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segunda-feira, 8 de junho de 2009

CRITICA LITERÁRIA


















TROVADORES MEDIEVAIS - ORIGEM DA TROVA



Pesquisa de Clério Borges
1 - Introdução

2 – Surgimento do Trovadorismo

3 – Poetas e Músicos

4 – Conceito de Trova

5 – Primeiras Manifestações

6 – Trovadores Provençais

7 – Gêneros Satírico e Lírico

8 – Os Cancioneiros Manuscritos.

Cantigas de Escárnio

Cantigas de Maldizer

9 - As Novelas de Cavalaria As Novelas dão origem as Cantorias de Viola dos Dias atuais

10 - Expansão do Trovadorismo

11 - Primeiros Trovadores

12 - Trovismo e Neotrovismo

13 - Entidades de Trovadores no Brasil Atual

14 -CLUBE DOS TROVADORES CAPIXABAS (CTC)

15 - DIRETORIAS DO CTC

16 - CTC NA INTERNET E NO BRASIL

17 - Bibliografia:



1 - Introdução

O surgimento da Trova está intimamente ligado à poesia da Idade Média. Durante a Idade Média, Trova era o sinônimo de poema e letra de música. Hoje a Trova possui a sua conceituação própria, diferenciando da Quadra e da Poesia de Cordel, e do Poema musicado da Idade Média.

Trovadorismo foi a primeira escola literária portuguesa. Esse movimento literário compreende o período que vai, aproximadamente do século XII ao século XIV.


2 – Surgimento do Trovadorismo

A partir desse século, Portugal começava a afirmar-se como reino independente, embora ainda mantivesse laços econômicos, sociais e culturais com o restante da Península Ibérica. Desses laços surgiu, próximo à Galícia (região ao norte do rio Douro), uma língua particular, de traços próprios, chamada galego-português. A produção literária dessa época foi feita nesta variação lingüística.

A cultura trovadoresca refletia bem o panorama histórico desse período: as Cruzadas, a luta contra os mouros, o feudalismo, o poder espiritual do clero.

O período histórico em que surgiu o Trovadorismo foi marcado por um sistema econômico e político chamado Feudalismo, que consistia numa hierarquia rígida entre senhores: um deles, o suserano, fazia a concessão de uma terra (feudo) a outro indivíduo, o vassalo. O suserano, no regime feudal, prometia proteção ao vassalo como recompensa por certos serviços prestados.

Essa relação de dependência entre suserano e vassalo era chamada de vassalagem.

Assim, o senhor feudal ou suserano era quem detinha o poder, fazendo a concessão de uma porção de terra a um vassalo, encarregado de cultivá-la.

Além da nobreza (classe que pertenciam os suseranos) e a classe dos vassalos ou servos, havia ainda uma outra classe social: o clero. Nessa época, o poder da Igreja era bastante forte, visto que o clero possuía grandes extensões de terras, além de dedicar-se também à política.

Os conventos eram verdadeiros centros difusores da cultura medieval, pois era neles que se escolhiam os textos filosóficos a serem divulgados, em função da moral cristã.

A religiosidade foi um aspecto marcante da cultura medieval portuguesa. A vida do povo lusitano estava voltada para os valores espirituais e a salvação da alma. Nessa época, eram freqüentes as procissões, além das próprias Cruzadas - expedições realizadas durante a Idade Média, que tinham como principal objetivo a libertação dos lugares santos, situados na Palestina e venerados pelos cristãos. Essa época foi caracterizada por uma visão teocêntrica (Deus como o centro do Universo). Até mesmo as artes tiveram como tema motivos religiosos. Tanto a pintura quanto a escultura procuravam retratar cenas da vida de santos ou episódios bíblicos.

Quanto à arquitetura, o estilo gótico é o que predominava, através da construção de catedrais enormes e imponentes, projetadas para o alto, à semelhança de mãos em prece tentando tocar o céu.


3 – Poetas e Músicos

Na literatura, desenvolveu-se em Portugal um movimento poético chamado Trovadorismo. Os poemas produzidos nessa época eram feitos para serem cantados por poetas e músicos. (Trovadores - poetas que compunham a letra e a música de canções. Em geral uma pessoa culta - Menestréis - músicos-poetas sedentários; viviam na casa de um fidalgo, enquanto o jogral andava de terra em terra - , Jograis - cantores e tangedores ambulantes, geralmente de origem plebéia - e Segréis - trovadores profissionais, fidalgos desqualificados que iam de corte em corte, acompanhados por um jogral) Recebiam o nome de cantigas, porque eram acompanhados por instrumentos de corda e sopro. Mais tarde, essas cantigas foram reunidas em Cancioneiros: o da Ajuda, o da Biblioteca Nacional e o da Vaticana.


4 – Conceito de Trova

Conhece-se Trovas escritas nas línguas derivadas do Latim situadas na Península Ibérica, a saber: Português, Galego, Espanhol e Catalão, nos séculos X e XI. A Trova teria surgido junto com o alvorecer das línguas derivadas do Latim, as chamadas línguas romances.

A Trova possui o seu conceito plenamente estabelecido: é o poema de quatro versos setissílabos com rima e sentido completo. Já Quadra é toda estrofe formada por quatro linhas de uma poesia.

Assim, não é verdade que Quadra e Trova sejam a mesma coisa e que a Trova evoca mais os Trovadores da Provença Medieval e que a Quadra seria uma forma de se fazer poesia mais moderna. A Quadra pode ser feita sem métrica e com versos brancos, sem rima. Aí então será só uma quadra sem ser a Trova que obrigatoriamente terá que ser metrificada. Trova, nos dias atuais, é cultuada como Obra de Arte, como Literatura.

A origem da Poesia Trovadoresca Medieval (que não pode ser confundida com a trova-quadra moderna nem a daqueles tempos recuados) perde-se no tempo, contudo foi a criação literária que mais destaque alcançou entre as formas poéticas medievais, originárias de Provença, Sul da França.

Expandiu-se no século XII por grande parte da Europa e floresceu por quase duzentos anos em Portugal, França e Alemanha.

O Trovador Medieval representava a glorificação do amor platônico, pois a dama que era a criatura mais nobre e respeitável da criação, a mulher ideal, inacessível para alguns, passava a ser a pessoa a quem o referido Trovador endereçava os seus líricos versos.

Os primeiros Trovadores Modernos a fazerem Trovas sistematicamente para publicação, surgiram no século passado em Espanha e Portugal, na esteira dos folcloristas que as recolhiam em meio ao povo.


5 – Primeiras Manifestações

Sobre a gênese da Trova Medieval, por falta de documentos sobre o folclore na Idade Média, os historiadores consideram a mesma imprecisa. Não há dados concretos que estabeleçam a época certa do surgimento da Trova Medieval. O que se tem registrado é que, entre 1.100 e 1.300, escritos de autores Espanhóis e Portugueses utilizavam, como recurso auxiliar, composições poéticas hoje reconhecidas como formas das primeiras manifestações "trovadorescas (ou seja, da trova medieval -- que é sinônimo, hoje, de poesia metrificada. Não se pode confundir com trovistas -- que trata da trova-quadra, a nossa quadra)" de que se tem conhecimento.

No século XI, com o início da reconquista cristã da Península Ibérica, o galego-português consolida-se como língua falada e escrita da Lusitânia. Os árabes são expulsos para o sul da península, onde surgem os dialetos moçárabes, a partir do contato do árabe com o latim. Em galego-português são escritos os primeiros documentos oficiais e textos literários não latinos da região, como os cancioneiros (coletâneas de poemas medievais), surgindo os Trovadores Medievais.

TROVADORISMO – Foi um movimento poético propulsor de todo o lirismo medieval. Seu grande impulsor foi o duque de Aquitânia e conde de Poitier, Guilherme (1071-1127). Guilherme de Aquitânia gostava de compor cantigas e poemas, até então reservado apenas aos jograis e menestréis.

TROVADOR – É uma palavra da língua d’ oc, acusativo singular de "trobaire" (poeta), proveniente do verbo trobar (inventar, achar).

Entre 1 200 a 1240 existem cerca de 400 trovadores provençais, cuja obra era reunida em Cancioneiros manuscritos (chansoniers) e cujas biografias foram publicadas por Uc de Saint Circ.


