues,
enxague, enxaguem, etc.; delinquo, delinquis, delinqui, delinquem; mas delinquimos, delinquís)
ou têm as formas rizotónicas/rizotônicas acentuadas fónica/fônica e graficamente nas vogais a ou i
radicais (a exemplo de averíguo, averíguas, averígua, averíguam; averígue, averígues, averígue, averíguem;
enxáguo, enxáguas, enxágua, enxáguam; enxágue, enxágues, enxágue, enxáguem; delínquo,
delínques, delínque, delínquem; delínqua, delínquas, delínqua, delínquam).
Obs.: Em conexão com os casos acima referidos, registre-se que os verbos em -ingir (atingir, cingir,
constringir, infringir, tingir, etc.) e os verbos em -inguir sem prolação do u (distinguir, extinguir,
etc.) têm grafias absolutamente regulares (atinjo, atinja, atinge, atingimos, etc.; distingo, distinga,
distingue, distinguimos,
etc.).
Base XI
Da acentuação gráfica das palavras proparoxítonas
1o) Levam acento agudo:
a) As palavras proparoxítonas que apresentam na sílaba tónica/tônica as vogais abertas grafadas
a, e, o e ainda i, u ou ditongo oral começado por vogal aberta: árabe, cáustico, Cleópatra,
esquálido, exército, hidráulico, líquido, míope, músico, plástico, prosélito, público, rústico,
tétrico, último.
b) As chamadas proparoxítonas aparentes, isto é, que apresentam na sílaba tónica/tônica as
vogais abertas grafadas a, e, o e ainda i, u ou ditongo oral começado por vogal aberta, e
que terminam por sequências vocálicas pós-tónicas/pós-tônicas praticamente consideradas
como ditongos crescentes (-ea, -eo, -ia, -ie, -io, -oa, -ua, -uo, etc.): álea, náusea; etéreo, níveo;
enciclopédia, glória; barbárie, série; lírio, prélio; mágoa, nódoa; exígua, língua; exíguo, vácuo.
2o) Levam acento circunflexo:
a) As palavras proparoxítonas que apresentam na sílaba tónica/tônica vogal fechada ou ditongo
com a vogal básica fechada: anacreôntico, brêtema, cânfora, cômputo, devêramos (de dever),
dinâmico, êmbolo, excêntrico, fôssemos (de ser e ir), Grândola, hermenêutica, lâmpada, lôstrego,
lôbrego, nêspera, plêiade, sôfrego, sonâmbulo, trôpego.
b) As chamadas proparoxítonas aparentes, isto é, que apresentam vogais fechadas na sílaba tónica/
tônica e terminam por sequências vocálicas pós-tónicas/pós-tônicas praticamente consideradas
como ditongos crescentes: amêndoa, argênteo, côdea, Islândia, Mântua, serôdio.
3o) Levam acento agudo ou acento circunflexo as palavras proparoxítonas, reais ou aparentes, cujas
vogais tónicas/tônicas grafadas e ou o estão em final de sílaba e são seguidas das consoantes
nasais grafadas m ou n, conforme o seu timbre é, respetivamente, aberto ou fechado nas pronúncias
cultas da língua: académico/acadêmico, anatómico/anatômico, cénico/cênico, cómodo/
texto oficial
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cômodo, fenómeno/fenômeno, género/gênero, topónimo/topônimo; Amazónia/Amazônia, António/
Antônio, blasfémia/blasfêmia, fémea/fêmea, gémeo/gêmeo, génio/gênio, ténue/tênue.
Base XII
Do emprego do acento grave
Emprega-se o acento grave:
a) Na contração da preposição a com as formas femininas do artigo ou pronome demonstrativo
o: à (de a+a), às (de a+as).
b) Na contração da preposição a com os demonstrativos aquele, aquela, aqueles, aquelas e aquilo
ou ainda da mesma preposição com os compostos aqueloutro e suas flexões: àquele(s),
àquela(s), àquilo; àqueloutro(s), àqueloutra(s).
Base XIII
Da supressão dos acentos em palavras derivadas
1o) Nos advérbios em -mente, derivados de adjetivos com acento agudo ou circunflexo, estes são
suprimidos: avidamente (de ávido), debilmente (de débil), facilmente (de fácil), habilmente (de
hábil), ingenuamente (de ingénuo/ingênuo), lucidamente (de lúcido), mamente (de má), somente
(de só), unicamente (de único), etc.; candidamente (de cândido), cortesmente (de cortês), dinamicamente
(de dinâmico), espontaneamente (de espontâneo), portuguesmente (de português), romanticamente
(de romântico).
2o) Nas palavras derivadas que contêm sufixos iniciados por z e cujas formas de base apresentam vogal
tónica/tônica com acento agudo ou circunflexo, estes são suprimidos: aneizinhos (de anéis),
avozinha (de avó), bebezito (de bebé/bebê), cafezada (de café), chepeuzinho (de chapéu), chazeiro
(de chá), heroizito (de herói), ilheuzito (de ilhéu), mazinha (de má), orfãozinho (de órfão), vintenzito
(de vintém), etc.; avozinho (de avô), bençãozinha (de bênção), lampadazita (de lâmpada),
pessegozito (de pêssego).
Base XIV
Do trema
O trema, sinal de diérese, é inteiramente suprimido em palavras portuguesas ou aportuguesadas.
Nem sequer se emprega na poesia, mesmo que haja separação de duas vogais que normalmente
formam ditongo: saudade, e não saüdade, ainda que tetrassílabo; saudar, e não saüdar, ainda que
trissílabo; etc.
Em virtude desta supressão, abstrai-se de sinal especial, quer para distinguir, em sílaba átona,
um i ou um u de uma vogal da sílaba anterior, quer para distinguir, também em sílaba átona, um i
ou um u de um ditongo precedente, quer para distinguir, em sílaba tónica/tônica ou átona, o u de
gu ou de qu de um e ou i seguintes: arruinar, constituiria, depoimento, esmiuçar, faiscar, faulhar,
oleicultura, paraibano, reunião; abaiucado, auiqui, caiuá, cauixi, piauiense; aguentar, anguiforme,
arguir, bilíngue (ou bilingue), lingueta, linguista, linguístico; cinquenta, equestre, frequentar, tranquilo,
ubiquidade.
Obs.: Conserva-se, no entanto, o trema, de acordo com a Base I, 3o, em palavras derivadas de nomes
próprios estrangeiros: hübneriano, de Hübner, mülleriano, de Müller, etc.
Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa
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Base XV
Do hífen em compostos, locuções e encadeamentos vocabulares
1o) Emprega-se o hífen nas palavras compostas por justaposição que não contêm formas de ligação
e cujos elementos, de natureza nominal, adjetival, numeral ou verbal, constituem uma unidade
sintagmática e semântica e mantêm acento próprio, podendo dar-se o caso de o primeiro elemento
estar reduzido: ano-luz, arcebispo-bispo, arco-íris, decreto-lei, és-sueste, médico-cirurgião,
rainha-cláudia, tenente-coronel, tio-avô, turma-piloto; alcaide-mor, amor-perfeito, guarda-noturno,
mato-grossense, norte-americano, porto-alegrense, sul-africano; afro-asiático, afro-luso-brasileiro,
azul-escuro, luso-brasileiro, primeiro-ministro, primeiro-sargento, primo-infecção, segunda-
-feira; conta-gotas, finca-pé, guarda-chuva.
Obs.: Certos compostos, em relação aos quais se perdeu, em certa medida, a noção de composição,
grafam-se aglutinadamente: girassol, madressilva, mandachuva, pontapé, paraquedas,
paraquedista, etc.
2o) Emprega-se o hífen nos topónimos/topônimos compostos, iniciados pelos adjetivos grã, grão ou
por forma verbal ou cujos elementos estejam ligados por artigo: Grã-Bretanha, Grão-Pará; Abre-
-Campo; Passa-Quatro, Quebra-Costas, Quebra-Dentes, Traga-Mouros, Trinca-Fortes; Albergaria-
a-Velha, Baía de Todos-os-Santos, Entre-os-Rios, Montemor-o-Novo, Trás-os-Montes.
Obs.: Os outros topónimos/topônimos compostos escrevem-se com os elementos separados,
sem hífen: América do Sul, Belo Horizonte, Cabo Verde, Castelo Branco, Freixo de Espada à Cinta,
etc. O topónimo/topônimo Guiné-Bissau é, contudo, uma exceção consagrada pelo uso.
3o) Emprega-se o hífen nas palavras compostas que designam espécies botânicas e zoológicas, estejam
ou não ligadas por preposição ou qualquer outro elemento: abóbora-menina, couve-flor, erva-
doce, feijão-verde; bênção-de-deus, erva-do-chá, ervilha-de-cheiro, fava-de-santo-inácio, bem-
-me-quer (nome de planta que também se dá à margarida e ao malmequer); andorinha-grande,
cobra-capelo, formiga-branca; andorinha-do-mar, cobra-d’água, lesma-de-conchinha; bem-te-vi
(nome de um pássaro).
4o) Emprega-se o hífen nos compostos com os advérbios bem e mal, quando estes formam com o
elemento que se lhes segue uma unidade sintagmática e semântica e tal elemento começa por
vogal ou h. No entanto, o advérbio bem, ao contrário de mal, pode não se aglutinar com palavras
começadas por consoante. Eis alguns exemplos das várias situações: bem-aventurado, bem-estar,
bem-humorado; mal-afortunado, mal-estar, mal-humorado; bem-criado (cf. malcriado), bem-ditoso
(cf. malditoso), bem-falante (cf. malfalante), bem-mandado (cf. malmandado), bem-nascido
(cf. malnascido), bem-soante (cf. malsoante), bem-visto (cf. malvisto).
Obs.: Em muitos compostos, o advérbio bem aparece aglutinado com o segundo elemento, quer
este tenha ou não vida à parte: benfazejo, benfeito, benfeitor, benquerença, etc.
5o) Emprega-se o hífen nos compostos com os elementos além, aquém, recém e sem: além-Atlántico/
além-Atlântico, além-mar, além-fronteiras; aquém-mar, aquém-Pirenéus/aquém-Pireneus;
recém-casado, recém-nascido; sem-cerimónia/sem-cerimônia, sem-número, sem-vergonha.
6o) Nas locuções de qualquer tipo, sejam elas substantivas, adjetivas, pronominais,
adverbiais, prepositivas
ou conjuncionais, não se emprega em geral o hífen, salvo algumas exceções já consagradas
pelo uso (como é o caso de água-de-colónia/água-de-colônia, arco-da-velha, cor-de-rosa,
mais-que-perfeito, pé-de-meia, ao deus-dará, à queima-roupa). Sirvam, pois, de exemplo de emprego
sem hífen as seguintes locuções:
a) Substantivas: cão de guarda, fim de semana, sala de jantar;
texto oficial
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b) Adjetivas: cor de açafrão, cor de café com leite, cor de vinho;
c) Pronominais: cada um, ele próprio, nós mesmos, quem quer que seja;
d) Adverbiais: à parte (note-se o substantivo aparte), à vontade, de mais (locução que se contrapõe
a de menos; note-se demais, advérbio, conjunção, etc.), depois de amanhã, em cima, por isso;
e) Prepositivas: abaixo de, acerca de, acima de, a fim de, a par de, à parte de, apesar de, aquando
de, debaixo de, enquanto a, por baixo de, por cima de, quanto a;
f) Conjuncionais: afim de que, ao passo que, contanto que, logo que, por conseguinte, visto que.
7o) Emprega-se o hífen para ligar duas ou mais palavras que ocasionalmente se combinam, formando,
não propriamente vocábulos, mas encadeamentos vocabulares (tipo: a divisa Liberdade-
-Igualdade-Fraternidade, a ponte Rio-Niterói, o percurso Lisboa-Coimbra-Porto, a ligação Angola-
Moçambique), e bem assim nas combinações históricas ou ocasionais de topónimos/topônimos
(tipo: Áustria-
Hungria, Alsácia-Lorena, Angola-Brasil, Tóquio-Rio de Janeiro, etc.).
Base XVI
Do hífen nas formações por prefixação,
recomposição e sufixação
1o) Nas formações com prefixos (como, por exemplo: ante-, anti-, circum-, co-, contra-, entre-,
extra-, hiper-, infra-, intra-, pós-, pré-, pró-, sobre-, sub-, super-, supra-, ultra-, etc.) e em formações
por recomposição, isto é, com elementos não autónomos/ autônomos ou falsos prefixos,
de origem grega e latina (tais como: aero-, agro-, arqui-, auto-, bio-, eletro-, geo-, hidro-, inter-,
macro-, maxi-, micro-, mini-, multi-, neo-, pan-, pluri-, proto-, pseudo-, retro-, semi-, tele-, etc.),
só se emprega o hífen nos seguintes casos:
a) Nas formações em que o segundo elemento começa por h: anti-higiénico/anti-higiênico, circum-
hospitalar, co-herdeiro, contra-harmónico/contra-harmônico, extra-humano, pré-história,
sub-hepático, super-homem, ultra-hiperbólico, arqui-hipérbole, eletro-higrómetro/eletro-higrômetro,
geo-história, neo-helénico/neo-helênico, pan-helenismo, semi-hospitalar.
Obs.: Não se usa, no entanto, o hífen em formações que contêm em geral os prefixos des- e in- e nas
quais o segundo elemento perdeu o h inicial: desumano, desumidificar, inábil, inumano, etc.
b) Nas formações em que o prefixo ou pseudoprefixo termina na mesma vogal com que se inicia
o segundo elemento: anti-ibérico, contra-almirante, infra-axilar, supra-auricular, arqui-
-irmandade, auto-observação, eletro-ótica, micro-onda, semi-interno.
Obs.: Nas formações com o prefixo co-, este aglutina-se em geral com o segundo elemento
mesmo quando iniciado por o: coobrigação, coocupante, coordenar, cooperação, cooperar, etc.
c) Nas formações com os prefixos circum- e pan-, quando o segundo elemento começa por vogal,
m ou n (além de h, caso já considerado atrás na alínea a): circum-escolar, circum-murado,
circum-navegação; pan-africano, pan-mágico, pan-negritude.
d) Nas formações com os prefixos hiper-, inter- e super-, quando combinados com elementos
iniciados por r: hiper-requintado, inter-resistente, super-revista.
e) Nas formações com os prefixos ex- (com o sentido de estado anterior ou cessamento), sota-,
soto-, vice- e vizo-: ex-almirante, ex-diretor, ex-hospedeira, ex-presidente, ex-primeiro-ministro,
ex-rei, sota-piloto, soto-mestre, vice-presidente, vice-reitor, vizo-rei.
f) Nas formações com os prefixos tónicos/tônicos acentuados graficamente pós-, pré- e pró-,
quando o segundo elemento tem vida à parte (ao contrário do que acontece com as corres-
Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa
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pondentes formas átonas que se aglutinam com o elemento seguinte): pós-graduação, pós-
-tónico/pós-tônico (mas pospor); pré-escolar, pré-natal (mas prever); pró-africano, pró-europeu
(mas promover).
2o) Não se emprega, pois, o hífen:
a) Nas formações em que o prefixo ou falso prefixo termina em vogal e o segundo elemento
começa por r ou s, devendo estas consoantes duplicar-se, prática aliás já generalizada em
palavras deste tipo pertencentes aos domínios científico e técnico. Assim: antirreligioso,
antissemita, contrarregra, contrassenha, cosseno, extrarregular, infrassom, minissaia, tal como
biorritmo, biossatélite, eletrossiderurgia, microssistema, microrradiografia.
b) Nas formações em que o prefixo ou pseudoprefixo termina em vogal e o segundo elemento
começa por vogal diferente, prática esta em geral já adotada também para os termos técnicos
e científicos. Assim: antiaéreo, coeducação, extraescolar, aeroespacial, autoestrada,
autoaprendizagem, agroindustrial, hidroelétrico, plurianual.