6 – Trovadores Provençais

Todo o século XII é domínio absoluto do trovadorismo provençal. O nome provençal vem de Provença, cidade da França onde os reis e nobres começaram a cultivar o lirismo, antes apenas reservados aos jograis. Leonor, neta de Guilherme de Aquitânia divulga o gosto pela poesia e em sua corte de Toulouse divulga e incentiva os trovadores, surgindo os troveiros.

A influência dos Trovadores Provençais foi bem extensa. Na Itália deu origem aos Trovatori, de onde saíram Dante, autor da Divina Comédia e Petrarca e até o patrono dos modernos trovadores brasileiros, São Francisco de Assis.

O grande rei Ricardo Coração de Leão, famoso pela história de Robin Hood, era filho de Leonor de Aquitânia e através de sua mãe aprendeu a ser amigo dos trovadores provençais.

Na Península Ibérica (Portugal e Espanha) o reis se orgulhavam da condição de Trovador. Afonso II de Aragão (1126 – 1196), considerava-se o primeiro trovador da Catalunha.

No século XIII e parte do século XIV, surgem na Península Ibérica, os trovadores galeco-portugueses.

Antes existiam os duelos a cavalos, homens se guerreavam às vezes até a morte, para obterem o amor de uma dama da corte. Para substituir o sangrento espetáculo, os jovens passaram ao duelo poético declamando Trovas. Os que não tivessem o dom poético, simplesmente pagavam um poeta trovador para as disputas que ocorriam e assim o vencedor podia galantear a dama mais bonita da corte.


7 – Gêneros Satírico e Lírico

A produção poética medieval portuguesa pode ser agrupada em dois gêneros:

1 - Gênero satírico: em que o objetivo é criticar alguém, ridicularizando esta pessoa de forma sutil ou grosseira; a este gênero pertencem as cantigas de escárnio e as cantigas de maldizer.

São composições que expressam melhor a psicologia do tempo, onde vêm á tona assuntos que despertam grandes comentários na época, nas relações sociais dos trovadores; são sátiras que atingem a vida social e política da época, sempre num tom de irreverência; são sátiras de grande riqueza, uma vez que se apresentam num considerável vocabulário, observando-se, muitas vezes o uso de trocadilhos; fogem às normas rígidas das cantigas de amor e oferecem novos recursos poéticos.

Os principais temas das cantigas satíricas são: a fuga dos cavaleiros da guerra, traições, as chacotas e deboches, escândalos das amas e tecedeiras, pederastia (homossexualismo) e pedofilia (relações sexuais com crianças), adultério e amores interesseiros e ilícitos.

Obs: Tanto nas cantigas de escárnio quanto nas de maldizer, pode ocorrer diálogo. Quando isso acontece, a cantiga é denominada tensão (ou tenção). Pode mostrar a conversa entre a mãe a moça, uma moça e uma amiga, a moça e a natureza, ou ainda, a discussão entre um trovador e um jogral, ambos tentando provar que são mais competentes em sua arte.

2 - Gênero lírico: em que o amor é a temática constante, são as cantigas de amor e as cantigas de amigo.

A canção da Ribeirinha, de Paio Soares de Taveirós é considerada o mais antigo texto escrito em galego-português: 1189 ou 1198, portanto fins do século XII. Segundo consta, esta cantiga teria sido inspirada por D. Maria Pais Ribeiro, a Ribeirinha, mulher muito cobiçada e que se tornou amante de D. Sancho, o segundo rei de Portugal. )

"No mundo ninguém se assemelha a mim / enquanto a minha vida continuar como vai / porque morro por ti e ai / minha senhora de pele alva e faces rosadas, / quereis que eu vos descreva (retrate) / quanto eu vos vi sem manto (saia : roupa íntima) / Maldito dia! me levantei / que não vos vi feia (ou seja, viu a mais bela)."

Cantigas de amor

Nesta cantiga o eu-lírico é masculino e o autor é geralmente de boa condição social. É uma cantiga mais "palaciana", desenvolve-se em cortes e palácios.

O nome da mulher amada vem oculto por força das regras de mesura (boa educação extrema) ou para não compromete-la (geralmente, nas cantigas de amor o eu-lírico é um amante de uma classe social inferior à da dama).

A beleza da dama enlouquece o trovador e a falta de correspondência gera a perda do apetite, a insônia e o tormento de amor. Além disso, a coita amorosa (dor de amor) pode fazer enlouquecer e mesmo matar o enamorado.


8 – Os Cancioneiros Manuscritos.

a) Cancioneiro da Ajuda

Copiado (na época ainda não havia imprensa) em Portugal em fins do século XIII ou princípios do século XIV. Encontra-se na Biblioteca da Ajuda, em Lisboa. Das suas 310 cantigas, quase todas são de amor.

b) Cantigas de amigo

As cantigas de amigo apresentam eu-lirico feminino, embora o autor seja um homem. Procuram mostrar a mulher dialogando com sua mãe, com uma amiga ou com a natureza, sempre preocupada com seu amigo (namorado). Ou ainda, o amigo é o destinatário do texto, como se a mulher desejasse fazer-lhe confidências de seu amor. (Mas nunca diretamente a ele. O texto é dialogado com a natureza, como se o namorado estivesse por perto, a ouvir as juras de amor). Geralmente destinam-se ao canto e a dança.

A linguagem, comparando-se às cantigas de amor é mais simples e menos musical pois as cantigas de amigo não se ambientam em palácios e sim em lugares mais simples e cotidianos.

Conforme a maneira como o assunto é tratado, e conforme o cenário onde se dá o encontro amoroso, as cantigas de amigo recebem denominações especiais

c) Cancioneiro da Vaticana - Trata-se do códice 4.803 da biblioteca Vaticana, copiado na Itália em fins do século XV ou princípios do século XVI. Entre as suas 1.205 cantigas, há composições de todos os gêneros.

d) Cancioneiro Colocci-Brancutti - Copiado na Itália em fins do século XV ou princípios do século XVI. Descoberto em 1878 na biblioteca do conde Paulo Brancutti do Cagli, em Ancona, foi adquirido pela Biblioteca Nacional de Lisboa, onde se encontra desde 1924. Entre as suas 1.664 cantigas, há composições de todos os gêneros.

e) Cancioneiros de Escárnio e Maldizer, que são cantigas elaborados como forma de menosprezar e criticar o oponente, muito usados para críticas aos administradores (políticos) da época medieval.

Cantigas de Escárnio

Apresentam críticas sutis e bem-humoradas sobre uma pessoa que, sem ter nome citado, é facilmente reconhecível pelos demais elementos da sociedade.

Cantigas de Maldizer

Neste tipo de cantiga é feita uma crítica pesada, com intenção de ofender a pessoa ridicularizada. Há o uso de palavras grosseiras (palavrões, inclusive) e cita-se o nome ou o cargo da pessoa sobre quem se faz a sátira:

Maria Peres se mãefestou (confessou) / noutro dia, ca por pecador (pois pecadora) / se sentiu, e log' a Nostro Senhor / prometeu, pelo mal em que andou, / que tevess' um clérig' a seu poder, (um clérigo em seu poder) / polos pecados que lhi faz fazer / o demo, com que x'ela sempr'andou. (O demônio, com quem sempre andou)


9 - As novelas de cavalaria

Nem só de poesia viveu o Trovadorismo. Também floresceu um tipo de prosa ficcional, as novelas de cavalaria, originárias das canções de gesta francesas (narrativas de assuntos guerreiros), onde havia sempre a presença de heróis cavaleiros que passavam por situações preciosíssimas para defender o bem e vencer o mal.

Sobressai nas novelas a presença do cavaleiro medieval, concebido segundo os padrões da Igreja Católica (por quem luta): ele é casto, fiel, dedicado, disposto a qualquer sacrifício para defender a honra cristã. Esta concepção de cavaleiro medieval opunha-se à do cavaleiro da corte, geralmente sedutor e envolvido em amores ilícitos. A origem do cavaleiro-herói das novelas é feudal e nos remete às Cruzadas: ele está diretamente envolvido na luta em defesa da Europa Ocidental contra sarracenos, eslavos, magiares e dinamarqueses, inimigos da cristandade.