3o) Nas formações por sufixação apenas se emprega o hífen nos vocábulos terminados por sufixos de
origem tupi-guarani que representam formas adjetivas, como açu, guaçu e mirim, quando o primeiro
elemento acaba em vogal acentuada graficamente ou quando a pronúncia exige a distinção
gráfica dos dois elementos: amoré-guaçu, anajá-mirim, andá-açu, capim-açu, Ceará-Mirim.
Base XVII
Do hífen na ênclise, na tmese e com o verbo haver
1o) Emprega-se o hífen na ênclise e na tmese: amá-lo, dá-se, deixa-o, partir-lhe; amá-lo-ei, enviar-
-lhe-emos.
2o) Não se emprega o hífen nas ligações da preposição de às formas monossilábicas do presente do
indicativo do verbo haver: hei de, hás de, hão de, etc.
Obs.: 1. Embora estejam consagradas pelo uso as formas verbais quer e requer, dos verbos querer
e requerer, em vez de quere e requere, estas últimas formas conservam-se, no entanto, nos casos
de ênclise: quere-o(s), requere-o(s). Nestes contextos, as formas (legítimas, aliás) qué-lo e requé-lo
são pouco usadas.
2. Usa-se também o hífen nas ligações de formas pronominais enclíticas ao advérbio eis (eis-me,
ei-lo) e ainda nas combinações de formas pronominais do tipo no-lo, vo-las, quando em próclise
(por ex.: esperamos que no-lo comprem).
Base XVIII
Do apóstrofo
1o) São os seguintes os casos de emprego do apóstrofo:
a) Faz-se uso do apóstrofo para cindir graficamente uma contração ou aglutinação vocabular,
quando um elemento ou fração respetiva pertence propriamente a um conjunto vocabular
distinto: d’Os Lusíadas, d’Os Sertões; n’Os Lusíadas, n’Os Sertões; pel’Os Lusíadas, pel’Os Sertões.
Nada obsta, contudo, a que estas escritas sejam substituídas por empregos de preposições
íntegras, se o exigir razão especial de clareza, expressividade ou ênfase: de Os Lusíadas,
em Os Lusíadas, por Os Lusíadas, etc.
texto oficial
30
As cisões indicadas são análogas às dissoluções gráficas que se fazem, embora sem emprego
do apóstrofo, em combinações da preposição a com palavras pertencentes a conjuntos vocabulares
imediatos: a A Relíquia, a Os Lusíadas (exemplos: importância atribuída a A Relíquia;
recorro a Os Lusíadas). Em tais casos, como é óbvio, entende-se que a dissolução gráfica nunca
impede na leitura a combinação fonética: a A = à, a Os = aos, etc.
b) Pode cindir-se por meio do apóstrofo uma contração ou aglutinação vocabular, quando um
elemento ou fração respetiva é forma pronominal e se lhe quer dar realce com o uso de maiúscula:
d’Ele, n’Ele, d’Aquele, n’Aquele, d’O, n’O, pel’O, m’O, t’O, lh’O, casos em que a segunda parte,
forma masculina, é aplicável a Deus, a Jesus, etc.; d’Ela, n’Ela, d’Aquela, n’Aquela, d’A, n’A,
pel’A, tu’A, t’A, lh’A, casos em que a segunda parte, forma feminina, é aplicável à mãe de Jesus,
à Providência, etc. Exemplos frásicos: confiamos n’O que nos salvou; esse milagre revelou-m’O;
está n’Ela a nossa esperança; pugnemos pel’A que é nossa padroeira.
À semelhança das cisões indicadas, pode dissolver-se graficamente, posto que sem uso do
apóstrofo, uma combinação da preposição a com uma forma pronominal realçada pela maiúscula:
a O, a Aquele, a Aquela (entendendo-se que a dissolução gráfica nunca impede na
leitura a combinação fonética: a O = ao, a Aquela = àquela, etc.). Exemplos frásicos: a O que
tudo pode; a Aquela que nos protege.
c) Emprega-se o apóstrofo nas ligações das formas santo e santa a nomes do hagiológio, quando
importa representar a elisão das vogais finais o e a: Sant’Ana, Sant’Iago, etc. É, pois, correto
escrever: Calçada de Sant’Ana, Rua de Sant’Ana; culto de Sant’Iago, Ordem de Sant’Iago. Mas,
se as ligações deste género/gênero, como é o caso destas mesmas Sant’Ana e Sant’Iago, se tornam
perfeitas unidades mórficas, aglutinam-se os dois elementos: Fulano de Santana, ilhéu
de Santana, Santana de Parnaíba; Fulano de Santiago, ilha de Santiago, Santiago do Cacém.
Em paralelo com a grafia Sant’Ana e congéneres/congêneres, emprega-se também o apóstrofo
nas ligações de duas formas antroponímicas, quando é necessário indicar que na primeira se
elide um o final: Nun’Álvares, Pedr’Eanes.
Note-se que nos casos referidos as escritas com apóstrofo, indicativas de elisão, não impedem,
de modo algum, as escritas sem apóstrofo: Santa Ana, Nuno Álvares,
Pedro Álvares, etc.
d) Emprega-se o apóstrofo para assinalar, no interior de certos compostos, a elisão do e da preposição
de, em combinação com substantivos: borda-d’água, cobra-
d’água, copo-d’água, estrela-
d’alva, galinha-d’água, mãe-d’água, pau-d’água, pau-d’alho, pau-d’arco, pau-d’óleo.
2o) São os seguintes os casos em que não se usa o apóstrofo:
Não é admissível o uso do apóstrofo nas combinações das preposições de e em com as formas do
artigo definido, com formas pronominais diversas e com formas adverbiais (excetuado o que se
estabelece nas alíneas 1o) a) e 1o) b)). Tais combinações são representadas:
a) Por uma só forma vocabular, se constituem, de modo fixo, uniões perfeitas:
i) do, da, dos, das; dele, dela, deles, delas; deste, desta, destes, destas, disto; desse, dessa,
desses, dessas, disso; daquele, daquela, daqueles, daquelas, daquilo; destoutro, destoutra,
destoutros, destoutras; dessoutro, dessoutra, dessoutros, dessoutras; daqueloutro,
daqueloutra, daqueloutros, daqueloutras; daqui; daí; dali; dacolá; donde; dantes (= antigamente);
ii) no, na, nos, nas; nele, nela, neles, nelas; neste, nesta, nestes, nestas, nisto; nesse, nessa,
nesses, nessas, nisso; naquele, naquela, naqueles, naquelas, naquilo;
nestoutro, nestoutra,
nestoutros, nestoutras; nessoutro, nessoutra, nessoutros, nessoutras; naqueloutro,
naqueloutra, naqueloutros, naqueloutras; num, numa, nuns, numas; noutro, noutra,
noutros, noutras, noutrem; nalgum, nalguma, nalguns,
nalgumas, nalguém.
Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa
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b) Por uma ou duas formas vocabulares, se não constituem, de modo fixo, uniões perfeitas
(apesar de serem correntes com esta feição em algumas pronúncias): de um, de uma, de
uns, de umas, ou dum, duma, duns, dumas; de algum, de alguma, de alguns, de algumas, de
alguém, de algo, de algures, de alhures, ou dalgum, dalguma, dalguns, dalgumas, dalguém,
dalgo, dalgures, dalhures; de outro, de outra, de outros, de outras, de outrem, de outrora,
ou doutro, doutra, doutros, doutras, doutrem, doutrora; de aquém ou daquém; de além ou
dalém; de entre ou dentre.
De acordo com os exemplos deste último tipo, tanto se admite o uso da locução adverbial de
ora avante como do advérbio que representa a contração dos seus três elementos: doravante.
Obs.: Quando a preposição de se combina com as formas articulares ou pronominais o, a, os,
as, ou com quaisquer pronomes ou advérbios começados por vogal, mas acontece estarem
essas palavras integradas em construções de infinitivo, não se emprega o apóstrofo, nem se
funde a preposição com a forma imediata, escrevendo-se estas duas separadamente: a fim de
ele compreender; apesar de o não ter visto; em virtude de os nossos pais serem bondosos; o facto/
fato de o conhecer;
por causa de aqui estares.
Base XIX
Das minúsculas e maiúsculas
1o) A letra minúscula inicial é usada:
a) Ordinariamente, em todos os vocábulos da língua nos usos correntes.
b) Nos nomes dos dias, meses, estações do ano: segunda-feira; outubro; primavera.
c) Nos bibliónimos/bibliônimos (após o primeiro elemento, que é com maiúscula, os demais
vocábulos podem ser escritos com minúscula, salvo nos nomes próprios nele contidos, tudo
em grifo): O Senhor do Paço de Ninães ou O senhor do paço de Ninães, Menino de Engenho ou
Menino de engenho, Árvore e Tambor ou Árvore e tambor.
d) Nos usos de fulano, sicrano, beltrano.
e) Nos pontos cardeais (mas não nas suas abreviaturas): norte, sul (mas: SW sudoeste).
f) Nos axiónimos/axiônimos e hagiónimos/hagiônimos (opcionalmente, neste caso, também
com maiúscula): senhor doutor Joaquim da Silva, bacharel Mário Abrantes, o cardeal Bembo;
santa Filomena (ou Santa Filomena).
g) Nos nomes que designam domínios do saber, cursos e disciplinas (opcionalmente, também
com maiúscula): português (ou Português), matemática (ou Matemática); línguas e literaturas
modernas (ou Línguas e Literaturas Modernas).
2o) A letra maiúscula inicial é usada:
a) Nos antropónimos/antropônimos, reais ou fictícios: Pedro Marques; Branca de Neve, D. Quixote.
b) Nos topónimos/topônimos, reais ou fictícios: Lisboa, Luanda, Maputo, Rio de Janeiro; Atlântida,
Hespéria.
c) Nos nomes de seres antropomorfizados ou mitológicos: Adamastor; Neptuno/ Netuno.
d) Nos nomes que designam instituições: Instituto de Pensões e Aposentadorias da Previdência
Social.
e) Nos nomes de festas e festividades: Natal, Páscoa, Ramadão, Todos os Santos.
f) Nos títulos de periódicos, que retêm o itálico: O Primeiro de Janeiro, O Estado de São Paulo
(ou S. Paulo).
texto oficial
32
g) Nos pontos cardeais ou equivalentes, quando empregados absolutamente: Nordeste, por nordeste
do Brasil, Norte, por norte de Portugal, Meio-Dia, pelo sul da França ou de outros países,
Ocidente, por ocidente europeu, Oriente, por oriente asiático.
h) Em siglas, símbolos ou abreviaturas internacionais ou nacionalmente reguladas
com maiúsculas,
iniciais ou mediais ou finais ou o todo em maiúsculas: FAO, NATO, ONU; H2
O;
Sr., V. Exa.
i) Opcionalmente, em palavras usadas reverencialmente, aulicamente ou hierarquicamente, em
início de versos, em categorizações de logradouros públicos (rua ou Rua da Liberdade, largo
ou Largo dos Leões), de templos (igreja ou Igreja do Bonfim, templo ou Templo do Apostolado
Positivista), de edifícios (palácio ou Palácio da Cultura, edifício ou Edifício Azevedo Cunha).
Obs.: As disposições sobre os usos das minúsculas e maiúsculas não obstam a que obras especializadas
observem regras próprias, provindas de códigos ou normalizações específicas (terminologias
antropológica, geológica, bibliológica, botânica, zoológica, etc.), promanadas de entidades
científicas ou normalizadoras, reconhecidas internacionalmente.
Base XX
Da divisão silábica
A divisão silábica, que em regra se faz pela soletração (a-ba-de, bru-ma, ca-cho,
lha-no,
ma-lha, ma-nha, má-xi-mo, ó-xi-do, ro-xo, tme-se), e na qual, por isso, se não tem de atender aos
elementos constitutivos dos vocábulos segundo a etimologia (a-ba-li-e-nar, bi-sa-vô, de-sa-pa-re-cer,
di-sú-ri-co, e-xâ-ni-me, hi-pe-
ra-cús-ti-co, i-ná-bil, o-bo-val, su-bo-cu-lar, su-pe-rá-ci-do), obedece
a vários preceitos particulares, que rigorosamente cumpre seguir, quando se tem de fazer em fim
de linha, mediante o emprego do hífen, a partição de uma palavra:
1o) São indivisíveis no interior de palavra, tal como inicialmente, e formam, portanto,
sílaba para
a frente as sucessões de duas consoantes que constituem perfeitos grupos, ou sejam (com exceção
apenas de vários compostos cujos prefixos terminam em b, ou d: ab- legação, ad- ligar,
sub- lunar, etc., em vez de a- blegação, a- dligar, su- blunar, etc.) aquelas sucessões em que a
primeira consoante é uma labial, uma velar, uma dental ou uma labiodental e a segunda um l
ou um r: a-
blução, cele- brar, du- plicação, re- primir; a- clamar, de- creto, de- glutição, re- grado;
a- tlético, cáte- dra, períme- tro; a- fluir, a- fricano, ne- vrose.
2o) São divisíveis no interior da palavra as sucessões de duas consoantes que não constituem propriamente
grupos e igualmente as sucessões de m ou n, com valor de nasalidade, e uma consoante:
ab- dicar, Ed- gardo, op- tar, sub- por, ab- soluto,
ad- jetivo, af- ta, bet- samita, íp- silon,
ob- viar, des- cer, dis- ciplina, flores- cer, nas- cer, res- cisão; ac- ne, ad- mirável, Daf- ne, diafrag-
ma, drac- ma,
ét- nico, rit- mo, sub- meter, am- nésico, interam- nense; bir- reme, cor- roer,
pror- rogar; as- segurar, bis- secular, sos- segar; bissex- to, contex- to, ex- citar; atroz- mente, capazmente,
infeliz- mente; am- bição, desen- ganar, en- xame, man- chu, Mân- lio, etc.
3o) As sucessões de mais de duas consoantes ou de m ou n, com o valor de nasalidade, e duas ou
mais consoantes são divisíveis por um de dois meios: se nelas entra um dos grupos que são
indivisíveis (de acordo com o preceito 1o), esse grupo forma sílaba para diante, ficando a consoante
ou consoantes que o precedem ligadas à sílaba anterior; se nelas não entra nenhum desses
grupos, a divisão dá-se sempre antes da última consoante. Exemplos dos dois casos: cam-
braia,
ec- tlipse, em- blema, ex- plicar, in- cluir, ins- crição, subs- crever, trans-gredir;
abs- tenção,
disp- neia, inters- telar, lamb- dacismo, sols- ticial, Terp-
sícore, tungs- ténio.
Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa
33
4o) As vogais consecutivas que não pertencem a ditongos decrescentes (as que pertencem a
ditongos deste tipo nunca se separam: ai- roso, cadei- ra, insti- tui, ora- ção, sacris- tães,
traves- sões) podem, se a primeira delas não é u precedido de g ou q, e mesmo que sejam
iguais, separar-se na escrita: ala- úde, áre- as, ca- apeba, co- ordenar, do- er, flu- idez,
perdo- as, vo- os. O mesmo se aplica aos casos de contiguidade de ditongos, iguais ou
diferentes, ou de ditongos e vogais: cai- ais, cai- eis, ensai- os, flu- iu.
5o) Os digramas gu e qu, em que o u se não pronuncia, nunca se separam da vogal ou ditongo
imediato (ne- gue, ne- guei; pe- que, pe- quei), do mesmo modo que as combinações gu e qu
em que o u se pronuncia: á- gua, ambí- guo, averi- gueis; longín- quos, lo- quaz, quais- quer.