As novelas de cavalaria estão divididas em três ciclos e se classificam pelo tipo de herói que apresentam. Assim, as que apresentam heróis da mitologia greco-romana são do ciclo Clássico (novelas que narram a guerra de Tróia, as aventuras de Alexandre, o grande); as que apresentam o Rei Artur e os cavaleiros da Távola Redonda pertencem ao ciclo Arturiano ou Bretão (A Demanda do Santo Graal); as que apresentam o rei Carlos Magno e os doze pares de França são do ciclo Carolíngeo (a história de Carlos Magno).

Geralmente, as novelas de cavalaria não apresentam uma autoria. Elas circulavam pela Europa como verdadeira propaganda das Cruzadas, para estimular a fé cristã e angariar o apoio das populações ao movimento. As novelas eram tidas em alto apreço e foi muito grande a sua influência sobre os hábitos e os costumes da população da época. As novelas Amandis de Gaula e A Demanda do Santo Graal foram as histórias mais populares que circulavam entre os portugueses.


10 - Expansão do Trovadorismo

À medida em que os cristãos avançam para o sul, os dialetos do norte interagem com os dialetos moçárabes do sul, começando o processo de diferenciação do português em relação ao galego-português. A separação entre o galego e o português se iniciará com a independência de Portugal (1185) e se consolidará com a expulsão dos mouros em 1249 e com a derrota em 1385 dos castelhanos que tentaram anexar o país. No século XIV surge a prosa literária em português, com a Crónica Geral de Espanha (1344) e o Livro de Linhagens, de dom Pedro, conde de Barcelona.

Entre os séculos XIV e XVI, com a construção do império português de ultramar, a língua portuguesa faz-se presente em várias regiões da Ásia, África e América, sofrendo influências locais (presentes na língua atual em termos como jangada, de origem malaia, e chá, de origem chinesa). Com o Renascimento, aumenta o número de italianismos e palavras eruditas de derivação grega, tornando o português mais complexo e maleável. O fim desse período de consolidação da língua (ou de utilização do português arcaico) é marcado pela publicação do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, em 1516.

A Trova que passou a pontilhar na Literatura de Espanha e Portugal, propagou-se pelos países surgidos das conquistas dessas potências marítimas, chegando pois à América Latina e ao Brasil.


11 - Primeiros Trovadores

Os primeiros Trovadores, com produção regular para publicação, apareceram em Portugal e Espanha, no Século XIX, criando Trovas "popularizáveis" que muito se assemelham às populares.

Segundo os historiadores, o Português Antônio Correia de Oliveira publica, no início do século, dois livros de versos em língua lusitana.

Antônio Correia de Oliveira, que pela qualidade de sua obra e pela edição dos dois primeiros livros de Trovas na Língua Portuguesa, é considerado um dos primeiros grandes Trovadores Literários, ou seja, Trovador que organiza e publica suas Trovas.

É de sua autoria esta Trova publicada em 1900:

Sino, coração da aldeia,

coração, sino da gente.

Um a sentir quando bate,

outro a bater quando sente.

A verdade é que o período folclórico da Trova sempre se revitalizará enquanto existirem propagadores do ato do recitar nas festas em família e das brincadeiras de roda.

Há de se considerar, também, acontecimentos como a extraordinária popularidade da Trova, que contrariamente ao esperado, constitui-se num fator que alguns consideram negativo para o seu real aproveitamento na Literatura, uma vez que, antigamente, o que vinha do povo era rejeitado pela nobreza, que manipulava a elite intelectual da época.

Ainda hoje, alguns homens de letras, que, privados de sensibilidade poética, se recusam a reconhecer o valor da Trova, a consideram coisa "cafona", indigna de um verdadeiro intelectual. Uma ojeriza de uma "pseudo-elite" minoritária.

Segundo Elmo Elton, eleito em 1980, Rei dos Trovadores Capixabas não é fácil escrever Trovas, "visto que apenas os inclinados para o exercício desse gênero poético sabem como bem realizá-las dentro das normas exigidas à sua correta feitura, já que, caso contrário, tão somente conseguem o que é comum, enfileirar quatro versos sem aquelas características essenciais que conseguem consagrar uma Trova."

Vale aqui lembrar a Trova do Rei dos Trovadores Brasileiros, Adelmar Tavares, que era Acadêmico da Academia Brasileira de Letras:

Ó linda trova perfeita,

que nos dá tanto prazer,

tão fácil, - depois de feita,

tão difícil de fazer.


12 - Trovismo e Neotrovismo

NEOTROVISMO é o Movimento Literário que surge no Brasil, com a criação do Clube dos Trovadores Capixabas, CTC, em Vila Velha, Vitória, Espírito Santo. Hoje são realizados, desde 1980, os famosos Seminários Nacionais, com presenças de Trovadores do Brasil e Exterior. O Neotrovismo é um Movimento Cultural de divulgação da Trova.

O Trovismo nasceu em 1950 e segundo os estudiosos, em 1970, começou a decadência, resumindo-se em algumas atividades de algumas seções da UBT e algumas reuniões da Academia Brasileira da Trova.

Já o NEOTROVISMO foi fundado em 1980, como forma de dar um novo ânimo ao Movimento dos Trovadores no Brasil.

Livros são publicados. Congressos são realizados. São divulgadas Trovas na Internet. Um Movimento nascido no Espírito Santo e cultuado por aqueles que apreciam a TROVA, a boa Trova, aquela cuja definição é :

Neotrovismo é novo movimento em torno da Trova no Brasil iniciado com a fundação do Clube dos Trovadores Capixabas - CTC no Estado do Espirito Santo a 1º de Julho de 1980.

Trovismo é um movimento genuinamente Brasileiro, segundo o escritor Eno Theodoro Wanke. A partícula NEO, significa NOVO assim NEOTROVISMO é o novo movimento em torno da Trova no Brasil.

O Fundador do Neotrovismo é o escritor Capixaba e Canela-Verde, Clério José Borges, Presidente do Clube dos Trovadores Capixabas.

A Trova é um composição poética de 4 versos com rima e sentido completo. Trovador é aquele que faz a Trova como obra de arte, como literatura.

No Livro "Que é Trova?" de Eno Teodoro Wanke, consta o seguinte:

"Em 1980, devido a um conselho meu, mais ou menos casual, Clério José Borges funda no Espirito Santo o Clube dos Trovadores Capixabas (CTC), cuja contribuição fundamental ao Trovismo é a realização anual e regular dos Seminários Nacionais da Trova, o primeiro que aconteceu em 1981, para comemorar o primeiro aniversário do CTC.

Muitos resultados benéficos já colhemos dessa troca de idéias. Assuntos importantes têm sido ventilados, debatidos e incorporados ao movimento. Os Trovadores têm trazido suas experiências pessoais em plenário - ensinam e aprendem.

Em 1982, por exemplo, foi sugerido por Rodolfo Coelho Cavalcante - e aprovada pelo plenário, a Fundação de uma Federação de Clubes de Trovas. Como resultado, 1983 foi Fundada a Federação Brasileira de Entidades Trovistas - FEBET. Nasceu a FEBET, principalmente, tentando estimular a publicação de Trovas e o ingresso de novos trovadores no movimento. Isso sem prejuízo dos concursos de Trovas - que também considera importantes, claro.

Diversas coletâneas têm surgido, graças aos esforços de alguns abnegados organizadores (Laís Costa Velho, Antônio Soares, Santa Ineze da Rocha, Clério Borges, Arthur Francisco Batista, Clodoaldo de Abreu Filho, Maria de Fátima M. Brasil, etc...)

13 - Entidades de Trovadores no Brasil Atual

1 - CTC

O CLUBE DOS TROVADORES CAPIXABAS, CTC, é uma entidade cultural, sem fins lucrativos de divulgação da Trova e da Poesia. Foi fundado a 1º de Julho de 1980, por Clério José Borges, Luiz Carlos Braga Ribeiro e José Borges Ribeiro Filho, no Espírito Santo, com base numa idéia do Escritor Eno Theodoro Wanke.

O CTC possui o título de Utilidade Pública Estadual (Lei José Carlos Gratz) e Municipal na Serra, (Lei Márcia Lamas). O CTC possui mais de 300 sócios em atividade, no Estado e mais de 1300 sócios correspondentes no Brasil e Exterior (Portugal; Argentina, Jorge Piñero Marques; Estados Unidos, etc...). É uma das entidades culturais que mais promove no Brasil.

Anualmente o CTC, realiza os Seminários Nacionais da Trova no Espírito Santo, desde 1981. O CTC já organizou também eventos em outros Estados. Dois Congressos de Trovadores foram realizados em São Paulo, com Marília Martins e Inês Catelli; Um Congresso, em Salvador, Bahia, com Luciano Jatobá e um Congresso de Trovadores, no Rio de Janeiro, na SUAM, com o Prof. José Maria de Souza Dantas. Mais informações sobre o Clube dos Trovadores Capixabas, CTC, no item 14.

2 - FEBET

A Federação Brasileira de Entidades Trovistas, FEBET é a maior e mais bem organizada entidade de Poetas Trovadores do Brasil. Congrega Poetas, Editores de Informativos Culturais e muitos, muitos Trovadores. Foi fundada em 1983, em Vila Velha, Espírito Santo e sua Sede Nacional é no Rio de Janeiro. Nos dois primeiros anos de fundação foram Cadastrados mais de 2.000 sócios. A Febet surgiu de uma idéia nascida no 1º (1981) e no 2º (1982) Seminários Nacionais da Trova, realizado no Estado do Espírito Santo, Brasil. Houve uma consulta a mais de 5.000 poetas em todo o Brasil e, em 1983, a FEBET foi oficialmente fundada. A entidade foi organizada pelo Trovólogo, Eno Theodoro Wanke e contou com o apoio imediato de Rodolfo Coelho Cavalcante, da Bahia e Clério José Borges, do Espírito Santo.

3 - UBT

A União Brasileira de Trovadores é uma entidade cultural que possui seções em vários Estados Brasileiros. Foi fundada por Luiz Otávio, no Rio de Janeiro, em Janeiro de 1967. A UBT surgiu de uma cisão, ou seja, um descontentamento. Luiz Otávio e um grupo de trovadores do Sul e Sudeste do Brasil não concordavam em estarem juntos aos Repentistas e Cordelistas do Nordeste, no Grêmio Brasileiro de Trovadores, o GBT, fundado em Salvador, Bahia, a 8 de Janeiro de 1958, pelo Trovador Rodolfo Coelho Cavalcante. Em Janeiro de 1967, Luiz Otávio desliga-se do GBT e aproveitando as seções do GBT já criadas no Sul e Sudeste, funda a UBT, com sede no Rio de Janeiro e seções em várias cidades brasileiras.

Na vida quem se projeta,

seja a profissão qual for

sempre aparece um pateta

para tirar seu valor.

Rodolfo Coelho Cavalcante.

4 - ABT

A Academia Brasileira da Trova é um entidade cultural com sede no Rio de Janeiro.

Foi fundada por Álvaro Farias; Symaco da Costa; Félix Aires, Onildo de Campos, entre outros, em 26 de Dezembro de 1960.

Há tanto burro mandando

em homens de inteligência

que, às vezes, fico pensando

que burrice é uma ciência.

Symaco da Costa.

A Academia Brasileira da Trova é uma entidade de destaque e bastante atuante no Rio de Janeiro.


14 -CLUBE DOS TROVADORES CAPIXABAS (CTC)

Dentre as entidades culturais do Município da Serra, destaca-se o Clube dos Trovadores Capixabas, CTC, entidade de divulgação da Trova e dos Poetas Trovadores, sem fins lucrativos e que funciona com sede provisória na rua dos Pombos, 2 - Eurico Salles - Carapina - Serra - ES.

O CTC foi fundado, com base numa idéia do escritor Eno Teodoro Wanke, a 1º de julho de 1980 destacando-se no cenário cultural Brasileiro pela realização anual dos Seminários Nacionais da Trova no mês de Julho, quando convergem para o Espírito Santo poetas trovadores de vários Estados brasileiros.

Trova é uma composição literária de quatro versos de sete sílabas poéticas cada com rima e sentido completo.

Trovador é aquele que faz a Trova como obra de arte, como literatura.

O CTC é uma entidade de Utilidade Pública Municipal na Serra, graças a iniciativa da Vereadora Márcia Lamas. O título foi aprovado por unanimidade e se transformou na Lei Municipal N.º 1.563/91, sancionada pelo Prefeito Adalton Martinelli.

O CTC possui também o título de Utilidade Pública Estadual aprovado, por unanimidade, pela Assembléia Legislativa Estadual e lei sancionada pelo Governador do Estado, Albuíno Cunha de Azeredo em 20 de setembro de 1991. Lei N.º 4.554 de autoria do Deputado Estadual José Carlos Gratz.

Oficialmente os fundadores do CTC são: Clério José Borges; José Borges Ribeiro Filho e Luiz Carlos Braga Ribeiro.

Graças a iniciativa do CTC existem hoje Praças dos Trovadores em Cariacica, Vila Velha e Vitória e o presidente e sócios do CTC são regularmente convidados a participar e realizar palestras nas cidades de Porto Velho, Rondônia; Porto Alegre-RS; Rio de Janeiro; São Paulo; Brasília-DF; Salvador-BA; Recife-PE; Petrópolis-RJ; Campos-RJ; Maringá-PR; Timóteo-MG; Magé-RJ; Olinda-PE e Nova Prata - RS.


15 - DIRETORIAS DO CTC


DE 1º DE JULHO DE 1996 A 1º DE JULHO DE 1999:

Presidente: Clério José Borges de Sant’Anna;

Vice-Presidente: Tereza Vitória Monteiro;

Secretário-Geral: Zitomar Rosa de Oliveira;

1º Secretário: Rosilene Rodrigues de Almeida;

Bibliotecária: Zenaide Emília Thomes Borges;

Tesoureiro Geral: Valdemir Ribeiro de Azeredo;

1º Tesoureiro: Adir Ribeiro.


DE 1º DE JULHO DE 1999 A 1º DE JULHO DE 2.002:

Presidente: Clério José Borges de Sant’Anna;

Vice-Presidente: Kátia Maria Bóbbio Lima;

Secretário-Geral: Zitomar Rosa de Oliveira;

1º Secretário: Cleusa Lourdes Madureira Vidal;

Bibliotecária: Zenaide Emília Thomes Borges;

Tesoureiro Geral: Valdemir Ribeiro de Azeredo;

1º Tesoureiro: Adir Ribeiro.

Diretoria: Moacir Malacarne; Pedro Maciel da Silva e Tereza Vitória Monteiro.


16 - CTC NA INTERNET E NO BRASIL

O CTC era uma das poucas entidades culturais que em 1997 e início de 1998 possuía uma página (Home Page) na INTERNET a Rede Mundial de Computadores. Os diretores divulgavam o seguinte endereço:

http://www.geocities.com/Athens/8455


O Clube dos Trovadores Capixabas, CTC, reúne atualmente trovadores e não trovadores, desde que apreciem e gostem da Trova. O CTC realizou de 1980 a 1990 dez Seminários Nacionais da Trova na Grande Vitória, com visitas inclusive na Serra. Em 1983 foi realizada visita a Igreja dos Reis Magos, em Nova Almeida. A TV Gazeta esteve no local e fez entrevistas com os trovadores Clério Borges , Walter Waeny, de Santos, SP e Eno Teodoro Wanke, RJ.

O Décimo Seminário por deferência especial do então Governador Max Freitas Mauro, o Seminário foi realizado no interior do Palácio do Governo do Estado, na sede de Vitória. Na solenidade de abertura realizada no Salão térreo do Palácio Anchieta, a Banda de Música "Estrela dos Artistas", por indicação de Naly da Encarnação Miranda fez uma apresentação especial.

Em 1991, o Décimo-primeiro foi realizado em Ibiraçu. O evento teve total apoio do Prefeito Marcus Antônio Vicente e do Trovador local, hoje já falecido, Narceu de Paiva Filho, então Vice-Presidente do CTC.

Em 1992 o Seminário foi em Afonso Cláudio. O evento foi prestigiado pelo Prefeito Methódio José da Rocha e pelo Sr. José Saleme, representante da Fundação Jônice Tristão, que mantém na cidade o Centro Cultural, uma Biblioteca e uma Casa de Cultura.

Em 1993 o Seminário foi em Guarapari. A então Prefeita Morena Espíndula compareceu na solenidade de abertura.

Em 1994 o Seminário foi em Linhares, tendo coordenação de Cleusa Vidal e Isabel Taquetti, sendo destacada a participação do Prefeito José Carlos Elias.