6o) Na translineação de uma palavra composta ou de uma combinação de palavras em que há
um hífen, ou mais, se a partição coincide com o final de um dos elementos ou membros,
deve, por clareza gráfica, repetir-se o hífen no início da linha imediata: ex- -alferes, serená-
-los-emos ou serená-los- -emos, vice- -almirante.
Base XXI
Das assinaturas e firmas
Para ressalva de direitos, cada qual poderá manter a escrita que, por costume ou registro
legal, adote na assinatura do seu nome.
Com o mesmo fim, pode manter-se a grafia original de quaisquer firmas comerciais, nomes
de sociedades, marcas e títulos que estejam inscritos em registro público.
texto oficial
34
Palavras paroxítonas (sem acento)
Ditongos abertos tônicos ei
alcateia
aleia
amoreia
apneia
assembleia
ateia
azaleia
boleia
Basileia
Boraceia
Brasileia
Caldeia
Cananeia
catleia
cefaleia
centopeia
colmeia
Coreia do Norte
Coreia do Sul
coreico
diarreia
dismenorreia
dispneia
Dulcineia
epopeia
epopeico
Eritreia
estreia
europeia
farmacopeia
geleia
gonorreia
ideia
Jureia
Medeia
moreia
morfeia
ninfeia
nucleico
odisseia
onomatopeia
onomatopeico
panaceia
pangeia
patuleia
Pauliceia
pigmeia
piorreia
plateia
Pompeia
prosopopeia
Rubineia
seborreia
teodiceia
teteia
traqueia
ureia
verborreia
Escreva certo pelo Acordo
Ditongos abertos tônicos oi
adenoide
Águas de Lindoia
alcaloide
androide
apoio (do verbo apoiar)
asteroide
benzoico
boia
boia-fria
butanoico
corticoide
claraboia
dicroico
espermatozoide
esquizoide
esteroide
estoico
estroina
etanoico
flavonoide
gastrozooide
heroico
humanoide
introito
jiboia
joia
lambisgoia
metanoia
mesozoico
neozoico
ninfoide
ovoide
paleozoico
35
paranoia
paranoico
paranoide
perestroica
pinoia
piramboia
plutoide
poliploide
porta-joias
proteico
queloide
reumatoide
sequoia
tabloide
tifoide
tipoia
tireoide
tiroide
tramoia
trapezoide
traqueoide
traquitoide
tremoia
trioico
tripoide
trocoide
trofozooide
Troia
urbanoide
Vogais tônicas i e u precedidas de ditongo
aiuba
baeuna
baiuca
Bocaiuva
boiuno
cauila (variante de caiura)
cheiinho (de cheio)
cuiuba
eoipo
feiume
feiura
Daiuca
gaiuta
Groairas
Guaiba
Guaiuba
Guaraiuva
Ipuiuna
maoismo
muiuna
reiuna
saiinha (de saia)
Sauipe
suaile
taoismo
tuiuca
tuiuva
veiudo
Hiato oo
abençoo
abotoo (do verbo abotoar)
coo (do verbo coar)
coroo (do verbo coroar)
doo (do verbo doar)
enjoo
leiloo
magoo (do verbo magoar)
moo (do verbo moer)
perdoo
roo (do verbo roer)
soo (do verbo soar)
sobrevoo
voo
povoo (do verbo povoar)
zoo
36
Exemplos de formas verbais com
duas pronúncias diferentes e, portanto,
com duas grafias diferentes
Averiguar
Antes Agora
quando o u for tônico
(sem acento gráfico)
quando o a ou o i forem
tônicos (com acento gráfico)
Presente do indicativo
averiguo
averiguas
averigua
averiguam
Presente do subjuntivo
averigúe
averigúes
averigúe
averigúem
Presente do indicativo
averiguo
averiguas
averigua
averiguam
Presente do subjuntivo
averigue
averigues
averigue
averiguem
Presente do indicativo
averíguo
averíguas
averígua
averíguam
Presente do subjuntivo
averígue
averígues
averígue
averíguem
Enxaguar
Antes Agora
quando o u for tônico quando o a e o i
forem tônicos
Presente do indicativo
enxáguo
enxáguas
enxágua
enxáguam
Presente do subjuntivo
enxágüe
enxágües
enxágüe
enxágüem
Presente do indicativo
enxaguo
enxaguas
enxagua
enxaguam
Presente do subjuntivo
enxague
enxagues
enxague
enxaguem
Presente do indicativo
enxáguo
enxáguas
enxágua
enxáguam
Presente do subjuntivo
enxágue
enxágues
enxágue
enxáguem
37
Delinquir
Antes Agora
quando o u for tônico quando o a e o i
forem tônicos
Presente do indicativo
-
delínqües
delínqüe
delinqüimos
delinqüis
delinqüem
Presente do subjuntivo
-
-
-
-
-
-
Presente do indicativo
delinquo
delinquis
delinqui
delinquimos
delinquís
delinquem
Presente do subjuntivo
-
-
-
-
-
-
Presente do indicativo
delínquo
delínques
delínque
-
-
delínquem
Presente do subjuntivo
delínqua
delínquas
delínqua
-
-
delínquam
Trema
águem (do verbo aguar)
aguentar
alcaguetar
alcaguete
anhanguera
aquífero
arguição
arguidor
arguir
banguê
bilíngue
Birigui
cinquenta
cinquentão
cinquentenário
consequência
delinquência
delinquente
delinquir
deságuem (do verbo desaguar)
eloquência
eloquente
enxágue
enxaguei
equestre
equidade
equidistância
equidistante
equino
exequível
frequência
frequentar
grandiloquência
grandiloquente
inexequível
iniquidade
lingueta
linguiça
linguista
linguística
liquidação
liquidificador
líquido
mingue (do verbo minguar)
pinguim
38
quingentésimo
quinquagenário
quinquagésimo
quinquenal
quinquênio
quiproquó
sagueiro
sagui
saguiguaçu
sanguinário
sanguíneo
sequela
sequência
sequenciador
sequencial
sequenciar
sequestrador
sequestrar
sequestro
seriguela
sociolinguístico
subsequente
tranquilidade
tranquilizar
tranquilo
triciquentenário
trilíngue
trilinguismo
trilinguista
trilinguístico
ubiquidade
unguento
unguiculado
Hífen
Topônimos
• Iniciados por grã e grão
Grã-Bretanha
Grão-Pará
• Iniciados por verbo
Abre-Campo (município de MG) Passa-e-Fica (município do RN)
Passa-Quatro (município de MG) Passa-Sete (município do RJ)
Passa-Tempo (município de MG) Quebra-Costas
Quebra-Dentes São Miguel do Passa-Quatro (município de GO)
Traga-Mouros Trinca-Fortes
• Elementos ligados por artigo
Albergaria-a-Velha
Baía de Todos-os-Santos
Entre-os-Rios
Montemor-o-Novo
Trás-os-Montes
39
Prefixos e falsos prefixos
• Aeroaerobalística
aerobiose
aerocartografia
aeroclube
aerodinâmica
aeroelasticidade
aeroeletromagnetismo
aeroespacial
aerofilatelia
aerofilme
aerofiltro
aerofone
aerografia
aerograma
aeroincubadora
aerolevantamento
aeromecânica
aeromodelismo
aeronavegação
aeropericardia
aeropioneirismo
aeropista
aeroportuário
aeroquímico
aerorraquia
aerossinusite
aerossol
aerossondagem
aerotáxi
aerotopografia
aerotransporte
aerovia
• Agroagroaçucareiro
agroalimentar
agrobiologia
agroclimático
agrodoce
agroecologia
agroecossistema
agrogeologia
agroindustrial
agrometeorologia
agronegócio
agropecuária
agroquímica
agrotécnico
agrotóxico
agrovia
• Anteanteato
anteaurora
antebraço
antecâmara
antecena
antecrepuscular
antedata
antediluviano
antedizer
anteface
antegramatical
ante-hipófise
ante-histórico
anteislâmico
antejulgar
antelábio
antemanhã
antemeridiano
antemuralha
antenasal
anteocupação
anteolhos
anteontem
anteporta
antessacristia
antessala
antessentir
antessocrático
antetítulo
antevéspera
antevisão
• Antiantiabortivo
antiabrasivo
antiacadêmico
antiácido
antiaderente
antiaéreo
antialcoólico
antialérgico
antiamericanismo
40
antiartístico
antiautoritário
anticolonial
antieconômico
antielitista
antiescravagista
antiesportivo
antiespumante
antiético
anti-hemorrágico
anti-herói
anti-higiênico
anti-horário
anti-ibérico
anti-imperialismo
anti-imperialista
anti-infeccioso
anti-inflacionário
anti-inflamatório
anti-intelectual
antioxidante
antirrábico
antirracional
antirracismo
antirradar
antirradiação
antirraquítico
antirreflexo
antirreformismo
antirregimental
antirregulamentar
antirreligioso
antirrepublicano
antirressonância
antirreumático
antirrevisionismo
antirrevolucionário