Em 1995, o Décimo-quinto Seminário foi realizado em Domingos Martins, com total apoio da Secretária Municipal de Turismo, Diomedes Maria Caliman Berger, do Prefeito Alfredo Meyer e do Deputado Estadual, Lourival Berger. No último dia foi realizada a Missa em Trovas na Praça Principal de Domingos Martins e contou com a presença do Exmo. Sr. Governador do Estado, Dr. Vitor Buaiz.

Em 1996 o Décimo Sexto Seminário foi realizado no Clube Riviera, na Praia de Jacaraípe.

O 17º Seminário em Julho de 1997 foi realizado com sucesso na cidade de Conceição da Barra. O 18º Seminário foi realizado em Vila Velha, o 19º na cidade de Anchieta e o 20º e último Seminário Nacional da Trova foi realizado com sucesso na Cidade de Domingos Martins, onde já havia sido realizada uma edição do evento em 1995.

As reuniões do CTC são na casa do Presidente Clério Borges, em Eurico Salles - Serra.

Na Internet são fornecidas informações sobre os Seminários e os Trovadores nos seguintes endereços:

sábado, 6 de junho de 2009

FIGURAS DE LINGUAGENS








FIGURAS DE LINGUAGENS
Definição: Figuras de linguagem são certos recursos não-convencionais que o falante ou escritor cria para dar maior expressividade à sua mensagem.
METÁFORA
É o emprego de uma palavra com o significado de outra em vista de uma relação de semelhanças entre ambas. É uma comparação subentendida.
Exemplo:
Minha boca é um tumulo.
Essa rua é um verdadeiro deserto.
COMPARAÇÃO
Consiste em atribuir características de um ser a outro, em virtude de uma determinada semelhança.
Exemplo:
O meu coração está igual a um céu cinzento.
O carro dele é rápido como um avião.
PROSOPOPÉIA
É uma figura de linguagem que atribui características humanas a seres inanimados. Também podemos chamá-la de PERSONIFICAÇÃO.
Exemplo:
O céu está mostrando sua face mais bela.
O cão mostrou grande sisudez.
SINESTESIA
Consiste na fusão de impressões sensoriais diferentes.
Exemplo:
Raquel tem um olhar frio, desesperador.
Aquela criança tem um olhar tão doce.
CATACRESE
É uma metáfora desgastada, tão usual que já não percebemos. Assim, a catacrese é o emprego de uma palavra no sentido figurado por falta de um termo próprio.
Exemplo:
O menino quebrou o braço da cadeira.
A manga da camisa rasgou.
METONÍMIA
É a substituição de uma palavra por outra, quando existe uma relação lógica, uma proximidade de sentidos que permite essa troca. Ocorre metonímia quando empregamos:
- O autor pela obra.
Exemplo:
Li Jô Soares dezenas de vezes. (a obra de Jô Soares)
- o continente pelo conteúdo.
Exemplo:
O ginásio aplaudiu a seleção. (ginásio está substituindo os torcedores)
- a parte pelo todo.
Exemplo:
Vários brasileiros vivem sem teto, ao relento. (teto substitui casa)
- o efeito pela causa.
Exemplo:
Suou muito para conseguir a casa própria. (suor substitui o trabalho)
PERÍFRASE
É a designação de um ser através de alguma de suas características ou atributos, ou de um fato que o celebrizou.
Exemplo:
A Veneza Brasileira também é palco de grandes espetáculos. (Veneza Brasileira = Recife)
A Cidade Maravilhosa está tomada pela violência. (Cidade Maravilhosa = Rio de Janeiro)
ANTÍTESE
Consiste no uso de palavras de sentidos opostos.
Exemplo:
Nada com Deus é tudo.
Tudo sem Deus é nada.
EUFEMISMO
Consiste em suavizar palavras ou expressões que são desagradáveis.
Exemplo:
Ele foi repousar no céu, junto ao Pai. (repousar no céu = morrer)
Os homens públicos envergonham o povo. (homens públicos = políticos)
HIPÉRBOLE
É um exagero intencional com a finalidade de tornar mais expressiva a idéia.
Exemplo:
Ela chorou rios de lágrimas.
Muitas pessoas morriam de medo da perna cabeluda.
IRONIA
Consiste na inversão dos sentidos, ou seja, afirmamos o contrário do que pensamos.
Exemplo:
Que alunos inteligentes, não sabem nem somar.
Se você gritar mais alto, eu agradeço.
ONOMATOPÉIA
Consiste na reprodução ou imitação do som ou voz natural dos seres.
Exemplo:
Com o au-au dos cachorros, os gatos desapareceram.
Miau-miau. - Eram os gatos miando no telhado a noite toda.
ALITERAÇÃO
Consiste na repetição de um determinado som consonantal no início ou interior das palavras.
Exemplo:
O rato roeu a roupa do rei de Roma.
ELIPSE
Consiste na omissão de um termo que fica subentendido no contexto, identificado facilmente.
Exemplo:
Após a queda, nenhuma fratura.
ZEUGMA
Consiste na omissão de um termo já empregado anteriormente.
Exemplo:
Ele come carne, eu verduras.
PLEONASMO
Consiste na intensificação de um termo através da sua repetição, reforçando seu significado.
Exemplo:
Nós cantamos um canto glorioso.
POLISSÍNDETO
É a repetição da conjunção entre as orações de um período ou entre os termos da oração.
Exemplo:
Chegamos de viagem e tomamos banho e saímos para dançar.
ASSÍNDETO
Ocorre quando há a ausência da conjunção entre duas orações.
Exemplo:
Chegamos de viagem, tomamos banho, depois saímos para dançar.
ANACOLUTO
Consiste numa mudança repentina da construção sintática da frase.
Exemplo:
Ele, nada podia assustá-lo.
Nota: o anacoluto ocorre com freqüência na linguagem falada, quando o falante interrompe a frase, abandonando o que havia dito para reconstruí-la novamente.
ANAFÓRA
Consiste na repetição de uma palavra ou expressão para reforçar o sentido, contribuindo para uma maior expressividade.
Exemplo:
Cada alma é uma escada para Deus,
Cada alma é um corredor-Universo para Deus,
Cada alma é um rio correndo por margens de Externo
Para Deus e em Deus com um sussurro noturno. (Fernando Pessoa)
SILEPSE
Ocorre quando a concordância é realizada com a idéia e não sua forma gramatical. Existem três tipos de silepse: gênero, número e pessoa.
De gênero.
Exemplo:
Vossa excelência está preocupado com as notícias. (a palavra vossa excelência é feminina quanto à forma, mas nesse exemplo a concordância se deu com a pessoa a que se refere o pronome de tratamento e não com o sujeito).
De número.
Exemplo:
A boiada ficou furiosa com o peão e derrubaram a cerca. (nesse caso a concordância se deu com a idéia de plural da palavra boiada).
De pessoa
Exemplo:
As mulheres decidimos não votar em determinado partido até prestarem conta ao povo. (nesse tipo de silepse, o falante se inclui mentalmente entre os participantes de um sujeito em 3ª pessoa).
SÍNTESE DO TUTORIAL
As figuras de linguagem são recursos não-convencionais que o falante ou escritor cria para dar maior expressividade à sua mensagem.
Metáfora é o emprego de uma palavra com o significado de outra em vista de uma relação de semelhança.
Comparação é uma atribuição de característica de um ser a outro em virtude de uma determinada semelhança.
Prosopopéia atribui características humanas a seres inanimados.
Sinestesia consiste na fusão de impressões sensoriais diferentes.
Catacrese é uma metáfora desgastada, tão usual que já não percebemos, ou seja, é o emprego de uma palavra no sentido figurado por falta de um termo próprio.
Metonímia é a substituição de uma palavra por outra, quando existe uma relação lógica, uma proximidade de sentidos que permite essa troca.
Perífrase é a designação de um ser através de alguma de suas características ou atributos, ou de um fato que o celebrizou.
Antítese consiste no uso de palavras de sentidos opostos.
Eufemismo consiste em suavizar palavras ou expressões que são desagradáveis.
Hipérbole é um exagero intencional com a finalidade de tornar mais expressiva à idéia.
Ironia consiste na inversão dos sentidos, ou seja, afirmamos o contrário do que pensamos.
Onomatopéia consiste na reprodução ou imitação do som ou voz natural dos seres.
Aliteração consiste na repetição de um determinado som consonantal no início ou interior das palavras.
Elipse consiste na omissão de um termo que fica subentendido no contexto, identificado facilmente.
Zeugma consiste na omissão de um termo já empregado anteriormente.
Pleonasmo consiste na intensificação de um termo através da sua repetição, reforçando seu significado.
Polissíndeto é a repetição da conjunção entre as orações de um período ou entre os termos da oração.
Assíndeto ocorre quando há a ausência da conjunção entre duas orações.
Anacoluto consiste numa mudança repentina da construção sintática da frase.
Anáfora consiste na repetição de uma palavra ou expressão para reforçar o sentido, contribuindo para uma maior expressividade.
Silepse ocorre quando a concordância é realizada com a idéia e não sua forma gramatical. Existem três
FIGURAS DE LINGUAGEM
As figuras de linguagem são empregadas para valorizar o texto, tornando a linguagem mais expressiva. É um recurso lingüístico para expressar experiências comuns de formas diferentes, conferindo originalidade, emotividade ou poeticidade ao discurso.
As figuras revelam muito da sensibilidade de quem as produz, traduzindo particularidades estilísticas do autor. A palavra empregada em sentido figurado, não-denotativo, passa a pertencer a outro campo de significação, mais amplo e criativo.
As figuras de linguagem classificam-se em:
a) figuras de palavras;
b) figuras de som;
c) figuras de pensamento;
d) figuras de sintaxe
Figuras de palavra:
As figuras de palavra consistem no emprego de um termo com sentido diferente daquele convencionalmente empregado, a fim de se conseguir um efeito mais expressivo na comunicação.
São figuras de palavras:
Comparação:
Ocorre comparação quando se estabelece aproximação entre dois elementos que se identificam, ligados por conectivos comparativos explícitos - feito, assim como, tal, como, tal qual, tal como, qual, que nem - e alguns verbos - parecer, assemelhar-se e outros.
Exemplos: "Amou daquela vez como se fosse máquina. / Beijou sua mulher como se fosse lógico." (Chico Buarque);
"As solteironas, os longos vestidos negros fechados no pescoço, negros xales nos ombros, pareciam aves noturnas paradas..." (Jorge Amado).
Metáfora:
Ocorre metáfora quando um termo substitui outro através de uma relação de semelhança resultante da subjetividade de quem a cria. A metáfora também pode ser entendida como uma comparação abreviada, em que o conectivo não está expresso, mas subentendido.
Exemplo: "Supondo o espírito humano uma vasta concha, o meu fim, Sr. Soares, é ver se posso extrair pérolas, que é a razão." (Machado de Assis).
Metonímia:
Ocorre metonímia quando há substituição de uma palavra por outra, havendo entre ambas algum grau de semelhança, relação, proximidade de sentido ou implicação mútua. Tal substituição fundamenta-se numa relação objetiva, real, realizando-se de inúmeros modos:
- o continente pelo conteúdo e vice-versa: Antes de sair, tomamos um cálice (o conteúdo de um cálice) de licor.
- a causa pelo efeito e vice-versa: "E assim o operário ia / Com suor e com cimento (com trabalho) / Erguendo uma casa aqui / Adiante um apartamento." (Vinicius de Moraes).
- o lugar de origem ou de produção pelo produto: Comprei uma garrafa do legítimo porto (o vinho da cidade do Porto).
- o autor pela obra: Ela parecia ler Jorge Amado (a obra de Jorge Amado).
- o abstrato pelo concreto e vice-versa: Não devemos contar com o seu coração (sentimento, sensibilidade).
- o símbolo pela coisa simbolizada: A coroa (o poder) foi disputada pelos revolucionários.
- a matéria pelo produto e vice-versa: Lento, o bronze (o sino) soa.
- o inventor pelo invento: Edson (a energia elétrica) ilumina o mundo.
- a coisa pelo lugar: Vou à Prefeitura (ao edifício da Prefeitura).
- o instrumento pela pessoa que o utiliza: Ele é um bom garfo (guloso, glutão).
Sinédoque:
Ocorre sinédoque quando há substituição de um termo por outro, havendo ampliação ou redução do sentido usual da palavra numa relação quantitativa. Encontramos sinédoque nos seguintes casos:
- o todo pela parte e vice-versa: "A cidade inteira (o povo) viu assombrada, de queixo caído, o pistoleiro sumir de ladrão, fugindo nos cascos (parte das patas) de seu cavalo." (J. Cândido de Carvalho)
- o singular pelo plural e vice-versa: O paulista (todos os paulistas) é tímido; o carioca (todos os cariocas), atrevido.
- o indivíduo pela espécie (nome próprio pelo nome comum): Para os artistas ele foi um mecenas (protetor).
Catacrese:
A catacrese é um tipo de especial de metáfora, "é uma espécie de metáfora desgastada, em que já não se sente nenhum vestígio de inovação, de criação individual e pitoresca. É a metáfora tornada hábito lingüístico, já fora do âmbito estilístico." (Othon M. Garcia).
São exemplos de catacrese: folhas de livro / pele de tomate / dente de alho / montar em burro / céu da boca / cabeça de prego / mão de direção / ventre da terra / asa da xícara / sacar dinheiro no banco.
Sinestesia:
A sinestesia consiste na fusão de sensações diferentes numa mesma expressão. Essas sensações podem ser físicas (gustação, audição, visão, olfato e tato) ou psicológicas (subjetivas).
Exemplo: "A minha primeira recordação é um muro velho, no quintal de uma casa indefinível. Tinha várias feridas no reboco e veludo de musgo. Milagrosa aquela mancha verde [sensação visual] e úmida, macia [sensações táteis], quase irreal." (Augusto Meyer)
Antonomásia:
Ocorre antonomásia quando designamos uma pessoa por uma qualidade, característica ou fato que a distingue.
Na linguagem coloquial, antonomásia é o mesmo que apelido, alcunha ou cognome, cuja origem é um aposto (descritivo, especificativo etc.) do nome próprio.
Exemplos: "E ao rabi simples (Cristo), que a igualdade prega, / Rasga e enlameia a túnica inconsútil; (Raimundo Correia). / Pelé (= Edson Arantes do Nascimento) / O Cisne de Mântua (= Virgílio) / O poeta dos escravos (= Castro Alves) / O Dante Negro (= Cruz e Souza) / O Corso (= Napoleão)
Alegoria:
A alegoria é uma acumulação de metáforas referindo-se ao mesmo objeto; é uma figura poética que consiste em expressar uma situação global por meio de outra que a evoque e intensifique o seu significado. Na alegoria, todas as palavras estão transladadas para um plano que não lhes é comum e oferecem dois sentidos completos e perfeitos - um referencial e outro metafórico.
Exemplo: "A vida é uma ópera, é uma grande ópera. O tenor e o barítono lutam pelo soprano, em presença do baixo e dos comprimários, quando não são o soprano e o contralto que lutam pelo tenor, em presença do mesmo baixo e dos mesmos comprimários. Há coros numerosos, muitos bailados, e a orquestra é excelente..." (Machado de Assis).
Figuras de som:
Chamam-se figuras de som os efeitos produzidos na linguagem quando há repetição de sons ou, ainda, quando se procura "imitar" sons produzidos por coisas ou seres.
As figuras de som são:
Aliteração:
Ocorre aliteração quando há repetição da mesma consoante ou de consoantes similares, geralmente em posição inicial da palavra.
Exemplo: "Toda gente homenageia Januária na janela." (Chico Buarque).
Assonância:
Ocorre assonância quando há repetição da mesma vogal ao longo de um verso ou poema.
Exemplo: "Sou Ana, da cama / da cana, fulana, bacana / Sou Ana de Amsterdam." (Chico Buarque).
Paronomásia:
Ocorre paronomásia quando há reprodução de sons semelhantes em palavras de significados diferentes.
Exemplo: "Berro pelo aterro pelo desterro / berro por seu berro pelo seu erro / quero que você ganhe que você me apanhe / sou o seu bezerro gritando mamãe." (Caetano Veloso).
Onomatopéia:
Ocorre quando uma palavra ou conjunto de palavras imita um ruído ou som.
Exemplo: "O silêncio fresco despenca das árvores. / Veio de longe, das planícies altas, / Dos cerrados onde o guaxe passe rápido... / Vvvvvvvv... passou." (Mário de Andrade).
"Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno." (Fernando Pessoa).
Figuras de pensamento:
As figuras de pensamento são recursos de linguagem que se referem ao significado das palavras, ao seu aspecto semântico.
São figuras de pensamento:
Antítese:
Ocorre antítese quando há aproximação de palavras ou expressões de sentidos opostos.
Exemplo: "Amigos ou inimigos estão, amiúde, em posições trocadas. Uns nos querem mal, e fazem-nos bem. Outros nos almejam o bem, e nos trazem o mal." (Rui Barbosa).
Apóstrofe:
Ocorre apóstrofe quando há invocação de uma pessoa ou algo, real ou imaginário, que pode estar presente ou ausente. Corresponde ao vocativo na análise sintática e é utilizada para dar ênfase à expressão.
Exemplo: "Deus! ó Deus! onde estás, que não respondes?" (Castro Alves).
Paradoxo:
Ocorre paradoxo não apenas na aproximação de palavras de sentido oposto, mas também na de idéias que se contradizem referindo-se ao mesmo termo. É uma verdade enunciada com aparência de mentira. Oxímoro (ou oximoron) é outra designação para paradoxo.
Exemplo: "Amor é fogo que arde sem se ver; / É ferida que dói e não se sente; / É um contentamento descontente; / É dor que desatina sem doer;" (Camões)
Eufemismo:
Ocorre eufemismo quando uma palavra ou expressão é empregada para atenuar uma verdade tida como penosa, desagradável ou chocante.
Exemplo: "E pela paz derradeira (morte) que enfim vai nos redimir Deus lhe pague". (Chico Buarque).
Gradação:
Ocorre gradação quando há uma seqüência de palavras que intensificam uma mesma idéia.
Exemplo: "Aqui... além... mais longe por onde eu movo o passo." (Castro Alves).
Hipérbole:
Ocorre hipérbole quando há exagero de uma idéia, a fim de proporcionar uma imagem emocionante e de impacto.
Exemplo: "Rios te correrão dos olhos, se chorares!" (Olavo Bilac).
Ironia:
Ocorre ironia quando, pelo contexto, pela entonação, pela contradição de termos, sugere-se o contrário do que as palavras ou orações parecem exprimir. A intenção é depreciativa ou sarcástica.
Exemplo: "Moça linda, bem tratada, / três séculos de família, / burra como uma porta: / um amor." (Mário de Andrade).
Prosopopéia:
Ocorre prosopopéia (ou animização ou personificação) quando se atribui movimento, ação, fala, sentimento, enfim, caracteres próprios de seres animados a seres inanimados ou imaginários.
Também a atribuição de características humanas a seres animados constitui prosopopéia o que é comum nas fábulas e nos apólogos, como este exemplo de Mário de Quintana: "O peixinho (...) silencioso e levemente melancólico..."
Exemplos: "... os rios vão carregando as queixas do caminho." (Raul Bopp)
Um frio inteligente (...) percorria o jardim..." (Clarice Lispector)
Perífrase:
Ocorre perífrase quando se cria um torneio de palavras para expressar algum objeto, acidente geográfico ou situação que não se quer nomear.
Exemplo: "Cidade maravilhosa / Cheia de encantos mil / Cidade maravilhosa / Coração do meu Brasil." (André Filho).
Figuras de sintaxe:
As figuras de sintaxe ou de construção dizem respeito a desvios em relação à concordância entre os termos da oração, sua ordem, possíveis repetições ou omissões.
Elas podem ser construídas por:
a) omissão: assíndeto, elipse e zeugma;
b) repetição: anáfora, pleonasmo e polissíndeto;
c) inversão: anástrofe, hipérbato, sínquise e hipálage;
d) ruptura: anacoluto;
e) concordância ideológica: silepse.
Portanto, são figuras de construção ou sintaxe:
Assíndeto:
Ocorre assíndeto quando orações ou palavras deveriam vir ligadas por conjunções coordenativas, aparecem justapostas ou separadas por vírgulas.
Exigem do leitor atenção maior no exame de cada fato, por exigência das pausas rítmicas (vírgulas).
Exemplo: "Não nos movemos, as mãos é que se estenderam pouco a pouco, todas quatro, pegando-se, apertando-se, fundindo-se." (Machado de Assis).
Elipse:
Ocorre elipse quando omitimos um termo ou oração que facilmente podemos identificar ou subentender no contexto. Pode ocorrer na supressão de pronomes, conjunções, preposições ou verbos. É um poderoso recurso de concisão e dinamismo.
Exemplo: "Veio sem pinturas, em vestido leve, sandálias coloridas." (elipse do pronome ela (Ela veio) e da preposição de (de sandálias...).
Zeugma:
Ocorre zeugma quando um termo já expresso na frase é suprimido, ficando subentendida sua repetição.
Exemplo: "Foi saqueada a vida, e assassinados os partidários dos Felipes." (Zeugma do verbo: "e foram assassinados...") (Camilo Castelo Branco).
Anáfora:
Ocorre anáfora quando há repetição intencional de palavras no início de um período, frase ou verso.
Exemplo: "Depois o areal extenso... / Depois o oceano de pó... / Depois no horizonte imenso / Desertos... desertos só..." (Castro Alves).
Pleonasmo:
Ocorre pleonasmo quando há repetição da mesma idéia, isto é, redundância de significado.
a) Pleonasmo literário:
É o uso de palavras redundantes para reforçar uma idéia, tanto do ponto de vista semântico quanto do ponto de vista sintático. Usado como um recurso estilístico, enriquece a expressão, dando ênfase à mensagem.
Exemplo: "Iam vinte anos desde aquele dia / Quando com os olhos eu quis ver de perto / Quando em visão com os da saudade via." (Alberto de Oliveira).
"Morrerás morte vil na mão de um forte." (Gonçalves Dias)
"Ó mar salgado, quando do teu sal / São lágrimas de Portugal" (Fernando Pessoa).
b) Pleonasmo vicioso:
É o desdobramento de idéias que já estavam implícitas em palavras anteriormente expressas. Pleonasmos viciosos devem ser evitados, pois não têm valor de reforço de uma idéia, sendo apenas fruto do descobrimento do sentido real das palavras.
Exemplos: subir para cima / entrar para dentro / repetir de novo / ouvir com os ouvidos / hemorragia de sangue / monopólio exclusivo / breve alocução / principal protagonista.
Polissíndeto:
Ocorre polissíndeto quando há repetição enfática de uma conjunção coordenativa mais vezes do que exige a norma gramatical (geralmente a conjunção e). É um recurso que sugere movimentos ininterruptos ou vertiginosos.
Exemplo: "Vão chegando as burguesinhas pobres, / e as criadas das burguesinhas ricas / e as mulheres do povo, e as lavadeiras da redondeza." (Manuel Bandeira).
Anástrofe:
Ocorre anástrofe quando há uma simples inversão de palavras vizinhas (determinante/determinado).
Exemplo: "Tão leve estou (estou tão leve) que nem sombra tenho." (Mário Quintana).
Hipérbato:
Ocorre hipérbato quando há uma inversão completa de membros da frase.
Exemplo: "Passeiam à tarde, as belas na Avenida. " (As belas passeiam na Avenida à tarde.) (Carlos Drummond de Andrade).
Sínquise:
Ocorre sínquise quando há uma inversão violenta de distantes partes da frase. É um hipérbato exagerado.
Exemplo: "A grita se alevanta ao Céu, da gente. " (A grita da gente se alevanta ao Céu ) (Camões).
Hipálage:
Ocorre hipálage quando há inversão da posição do adjetivo: uma qualidade que pertence a um objeto é atribuída a outro, na mesma frase.
Exemplo: "... as lojas loquazes dos barbeiros." (as lojas dos barbeiros loquazes.) (Eça de Queiros).
Anacoluto:
Ocorre anacoluto quando há interrupção do plano sintático com que se inicia a frase, alterando-lhe a seqüência lógica. A construção do período deixa um ou mais termos - que não apresentam função sintática definida - desprendidos dos demais, geralmente depois de uma pausa sensível.
Exemplo: "Essas empregadas de hoje, não se pode confiar nelas." (Alcântara Machado).
Silepse:
Ocorre silepse quando a concordância não é feita com as palavras, mas com a idéia a elas associada.
a) Silepse de gênero:
Ocorre quando há discordância entre os gêneros gramaticais (feminino ou masculino).
Exemplo: "Quando a gente é novo, gosta de fazer bonito." (Guimarães Rosa).
b) Silepse de número:
Ocorre quando há discordância envolvendo o número gramatical (singular ou plural).
Exemplo: Corria gente de todos lados, e gritavam." (Mário Barreto).
c) Silepse de pessoa:
Ocorre quando há discordância entre o sujeito expresso e a pessoa verbal: o sujeito que fala ou escreve se inclui no sujeito enunciado.
Exemplo: "Na noite seguinte estávamos reunidas algumas pessoas." (Machado de Assis).