antirromântico
antirroubo
antirrugas
antirruído
antissatélite
antissátira
antissecretório
antissegregacionismo
antissemita
antissepsia
antissequestro
antissifilítico
antissigma
antissimétrico
antissísmico
antissistemático
antissocial
antissolar
antissolene
antissoro
antissoviético
antissubmarino
• Arquiarquibilionário
arquicélebre
arquicérebro
arquiclássico
arquiconfraria
arquidiocese
arquiduque
arquiepiscopado
arqui-hipérbole
arqui-inimigo
arqui-inimizade
arqui-irmandade
arquimilionário
arquiministro
arquirrabino
arquirrival
arquirrivalidade
arquirromântico
arquissacerdote
arquisseguro
arquissenador
arquissinagoga
arquissogro
arquivulgar
• Autoautoacusação
autoadesivo
autoadministração
autoadmiração
autoafirmação
autoagressão
autoajuda
autoanálise
autoaplicável
autoaprendizagem
autobiografia
autocensura
autocolante
autoconfiança
autoconhecimento
autoconsciência
autocontemplação
autocontrole
autocrítica
autodefesa
autodestruição
41
autodomínio
autoeducativo
autoelogio
autoescola
autoestima
autoestrada
autofinanciamento
autogestão
autogoverno
autoidolatria
autoignição
autoimolação
autoimposição
autoimunidade
autoindução
autoinfecção
autoinstrução
autointoxicação
auto-observação
auto-ônibus
auto-oscilação
autopiedade
autopista
autoproteção
autopunição
autorradiografia
autorredutor
autorreflexão
autorregenerar-se
autorreger-se
autorregulamentação
autorregular-se
autorreplicar-se
autorrespeito
autorretrato
autorrotação
autossatisfação
autossegmental
autossensibilização
autosserviço
autossofrimento
autossoro
autossubsistência
autossuficiente
autossugestão
autossustentável
autotransformação
autotransfusão
autovacina
• Circumcircum-
adjacência
circum-ambiente
circum-escolar
circum-hospitalar
circum-mediterrâneo
circum-meridiano
circum-murado
circum-navegação
circum-oral
circum-orbital
• Biobioacústica
bioastronomia
bioativo
biobibliografia
biocibernética
bioclima
biocombustível
biodegradável
biodigestor
biodiversidade
bioengenharia
bioética
biofertilizante
biofísica
biogás
bioindústria
biolinguística
biomagnético
biomassa
biomecânica
bionevoeiro
biopirataria
bioquímica
biorritmo
biossatélite
biossistema
biossocial
bioteste
• Cocoacusado
coadministração
coadministrador
coadministrar
coarrendador
coarrendamento
42
coarrendar
coarticulação
coautor
coautoria
coavalista
coaxial
codetentor
codevedor
codireção
codiretor
codiretoria
codoador
codominância
codominante
coedição
coeditar
coeditor
coeducação
coeducar
coexistência
coexistir
cofator
cofiador
cogerência
cogerir
cogestão
co-habitação
co-habitante
co-habitar
co-herdar
co-herdeiro
cointeressado
colatitude
colegatário
coobrigação
coobrigado
coocupante
cooperar
coordenar
coparceiro
coparticipação
coparticipante
coparticipar
copaternidade
copatrocínio
copiloto
coprodução
coprodutor
coproduzir
copropriedade
coproprietário
coprotetor
corradical
corré
corréu
corredator
corredentor
corresponsabilidade
corresponsável
cossecante
cosseguro
cosseno
cossignatário
cossísmico
cossismo
cotipo
cotutela
cotutor
covalência
covalente
covariação
covariante
• Contracontra-
acusação
contra-acusar
contra-alísio
contra-almirante
contra-antena
contra-anúncio
contra-apelo
contra-argumento
contra-arrazoado
contra-assinatura
contra-atacante
contra-atacar
contra-aviso
contracautela
contraespionagem
contraespionar
contraexemplo
contra-harmônico
contraindicação
contraindicado
contraindicar
contrainformação
contrainformar
contrairritação
contraofensiva
contraoferta
contraordem
contrarrampa
contrarrazão
contrarreação
contrarreforma
contrarregra
contrarregulador
contrarrelógio
contrarreparo
contrarréplica
contrarrepto
contrarretábulo
contrarrevolução
contrarrevolucionário
contrarrótulo
contrarrotura
43
• Eletroeletroacústica
eletroanálise
eletrobalança
eletrocapilar
eletrocardiograma
eletrochoque
eletrodinâmica
eletroeletrônico
eletroencefalograma
eletrogravura
eletro-higrômetro
eletroímã
eletroluminescência
eletromagnético
eletromecânico
eletronegatividade
eletro-oculografia
eletro-oculograma
eletro-ótica
eletropositividade
eletroquímica
eletrorresistividade
eletrorretinografia
eletrossiderurgia
eletrossíntese
eletrossol
eletrossono
eletrotécnica
eletroterapia
eletrotérmico
eletrotônus
eletrovalência
• Exex-
almirante
ex-aluno
ex-bolsista
ex-cantora
ex-cônjuge
ex-diretor
ex-gerente
ex-hospedeira
ex-inspetor
ex-jogador
ex-marido
ex-ministro
ex-motorista
ex-mulher
ex-namorado
ex-ouvinte
ex-pesquisador
ex-presidente
ex-primeiro-ministro
ex-quartel-general
ex-rainha
ex-refém
ex-sócio
ex-técnico
ex-universitário
ex-vice-presidente
ex-xadrezista
ex-zagueiro
• Extraextra-
abdominal
extra-alcance
extra-amazônico
extra-atmosférico
extracelular
extraconjugal
extracontinental
extracontratual
extracorpóreo
extracorrente
extracraniano
extracurricular
extraembrionário
extraescolar
extrafino
extra-hepático
extra-humano
extrajudicial
extrajurídico
extralinguístico
extraliterário
extramatrimonial
extramuros
extramusical
contrarruptura
contrasseguro
contrasselar
contrasselo
contrassenha
contrassenso
contrassignificação
contrassinal
contrassoca
contrassujeito
44
geoanticlinal
geobiologia
geobotânica
geocauda
geocêntrico
geocentrismo
geocíclico
geociência
geoclimático
geocronologia
geodemografia
geodinâmica
geoecologia
geoeconomia
geoeletricidade
geoestratégico
geofilomorfo
geofísica
geo-hidrografia
geo-história
geolinguística
geomagnético
geomedicina
geoparque
geopolítico
geoquímica
geossérie
geossíncrono
geotécnica
geotermal
geotêxtil
• Geo-
• Hidrohidroavião
hidrobiologia
hidrocarboneto
hidrocefalia
hidrodinâmica
hidroelétrica /
hidrelétrica
hidrofone
hidroginástica
hidromassagem
hidromineral
hidronefrose
hidroplâncton
hidrorrepelente
hidrossemeadura
hidrossolúvel
hidroterapia
hidrotermal
hidrovia
• Hiperhiperácido
hiperagudo
hiperagressivo
hiperativo
hiperbraquicefalia
hipercalórico
hipercorreto
hiperdesenvolvimento
hiperdosagem
hiperespaço
hipergaláxia
hiper-hedonismo
hiper-humano
hiperinflação
hiperirritabilidade
hipermercado
hipernúcleo
hiperosteose
hiperparasita
hiperprodução
hiper-rancoroso
hiper-realista
hiper-requintado
hiper-requisitado
hiper-resistente
hiper-rugoso
hipersalino
extranatural
extraocular
extraoficial
extraprograma
extrarregimento
extrarregulamentar
extrarregular
extrassagital
extrasseco
extrassensível
extrassensorial
extrassístole
extrassolar
extraterrestre
extraterritorial
extratextual
extratropical
extrauterino
45
hipersensível
hipertensão
hipertexto
hiperuricemia
hipervalorizar
hiperventilado
• Infrainfra-
assinado
infra-axilar
infrabasilar
infraclasse
infraestrutura
infra-hepático
infralitoral
inframandibular
infraordem
infrarrenal
infrassom
infravermelho
• Interinteracadêmico
interalveolar
interamericano
interauricolar
interbancário
intercâmbio
intercapilar
intercelular
intercervical
intercolegial
intercontinental
interdental
interdisciplinar
interescolar
interestadual
interface
interglacial
inter-helênico
inter-hemisférico
inter-humano
interindependência
interinsular
interjacente
interlaçar
intermaxilar
intermolecular