sexta-feira, 5 de junho de 2009

CRÍTICA LITERÁRIA



CRÍTICA LITERÁRIA
Por "crítica literária" pode-se entender a produção de um discurso acerca de um texto literário individual ou da obra global de um autor, independentemente da situação de comunicação que desencadeia e/ou particulariza esse discurso. Este entendimento da noção de "crítica literária" permite conjugar quatro vectores fundamentais. Em primeiro lugar, e na linha construtivista de autores como René Wellek (veja-se sobretudo R. Wellek, 1963 e 1981) e J. W. Atkins (veja-se Atkins 1934), salvaguarda a possibilidade de se identificar uma narrativa interna da crítica literária que, desde a Antiguidade até aos nossos dias, se orientou para a visibilidade relevante do crítico enquanto protagonista de um comentário acerca de textos considerados artísticos. Em segundo lugar, e na linha de autores como Northrop Frye (veja-se sobretudo N. Frye, 1970), aquele entendimento não desvincula a situação de ensino da literatura do exercício da crítica literária. Em terceiro lugar, afasta a noção de crítica literária da disputa estéril (desconstrucionista vs. Formalista) acerca do seu estatuto de "arte" ou de "ciência". Em quarto lugar, permite contemplar realidades no exercício moderno da crítica literária como as que decorrem do protagonismo assumido pelo crítico nos meios de comunicação, e que, no essencial, assentam em convicções como a de Albert Thibaudet quando assegurava que «a crítica tal como a conhecemos e praticamos é um produto do século XIX» (ª Thibaudet, 1930: 7).
A crítica literária tem um papel relevante na dinâmica interna de qualquer cultura nacional, na medida em que é por ela que se articula o diálogo entre as propriedades das obras e as exigências literárias de um determinado período. É através das apreciações críticas que melhor se pode discernir os dispositivos de recepção e as configurações de valor estético em jogo numa determinada situação histórico-literária. Esta irrecusável historicidade da crítica torna-a um dos instrumentos mais vivos de que se pode dispor para compreender as tensões actuantes num tempo político, num lugar social e numa tradição cultural.
Dependente como está dos quadros de referência, de conhecimento e de experiência do próprio crítico, a crítica literária está condenada à interpretação e, consequentemente, nunca pode ser neutra nem inocente. Mesmo as pretensas virtudes de uma crítica académica fundada em critérios de cientificidade e/ou articulada por uma linguagem universalizante e objectiva estão hoje em dia despidas de credibilidade, tanto teórica como prática. Porque invariavelmente se confunde o que é científico com algo que é meramente tecnológico, misturando nesse processo rigor com tecnicidade, essas virtudes são meras ilusões que só encontram eco numa outra piedosa ilusão: a de uma epistemologia inocente da investigação universitária.
Porque não é inocente o seu olhar, o crítico literário, seja qual for o plano institucional em que se coloque (académico ou jornalístico) relaciona-se com a literatura, sobretudo com aquela que é sua contemporânea, através de um certo grau de cegueira, como bem observou Paul de Man (P. de Man, 1971), ou através de uma espécie de cegueira interessada que leva o crítico a unicamente ver aquilo que quer ou pode ver. No domínio da crítica literária, faz plenamente sentido a afirmação de M. Merlau-Ponty de que "só encontramos nos textos aquilo que colocamos neles" (1962: viii). Esta é uma realidade inexorável, embora de aceitação difícil quando somos (e nos sentimos) actores culturais coetâneos de uma qualquer prática crítica. No entanto, é ela que agencia a heterogeneidade litigante do conhecimento, e com ela o pulsar agonístico por que uma cultura nacional vive internamente cada um dos seus tempos próprios numa intensa conversação entre diferentes comunidades interpretativas, recorrendo ao conceito de Stanley Fish (S. Fish, 1980), isto é, entre diferentes crenças, diferentes interesses ideológicos, políticos, sociais, sexuais, estéticos; em suma, entre diferentes feixes de estratégias e de normas culturalmente institucionalizadas que coexistem numa relação reciprocamente definidora.
Ao actuar em sinédoque no interior de um quadro literário nacional, o crítico literário torna-se o protagonista mais visível de uma comunidade interpretativa que nele se reconhece por oposição a outros olhares (outras sinédoques) de outros críticos (outras comunidades). Neste sentido, os discursos de todos esses críticos, quando vistos na sua relação contraditória, tornam-se uma espécie de erros necessários que, por si mesmos, não traçam o perfil de uma época. Contudo, na medida em que não emergem de indivíduos isolados, embora por eles se revelem, mas de um ponto de vista público e convencional, esses erros contribuem decididamente para a configuração do perfil de verdade de uma época, pois, na sua contingência, representam (reforçam) horizontes intersubjectivos de crenças e de valores actuantes no seio de uma sociedade. É por isso que os conflitos mais ou menos apaixonados que ciclicamente surgem no seio da comunidade literária (portuguesa ou qualquer outra) ultrapassam em muito as questões consideradas especificamente artísticas, incorporando no debate, de um modo mais ou menos explícito, argumentos (isto é, crenças e valores) de carácter ideológico, político, filosófico ou religioso.
A importância de que a literatura ainda se reveste nos nossos dias decorre do facto de que ela, através da sua capacidade intrínseca de representação, continua a conter em si as possibilidades de um conhecimento insubstituível do homem e do mundo. Nada existe no mundo que a literatura não possa exprimir. Por outro lado, é ainda através da literatura que melhor podemos ter acesso à experiência de vida de uma época ou à interioridade do seu tempo social e cultural.
Esta dimensão fascinante do literário impõe a prioridade inescapável da vinculação do texto a uma realidade que, ao lhe preexistir, estabelece as condições de inteligibilidade solidária através da qual o texto literário oferece o seu dizer no seio de uma cultura. E é exactamente por essa mesma dimensão que o gesto crítico também ganha relevo intelectual e significado cultural. Ao se constituir inevitavelmente em interpretação de um texto literário, a crítica outra coisa não faz que reconhecer a construção e a permanência da literatura como interpretação (interpelação) de estratos do conflito humano nela representado. Cada uma nutre-se da interpretação da outra num diálogo intelectual nem sempre pacífico, mas inexoravelmente dinâmico e activo, ou tão dinâmico e tão activo quanto as circunstâncias culturais e históricas o permitem ou exigem. Em suma, pode-se afirmar que é pelo cruzamento da literatura com a crítica, numa representatividade mútua feita de encontros e desencontros com a verdade de cada uma delas, que a vivacidade do rosto de uma época se torna mais nítida nos seus contornos culturais.
ÁANÁLISE; EXEGESE; HERMENÊUTICA; POÉTICA
BIB.: Albert Thibaudet: Phisiologie de la Critique, Paris: Nouvelle Revue Critique, 1930; J. W. Atkins: Literary Criticism in Antiquity (2 vols.), London, 1934; Maurice Merlau-Ponty: Phenomenology of Perception, London, 1962; Northrop Frye: The Stubborn Structure, London, 1970; Paul de Man: Blindness and Insight. Essays in the Rhetoric of Contemporary Criticism, Minneapolis, 1971; René Wellek: (a) "The Term and Concept of Literary Criticism", in Concepts of Criticism, New Haven, 1963; (b) "Literary Criticism --A Historical Perspective", in What is Criticism, Paul Hernadi (org.), Bloomington, 1981; Stanley Fish: Is There a Text in This Class? The Authority of Interpretative Communities, Cambridge (Mass.), 1980.
Manuel Frias Martins