interparietal
interplanetário
inter-racial
inter-radial
inter-regional
inter-relação
inter-resistente
intersideral
intertextual
intertítulo
interventricular
intervocábulo
• Intraintra-
articular
intracelular
intradilatado
intraespecífico
intra-hepático
intramedular
intramuscular
intranasal
intraocular
intraoral
intraósseo
intrapulmonar
intratextual
intratorácico
intrauterino
intravascular
• Macromacrocefalia
macrocinema
macroclima
macrocosmo
macroeconomia
macroestrutura
macrofauna
macrogameta
macroinstrução
macrometeorito
macronúcleo
macroplâncton
macrorregião
macrossismo
macrotársico
46
• Maximaxicasaco
maxidesvalorização
maxidicionário
maxiexploração
maxissaia
maxivestido
• Micromicroacústico
microambiente
microampère
microanálise
microbiologia
microcaloria
microcâmara
microcápsula
microcefalia
microcinema
microcircuito
microcirurgia
microclima
microcomputador
microdicionário
microeconomia
microelemento
microeletrônico
microempresa
microestrutura
microevolução
microfibra
microfotografia
micrograma
micro-habitat
microimagem
microinformática
microinstrumento
microlitro
micromecânica
microminiatura
micronuclear
micro-onda
micro-ônibus
micro-orgânico /
microrgânico
micro-organismo /
microrganismo
micropaleontologia
microparasita
microplâncton
microprocessador
microrradiografia
microrregião
microrreprodução
microssaia
microssegundo
microssismo
microssismógrafo
microssonda
microterremoto
microtexto
microvascular
microvolt
microwatt
• Miniminibiblioteca
minicalculadora
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• Multimultiangular
multibilionário
multicelular
multicolorido
multicultural
multidisciplinar
multiétnico
multifacetado
multilateral
multilingue
multilustroso
multimídia
47
multimilionário
multinacional
multiocular
multiovulado
multipartido
multiplano
multipolaridade
multiprocessador
multirracial
multissecular
multissegmentado
multitarefa
multiusuário
multivalência
• Neoneoacadêmico
neobarroco
neocapitalismo
neociência
neoclássico
neocolonialismo
neodarwiniano
neoescolástica
neoexpressionismo
neofascismo
neoglaciação
neo-hebraico
neo-helênico
neo-hinduísmo
neoimperialismo
neoimpressionismo
neoliberal
neolinguística
neomedieval
neonatal
neonazismo
neo-ortodoxia
neo-otoplástica
neopoesia
neoquinhentismo
neorrealismo
neorrenascentista
neorrepública
neorromano
neossalomônico
neossiríaco
neotaoismo
neovascularização
• Panpan-
africano
pan-americano
pan-arabismo
pancontinental
pancromático
pan-eslavismo
panfobia
pangeometria
pan-helenismo
pan-islamismo
panléxico
pan-mítico
pan-negritude
pan-oftalmite
panromânico
pansexual
• Pluriplurianual
pluricelular
pluricultural
pluridisciplinar
plurifloro
plurilateral
plurilíngue
plurilinguista
pluriovulado
plurinominal
plurissecular
plurivalência
• Póspós-
adolescência
pós-barroco
pós-clássico
pós-colonial
pós-comunismo
pós-datado
pós-doutorado
pós-eleitoral
pós-escrito
pós-exílio
pós-glacial
pós-graduação
pós-guerra
pós-hipnótico
pós-impressionismo
pós-industrial
pós-medieval
pós-modernismo
48
pós-moderno
pós-natal
pós-operatório
pós-parto
pós-produção
pós-romantismo
pós-simbolista
pós-socrático
pós-tônico
pós-venda
pós-verbal
• Prépré-
adaptação
pré-adolescência
pré-ajustado
pré-aviso
pré-bizantino
pré-cambriano
pré-câncer
pré-capitalismo
pré-carnavalesco
pré-carolíngio
pré-censura
pré-colombiano
pré-colonial
pré-combustão
pré-conceito (sentido
de conceito prévio)
pré-condição
pré-contrato
pré-cozido
pré-datado
pré-diluviano
pré-eleitoral
pré-embrionário
pré-encolhido
pré-escola
pré-escolar
pré-estreia
pré-fabricado
pré-formação
pré-glacial
pré-gravação
pré-juízo (sentido de
juízo prévio)
pré-habitação
pré-helênico
pré-história
pré-impressão
pré-industrial
pré-jurídico
pré-lançamento
pré-matrícula
pré-menstrual
pré-modernismo
pré-nasalizado
pré-natal
pré-nupcial
pré-olímpico
pré-operatório
pré-primário
pré-qualificar
pré-reformista
pré-renascentista
pré-republicano
pré-requisito (sentido
de requisição prévia)
pré-revolucionário
pré-romântico
pré-saber
pré-seleção
pré-santificado
pré-seletor
pré-sensibilizado
pré-sexual
pré-simbolista
pré-socialismo
pré-socrático
pré-traçado
pré-universitário
pré-venda
pré-vestibular
• Própró-
africano
pró-análise
pró-britânico
pró-desarmamento
pró-europeu
pró-homem
pró-memória
pró-ocidental
pró-sangue
pró-socialismo
• Protoprotoariano
protobanto
protocloreto
protoderme
protoeslavo
protoestrela
49
protofloema
protogaláxia
proto-herói
proto-história
proto-humano
protoindo-europeu
protoindustrialização
protojônico
protolíngua
protomártir
protonauta
protoplasma
protorrevolução
protorromantismo
protossatélite
prototalo
protozoonose
• Pseudopseudoaleatório
pseudobulbo
pseudociência
pseudodiamante
pseudoepígrafe
pseudoesfera
pseudofilosofia
pseudofruto
pseudogene
pseudo-hermafrodita
pseudolatim
pseudomembrana
pseudonumeral
pseudo-ortorrômbico
pseudoparênquima
pseudorrandômico
pseudossigla
pseudotronco
pseudoverticilado
• Retroretroagir
retrocarga
retrodifusão
retroespalhamento
retrofoguete
retroprojeção
retrorrefletor
retrosseguir
retrotrair
retrovírus
retrovisor
• Semisemiaberto
semiacabado
semiacordado
semianalfabeto
semiângulo
semiaquático
semiárido
semiautomático
semibárbaro
semibruto
semicarbonizado
semicerrado
semicírculo
semicircunferência
semicivilizado
semidestruído
semideus
semidocumentário
semieixo
semielíptico
semiembriagado
semierudito
semiescravidão
semiescuro
semiesfera
semiespecializado
semifeudal
semifinal
semi-herbáceo
semi-hospitalar
semi-infantil
semi-integral
semi-inteiro
semi-internato
semi-interno
semiletrado
semilíquido
semimorto
seminômade
semioficial
semiobscuridade
semirracional
semirreal
semirreboque
semirreligioso
semirreta
semirrígido
semirrisonho
semirroto
semissábio
semisselvagem
50
semissintético
semissistematização
semissólido
semissoma
semissono
• Sobresobreaviso
sobrebanquinho
sobrecama
sobrecapa
sobrecomum
sobrecoxa
sobredental
sobredivino
sobre-elevação
sobre-eminência
sobre-erguer
sobre-exaltar
sobre-excedente
sobre-excitação
sobre-exposição
sobreface
sobre-humano
sobreimpressão
sobreirritar
sobrejuiz
sobreloja
sobremarcha
sobreolhar
sobrepasso
sobrerrenal
sobrerrestar
sobrerrodela
sobrerrolda
sobrerronda
sobrerrosado
sobressaia
sobressaturação
sobresselo
sobressemear
sobressentença
sobressinal
sobressolar
sobressoleira
sobressubstancial
sobretaxa
sobrevalia
sobrevento
sobrevida
• Sotasota-
capitão
sota-embaixador
sota-general
sota-mestre
sota-ministro
sota-piloto
sota-proa
sota-soberania
sota-voga
• Sotosoto-
capitão
soto-mestre
soto-ministro
soto-piloto
soto-proa
soto-soberania
soto-voga
• Subsubafluente
subalimentação
subantártico
subaquático
subártico
subatômico
sub-base
sub-bloco
sub-bosque
subcapilar
subcategoria
subchefe
subclasse
subcomissão
subcontinente
subdelegado
subdesenvolvimento
subdiretor
Este prefixo segue o que o acordo estabelece, exceto no caso em que é seguido
por palavra que começa com r. Nesse caso, recebe hífen para evitar que ocorra um
encontro consonantal br, pois ele não pode ser pronunciado conjuntamente.
51
subeditoria
subemprego
subequatorial
subespécie
subfaturar
subgênero
subgrupo
sub-hepático
sub-humano
subinspetor
subitem
sublacustre
subleito
subliteratura
sublocação
submandatário
subnúcleo
suboceânico
suboficial
subordem
subósseo
subparte
subpolar
subprefeitura
sub-raça
sub-região
sub-regional
sub-reino
sub-reitor
sub-remunerado
sub-reptício
sub-rogar
sub-rotina
subsaariano
subsargento
subsatélite
subseção
subsecretário
subsolo
subtítulo
subutilizar
subverbete
• Supersuperabundante
superagasalhar
superalimentação
superaquecimento
superbacana
superbactéria
supercampeão
supercivilização
supercomputador
supercraque
superdose
superego
superelevar
superestimar
superestrutura
superexposição
superfamília
superfino
supergrande
super-herói
super-hidratação
super-homem
superinfecção
superinterglacial
superlotação
supermãe
supermodelo
supernovo
superorganismo
superoxidação
superpopulação
superpotência
superpovoação
superprotegido
superquadra
super-racional
super-radical
super-reação
super-realista
super-requintado
super-resfriado
super-resistente
super-revista
supersecreto
supersensível
supersimples
supersom
supervácuo
supervaidoso
supervalorizado
superviolento
• Suprasupra-
axilar
supracondutor
supradialetal
supraesofágico
supraexcitante
suprafaríngeo
supraglotal
supra-hepático
supra-humano
52
suprajurássico
supralabial
supralunar
supramundano
supranacional
supraocular
suprapartidário
suprarracional
suprarrealismo
suprarrenal
suprassegmental
suprassensível
suprassumo
supratorácico
supraventricular
• Teletelealuno
telecine
telecurso
telediagnóstico
teledramaturgia
tele-educação /
teleducação
telefilme
telefotografar
teleguiar
teleimpressor
telejornal
telemedicina
telenovela
teleobjetiva
teleprocessamento
telerrobô
teleteatro
televizinho
• Ultraultra-
apressado
ultrabásico
ultracatólico
ultrachique
ultraconservador
ultracorreto
ultracurto
ultrademocrático
ultraelevado
ultraesquerda
ultraeuropeu
ultraexistência
ultrafiltro
ultra-hiperbólico
ultra-humano
ultraleve
ultramaratona
ultramicroscópio
ultranaturalismo
ultrapuro
ultrarradical
ultrarrápido
ultrarrealismo
ultrarrevolucionário
ultrarridículo
ultrarromântico
ultrarroxo
ultrassecreto
ultrassecular
ultrassensível
ultrassofisticado
ultrassom
ultrassônico
ultrassonografia
ultrassonoro
ultrassonoterapia
ultraterreno
ultravioleta
ultravírus
ultrazodiacal
• Vicevice-
almirante
vice-campeão
vice-chanceler
vice-comissário
vice-cônsul
vice-diretor
vice-gerência
vice-governador
vice-líder
vice-liderança
vice-prefeito
vice-presidente
vice-primeiro-ministro
vice-rainha
vice-rei
vice-reinado
vice-reitor
vice-secretário
53
Bibliografia
Dicionários
Instituto Antônio Houaiss. Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2003.
___. Minidicionário Houaiss da língua portuguesa. 3. ed. rev. e aum. Rio de Janeiro: Objetiva,
2008.
Guia
Houaiss , Antônio. A nova ortografia da língua portuguesa. São Paulo: Ática, 1991.
Livro
Coutinho , Ismael de Lima. Pontos de gramática histórica. 7. ed. rev. Rio de Janeiro: Ao Livro
Técnico, 1976.
Publicação oficial
ACORDO ortográfico da língua portuguesa. Diário do congresso nacional, Brasília, 21 abr. 1995.
Disponível em: . Acesso em: 8 jul. 2008.
Sites
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Disponível em: .
Acesso em: 7 jul. 2008.
CARDOSO, Elis de Almeida. Ortographia virou ortografia. Disponível em: . Acesso em: 27 maio 2008.
GARCIA, Afrânio da Silva. O acordo ortográfico de 1995: seus antecedentes, seus pontos positivos
e negativos, suas possíveis consequências. Disponível em: . Acesso em: 9 jun. 2008.
INSTITUTO DE ESTUDOS BRASILEIROS. Vocabulario Portuguez & Latino. Disponível em:
. Acesso em: 18 jun. 2008.
LAURIA, Márcio José. Reforma da língua portuguesa? Disponível em: . Acesso em: 29 maio 2008.
RIBEIRO, Guilherme. Apontamentos sobre a história da evolução da língua. Disponível em: . Acesso em: 27 maio 2008.
SCARTON, Gilberto. Guia de produção textual: assim é que se escreve. Porto Alegre: PUCRS,
FALE/GWEB/PROGRAD, 2002. Disponível em: . Acesso
em: 29 maio 2008.
WILLEMANN, José. Código Civil de 1916: Brasil por Brazil. Disponível em: . Acesso em: 5 jun. 2008.
54
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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Coordenação editorial: Áurea Regina Kanashiro
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Pré-impressão: Everton L. de Oliveira, Helio P. de Souza Filho,
Marcio Hideyuki Kamoto, Vilney Stacciarini
Coordenação de produção industrial: Wilson Aparecido Troque
Impressão e acabamento:
1 3 5 7 9 10 8 6 4 2
55
Quais as mudanças que irão ocorrer na escrita
da língua portuguesa com a aprovação do novo
Acordo Ortográ co?
Este Guia do Acordo Ortográ co procura responder
a essa pergunta de uma maneira bem prática e
objetiva. Um quadro apresenta de modo resumido as
principais mudanças na ortogra a e listas de exemplos
ajudam a resolver as dúvidas de gra a.
E mais: texto o cial do Acordo e linha do tempo
ilustrada, que mostra como a questão da uni cação
da escrita do português vem cercada de polêmica e
de muita discussão desde o século XIX.